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LIVROS & AUTORES QUE A MOÇAMBIQUE DIZEM RESPEITO
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Ian Michler nasceu e fez os seus estudos na Cidade do Cabo, tem formação de corrector da bolsa, mas
em 1989 abandonou esta profissão para seguir o seu sonho de fazer muitas viagens e viver em contacto
com a natureza. Desde 1990, que vive no Botswana gerindo acampamentos e servindo de guia nos Pântanos
de Okavango, e nos seus tempos livres nada lhe dá mais prazer do que explorar a África Austral e Oriental.
O seu trabalho foi publicado em várias publicações sobre fauna bravia, viagens e turismo e foi o vencedor
na Categoria de Pássaros do concurso 'Agfa' de 1998, 'Wildlife Photografic Awards'. Isto é Moçambique
è a primeira obra completa de lan como escritor e fotógrafo.
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Praias virgens, magníficos bancos de coral, mariscos excelentes e uma atmosfera relaxada são atributos
perenes de Moçambique que muito contribuíram para a sua anterior reputação como um destino turístico
ideal. Este estatuto foi-lhe atribuído durante a década de 60 e inícios da década de 70, quando a África
Austral ainda era uma região de supremacia branca, mas em 1975 Moçambique alcançou a sua independência,
um acontecimento que teve um profundo efeito no crescimento do país e na sua estabilidade. O novo
governo adoptou uma política socialista e tornou-se uma zona de linha da frente na luta mundial contra
o governo de minoria branca do 'apartheid'. Seguiu-se um período de agressão externa e de guerra, que
durou até aos princípios da década de 90, encerrando o capítulo daquilo que se tinha tornado para muitas
famílias sul-africanas, portuguesas e rodesianas, uma peregrinação tradicional à famosa costa moçambicana
e às suas duas maiores cidades, Maputo e Beira. Foi durante estas duas décadas de prolongado conflito
que Moçambique se tornou uma terra esquecida de África, abandonada pêlos turistas e investidores do mundo.
Felizmente para o país e para o seu povo, esse período trágico da guerra e da sua longa e, por vezes,
traumática história chegou ao fim. O país iniciou um período de reconstrução, enveredando pelo caminho
do crescimento económico e do desenvolvimento, assegurando que Moçambique uma vez mais, tornar-se-á um
membro proeminente do continente africano. Hoje, os únicos sinais óbvios do passado são os inúmeros edifícios
em ruínas nas cidades e vilas, bem como as muitas estradas e edifícios que ainda ostentam os nomes de
famosos marxistas e de líderes da libertação. O advento da paz anunciou ao mundo a oportunidade de
redescobrir o esplendor de Moçambique. O país, que tomou o seu nome da Ilha de Moçambique, uma pequena
ilha na costa norte, que, por sua vez, ganhou o seu nome de um sultão árabe Moussa Ben Mbiki, é muito
mais do que apenas praias bonitas e excelente cozinha. Oferece-nos um estudo histórico curioso, uma
diversidade cultural rica, uma paisagem natural espectacular, um dos melhores reinos submarinos do mundo
e um povo que é conhecido pela sua coragem e cordialidade, Possuindo uma mistura exótica de influências
árabes, africanas e europeias. Moçambique fundiu-se numa sociedade de estilo e identidade distintos dotada
de uma atmosfera que não se conhece noutros lugares da África Austral e Oriental. Para quem conhece
o país e os seus numerosos atractivos, a eterna beleza e 'charme' não sofisticado de Moçambique permanecem
uma sedução constante. E para quem o visita pela primeira vez, aguarda-o um rico manancial de descobertas
excitantes e absorventes.
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Uma tentativa de classificação do povo em Moçambique resulta num exercício complexo, inexacto, uma vez
que ao longo da historia, o país sofreu influências externas, resultando numa cultura única e própria.
Embora não seja uma sociedade homogénea, um dos pontos fortes do país é o facto da maioria dos seus cidadãos
não se mostrarem muito preocupados com as divisões culturais étnicas, mas encararem-se como moçambicanos
com direito a praticar os seus costumes. As diversas influências remontam às movimentações dos poderosos
povos bantos no primeiro século D.C., antes dos impérios árabes e indianos implantarem as suas identidades
em Moçambique por volta dos séculos VIII-IX. Provavelmente a interacção de maior influência ocorreu durante
o lngo período de colonização portuguesa (1498- 1975). Embora o seu domínio fosse algo imperdoável,
os portugueses deixaram m legado que misturou a sua língua e estilo de vida com a dos povos africanos,
uma mistura rica que subiste de forma confortável, especialnente no sector mais instruído da sociedade
moçambicana. As relações inter-raciais e, por vezes, os casamentos eram mais comuns do que nas colónias
britânicas, e eram, talvez, o elemento mais harmonioso na ligação entre colonizador e colonizado. Menor
a influência dos chineses, alemães e ingleses no último século. Mais recentemente, a experiência do
marxismo pô-lo em contacto com ideias e sistemas do mundo comunista. Até mesmo a guerra teve um efeito
perdurador na cultura do país, uma vez que quebrou e destruiu muitas das comunidades rurais e os refugiados
que regressam do exílio trazem consigo as heranças dos seus locais provisórios de acolhimento. Como resultado,
as definições tradicionais tornaram-se difusas e, em alguns casos, perdidas com os efeitos combinados
das conquistas históricas e das deslocações do povo moçambicano. Hoje, as divisões existentes são baseadas
em variações linguísticas, condições geográficas e definições mais contemporâneas de alianças políticas
e estrutura de classes. Moçambique tem uma população de mais de 16 milhões de habitantes, predominantemente
composta por dez grupos étnicos, alguns dos quais com subdivisões culturais. O povo macua das províncias
do norte é o maior grupo, formando aproximadamente 40% da população, seguido dos tsongas ao sul, cerca
de 25% da população. Os chopes, shonas, senas, nyanjas e nyungues das províncias do centro são grupos
mais pequenos que perfazem, no conjunto, 25% da as população. Os chuabos, yaos, ndaus e makondes perfazem
o restante. Os rongas à volta de Maputo, os shanganes em todo o sul e os tsuas de Inhambane são todos
subdivisões do grupo tsonga. Os manicas são um grupo disperso mais pequeno que se localiza no distrito
da Beira, bem como os tawaras à volta de Cahora Bassa e os ngonis no extremo ocidental do Niassa. As
províncias de Nampula, Zambézia e Maputo têm as mais altas densidades populacionais, enquanto que o Niassa
e Tete, as mais baixas. Uma pequena percentagem da população consiste de grupos minoritários dos quais
os portugueses constituem o maior, sendo os outros, os indianos e os chineses, que de um modo geral,
vivem nas cidades de Maputo, Beira, Quelimane e Nampula. Os moçambicanos sentem-se orgulhosos das
suas raízes. Os macondes, das regiões a norte do país, ainda dançam com vestes muito coloridas e máscaras
e fazem tatuagens, como sempre fizeram, embora esta arte tradicional de tatuar a cara e o corpo esteja
a desaparecer. As mulheres macuas das regiões costeiras do norte continuam a pintar os seus rostos com
uma pasta feita do extracto de uma raíz que, em conjunto com as suas capulanas multi-coloridas, apresentam
uma estética atraente. Ainda hoje, qualquer motivo serve para os chopes da província de Inhambane e os
senas das províncias de Sofala e Manica reunirem um grupo de marimbeiros, muitas vezes envolvendo toda
a aldeia, numa noite de canto e dança. Costumes rurais tais como olaria, tecelagem, e fermentação
de bebidas, casamentos rituais e ritos de iniciação são tradições que se mantêm por todo o país. Os médicos
tradicionais, ou curandeiros, continuam a ter grande influência e a ser altamente respeitados na comunidade,
papel que aumentou durante os anos da guerra quando muitos líderes locais foram forçados a fugir por
razões de segurança.
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TETE E BARRAGEM DE CAHORA BASSA
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O aspecto mais significativo da província de Tete é o de aí ficar a terceira maior estação de energia
hidroeléctrica de África e a Barragem de Cahora Bassa no rio Zambeze. Construída por um consórcio com
financiamento e técnicos sul-africanos, portugueses e europeus, o projecto sempre suscitou uma certa
controvérsia uma vez que determinados quadrantes se interrogavam sobre quem iria beneficiar do esquema
e a que custo para Moçambique. Estas questões atingiram o seu auge quando Moçambique conquistou a independência
e o governo da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) recusou a responsabilidade pelo capital e
custos de manutenção do empreendimento. Actualmente, o governo português é responsável por concluir os
pagamentos do projecto, depois do que Cahora Bassa passará a ser propriedade moçambicana. Embora
os cinco geradores da estação tenham um potencial de 4.000 megawats, suficiente para fornecer todas as
necessidades de Moçambique e parte da África do Sul e Zimbabwe, nunca se atingiu nada parecido com a
capacidade total e de momento apenas fornecem energia aos distritos do Songo e Tete. Contudo, está planeado
ter a estação a operar numa base lucrativa no ano 2000. A construção do projecto começou em 1969 e
só em 1974 é que a barragem começou a encher, criando um enorme lago com 270km de comprimento (do Songo
à cidade fronteiriça de Zumbo) e 140m de profundidade. No desenrolar do processo, Cahora Bassa adquiriu
a sua própria 'cidade perdida' e com ela histórias de ricos depósitos de prata debaixo da superfície
tremeluzente da barragem. A cidade administrativa de Chicoa ficou submersa pelas águas, tendo o governo
que evacuar os seus habitantes para zonas mais altas. A parede da barragem, de 171 m de altura, retêm
mais de 52.000 milhões de metros cúbicos de água que cobrem uma área de2.660km2. A barragem pode não
estar a cumprir a sua função principal, de momento, mas está a proporcionar chão fértil para uma florescente
indústria de pesca da capenta. O que era conhecido como as sardinhas do Lago Tanganhica (Limnothrissa
miodon) deslocou-se para a barragem pelo rio Zambeze provenientes do Lago Kariba no Zimbabwe. A indústria
da capenta é relativamente nova, 1994, mas desde então tornou-se numa fonte importante de rendimento,
dando emprego a cerca de 2.000 pescadores. As dezenas de baías e reentrâncias da zona conhecida como
Chicoa servem de base ás operações de terra das várias empresas. O pôr-de-sol anuncia a chegada dos
muitos barcos de capenta que operam nas águas da barragem. Com a ajuda de fortes luzes, a capenta é apanhada
à noite em grandes redes circulares mergulhadas até 30m de profundidade. Numa noite, um barco pode apanhar
três toneladas de peixe. O produto salgado e seco, é embalado em sacos de 25 quilos e vendido nos mercados
de Moçambique, Zâmbia, Malawi e Zimbabwe. Hoje dois pequenos acampamentos oferecem excursões de pesca
e observação de pássaros. O 'Ugezi Tiger Lodge', a curta distância da barragem, oferece oportunidades
de pesca ã sombra dos imponentes rochedos que formam a Garganta do Zambeze. O 'Camanga Resort', num ambiente
mais calmo, acima da garganta, no local onde a albufeira é mais larga, a pesca de peixe tigre, sargo
e 'chessa' nas margens tranquilas é uma forma agradável de se passar o tempo. Nos próximos anos, Cahora
Bassa vai crescer por forma a comparar-se com alguns dos principais locais de pesca de água doce na África
Austral. Aqui pode seguir-se o voo preguiçoso de uma das muitas águias ou das garças cinzentas, ou simplesemente
observar as distantes serranias. Como muitos dos tesouros naturais de Moçambique, a sensação de total
solidão e tranquilidade são o principal atractivo. A poeirenta cidade de Tete abre-se ao rio Zambeze
a cerca de 120km a jusante da barragem, onde as planícies permitem que o rio se alargue e se torne mais
vagaroso ao passar por Tete, dando uma falsa ideia da sua força. Isto bem pode ter acontecido a David
Livingstone há 140 anos quando daqui lançou, rio acima, duas expedições sem sucesso numa tentativa de
conquistar as águas dos 'Quebrabasa Rapids'. Devido à sua posição estratégica, equidistante das fronteiras
do Malawi e Zimbabwe, e sendo o único ponto seguro em Moçambique para atravessar o rio, Tete tem um ambiente
de azáfama com um fluxo constante de tráfego a atravessá-la. Durante os anos de guerra a estrada do Malawi
para o Zimbabwe através de Tete era uma das poucas a funcionar embora, muitas vezes, o tráfego tivesse
de ser feito em coluna militar. Trinta quilómetros a norte e seguindo a margem sul do Zambeze, chega-se
ao agradável local onde se encontra missão jesuíta de Boroma. Construída em 1890, a velha igreja e a
missão adjacente são agora utilizadas pelas autoridades locais como um centro educacional.
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ALGUMAS FOTOS DAS MAIS DE 2 CENTENAS CONTIDAS NO LIVRO
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Edição em Português de 1999
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