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UM SONHO LÁ NO ALTO
  Em todo o país a natureza encarregou-se de recortar para os olhos do Homem a beleza caprichosa de uma paisagem ora amena ou agreste, ora tímida e impetuosa. A Província do Niassa parece ser a síntese desta explosão da natureza, onde as forças telúricas desenharam nos momentos cruciais da criação um rosto inconfundível.
  Atravessado por auríferos rios de leito estreito mas caudaloso correndo por entre montanhas rochosas mas normalmente bastante arborizadas, o Niassa é uma espécie de cadinho onde se mistura a riqueza singular do seu solo e subsolo.com a majestosa dignidade da sua geografia humana.
  Para quem sobe estas montanhas que emolduram quase toda a Província vindo do Sul ou do litoral distante de Cabo Delgado, há algo de surpreendentemente belo que o espera ao chegar aos limites nacionais deste território. Deslumbrante, depara-se aos olhos do caminhante um mar nunca imaginado, um mar de águas doces, bonançoso, e que só nos dias de tempestade perde o azul do céu transformando-se na cor da lama do início do mundo.
   É o lago Niassa, espantoso mar interior que faz fronteira entre Moçambique, Malawi e Tanzânia. Porém, ao contrário de uma fronteira ele é sobretudo um grande caminho de água por onde, milenarmente, homens de toda aquela zona se comunicam e ali vão também ganhar o pão-peixe de cada dia.
  De facto, falar do Niassa é ter nos olhos este lago-mar que chega a ter marés. É sentir nos pés a macieza das suas areias a fazer esquecer as caminhadas difícies pelas montanhas que tocam o céu. Mas falar do Niassa é também referir a grande encruzilhada humana, é falar dos Nianjas, Ajauas e Macuas, povos bantu que para aqui emigraram e fazem agora um caldeamento rico de cultura com as línguas, suas tradições, seus ritos, sua arte.
   Das canoas do lago, cuja técnica de construção se perde na memória-mão da história, ao entrançado fino mas consistente dos carecterísticos cestos cilíndricos de Lichinga e Metangula, há toda uma antropologia cultural a Províncias mais desenvolvidas do país. Ferro, carvão, ouro são alguns dos muitos minerais que estão à espera de uma exploração imediata.
   E tudo isso precisa de homens e mulheres, de jovens trabalhadores. Acontece, porém, que o Niassa é a Província menos povoada do país. Nos seus 119 mil quilómetros quadrados de superfície (não incluindo a superfície do lago) vivem pouco mais de 500 mil pessoas, número este que certamente ficou ainda mais reduzido devido ã guerra que provocou muitos mortos e fugas maciças para os países vizinhos.
   O Niassa é assim um convite cheio de promessas para um povoamento interno, para uma sedentarização urgente de milhares e milhares de pessoas dispostas ao desenvolvimento. Servida por uma linha de caminho de ferro que a liga à Província de Nampula e ao bem situado porto de Nacala, o Niassa tem por isso e para já uma forma de escoamento rápida e barata dos seus produtos tanto para o mercado interno como para todo o mundo.
   O Niassa é, efectivamente, um sonho lá no alto.


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Aqui ainda não há moinho de vento ou o triturador manual para transformar os grãos em farinha. Nesta aldeia do Niassa a alguns quilómetros de Lichinga, é o milenar pilão que resolve esta necessidade alimentar. E, tal como em quase todo o país, onde as tradições da divisão de trabalho entre homens e mulheres se mantêm ainda como há centenas de anos, é a mulher que pila o grão para a farinha da casa. O farelo que sobra, servirá para os galináceos ou mesmo para a produção de uma cerveja tradicional. Da farinha bem pilada fazem-se as papas para as crianças ou a conhecida xima, farinha cozida que serve de prato de base para o molho de couves, carne ou peixe, molho esse que aqui, tal como em todo o país, se chama caril. Com pequenos investimentos e melhorias técnicas, o Niassa poderia ser um grande produtor de cereais.

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A vida no Niassa ocidental está intrinsecamente ligada ao lago. Esta grande massa de água interior que também banha as costas do Malawi e da Tanzânia tem a sorte de não estar poluída e se configurar ainda como nos primórdios da sua formação.
Do lado moçambicano, o lago Niassa é por ora um simples lugar de lazer, uma fonte de água e, economicamente, apenas um espaço útil para a pesca artesanal.
Com poucos meios de transporte marítimos modernos para a população ribeirinha, são ainda as velhas almadias que cumprem a função de transportadores e de pesqueiros.
Desde que se respeite o ecossistema e a des-poluição das suas águas, há todo um processo de desenvolvimento económico que se pode iniciar com sucesso ao longo destas dezenas e dezenas de quilómetros de costa lacustre.
Singularmente bonito e acolhedor, mesmo quando se transforma em oceano furioso nos dias de tempestade, o lago Niassa é bem um sonho lá no alto à espera que mãos e inteligência humanas concretizem esse sonho lindo em bela riqueza colectiva.

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Esta bela mulher do Niassa parece estar a dizer: Quando me visto, visto-me bem. Vou buscar o que mais brilha em mim no sentido da minha beleza. E os meus cordões, estes que vocês estão a ver, uns aqui feitos pela mão dos nossos artistas, outros comprados nas lojas da terra, não são apenas voltas para enfeitar meu pescoço e colorir de desejo o meu peito.
- Estes cordões são também amuletos que me protegem do mau olhado, que me dão mais força e sorte onde quer que seja que eu vá. Com estes amuletos não há mulher ciumenta que me faça mal, mas também não há homem que, se eu quiser, resista aos meus encantos.
- O meu lenço joga com o brilho destes brincos e no meu pulso giram pulseiras de missanga a condizer com estes cordões que trago ao pescoço. Escolhi um vestido florido para conviver com o meu corpo e, assim, tudo em mim fica harmonioso. Estou agora com o meu rosto um tanto sério, mas digam lá: Estou bonita, não estou?!


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Edição de 1994

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