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quistas, e então prosseguir energicamente na exploração eco- nómica. A principal ideia seria a utilidade
para Portugal; o conceito de missão podia ser deixado para os teóricos e após- tolos. Enes tinha
ideias claras acerca do papel a desempenhar pêlos Africanos: tinham que ser orientados para os objectivos
portugueses. "Se não aprendermos a fazer trabalhar o preto, se não tirarmos proveito do seu trabalho,
dentro de pouco tempo seremos obrigados a abandonar a África a alguém que seja menos sentimental
e mais prático do que nós*." A pedra angular da estrutura administrativa era o governa- dor-geral,
que ao princípio exercia o poder da capital de Moçambi- que no Norte e, mais tarde, de Lourenço Marques,
no Sul. Abaixo do governador-geral estavam os vários governadores de pro- víncia; seguiam-se os
intendentes de distrito, que dirigiam e fisca- lizavam os administradores de circunscrição; estes,
por sua vez, tinham por dever superintender no trabalho dos chefes de posto, cada um dos
quais controlava a vida quotidiana de milhares de africanos. Para facilitar o trabalho dos adminis-
tradores e dos chefes de posto, o Governo Português reesta- beleceu uma limitada autoridade tradicional
dalguns chefes africanos. Mas, a fim de que nenhum destes pudesse adquirir poder suficiente para
desafiar o homem branco, o Governo Português dividiu os vários regulados em pequenos territórios com
poucos milhares de habitantes. Todos os chefes africanos eram directamente responsáveis perante
o administrador de circunscrição ou chefe de posto. Acrescia a tudo isto o facto de o poder do
chefe não provir mais dum conceito de legiti- midade dentro "da sociedade tradicional, mas sim do
conceito arbitrário da lei portuguesa. O chefe já não era o orientador da sua comunidade, mas o
representante duma autoridade colo- nial hierárquica dentro dessa comunidade. Os antigos laços entre
as várias comunidades africanas foram cortados e substi- tuídos pelo poder dos Portugueses.
* James Duffy, op. cit.
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Tendo estabelecido completo controle político e admi- nistrativo, tendo entregado à Igreja
Católica a responsabilidade pela "pacificação" espiritual do povo, o Governo Português procedeu
à distribuição dos recursos naturais do país aos vários sectores económicos interessados que estavam
a tentar explo- rá-los. Esses recursos naturais abrangiam terras cultiváveis; os portos naturais
da Beira, Lourenço Marques e Nampula; os cinco maiores rios da África oriental, que têm todos os seus
estuários em Moçambique; toda a espécie de madeiras, plantas da borracha, palmeiras, animais selvagens
para pelaria e chifres; pescarias, e, acima de tudo, uma grande força de trabalho. O Governo
Português entregou grandes terras a com- panhias estrangeiras, que não só adquiriram direitos sobre
os recursos naturais, mas tinham também o direito de controlar directamente as vidas de todos
os africanos que viviam nessas áreas. Consequentemente, vastos territórios das zonas central e
norte de Moçambique acharam-se, dentro de pouco tempo, com uma justaposição de governos: a autoridade
colonial portuguesa, representada pelos governadores, administradores e chefes de posto; e as companhias
concessionárias locais, que tinham amplos direitos de forçar todos os homens válidos, e por vezes
mulheres e crianças também, a trabalhar nas suas plantações, mediante um pagamento nominal.
Ao princípio havia três grandes companhias: a de Moçam- bique, a do Niassa e a da Zambézia. Todas
tinham as bênçãos e estímulos do Governo Português, e as duas primeiras tinham contrato de concessão.
Cada uma dispunha duma enorme porção de território, dentro do qual podia extrair e explorar os
recursos minerais e agrícolas e estabelecer as necessárias vias de comunicação. Na área que lhe
era atribuída, cada com- panhia tinha o monopólio do comércio, exploração de minas, construção,
serviços postais e direito de transferir propriedade. Tinha também direito exclusivo de lançar impostos,
e nisto se fundamentava o seu poder sobre as populações locais e o seu meio de obter mão-de-obra.
De facto, o capital destas companhias, em parte português, mas em grande parte estran-
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geiro, era muito pequeno em relação às áreas concedidas, o que demonstrava que a finalidade era
a exploração, e não o desenvolvimento, e que não se tomava a sério qualquer provisão para a construção
de hospitais ou escolas, ou qualquer iniciativa para o bem-estar da população, se é que se chegava
a for- mular alguma. A Companhia de Moçambique recebeu 62000 milhas
quadradas no distrito de Manica e Sofala; a Companhia do Niassa ficou com a vasta área a norte do
rio Lúrio; e à Com- panhia da Zambézia foi dada a rica região de Quelimane e Tete, embora neste
caso sem direitos administrativos. Na realidade, foi esta companhia a que mais prosperou, enquanto
as outras viam, no fim de contas, na tarefa administrativa, executada sem competência e orientada
principalmente para os interesses próprios, um fardo pesado. As companhias não davam os grandes
lucros previstos, mas estabeleciam um padrão para o futuro; utilização da concessão em grande escala,
cooperação entre as companhias e administração com os mesmos fins - lucro para as companhias e
submissão das populações locais. Ao mesmo tempo, uma quantidade de pequenas com- panhias -
a maior parte das quais total, ou parcialmente, de propriedade estrangeira- entraram em cena
para construir os portos e os caminhos de ferro e fazer a prospecção de minerais no Sul. Mas, embora
estas actividades transformassem a face da colónia, os efeitos não iam muito longe. De novo, os lucros
esperados não se tornaram realidade, e o grande capital inter- nacional perdeu o interesse. Os imensos
recursos minerais de Moçambique não tinham ainda sido descobertos, e a vizinha África do Sul,
com a sua abundância de ouro e outros metais, era uma proposta bem mais atraente. A principal
fonte de lucro continuava a ser a terra. No tempo da expansão portuguesa, quase toda a terra em Moçam-
bique pertencia às diversas populações africanas que viviam na região, com algumas excepções, especialmente
no vale do Zambeze, onde a terra já tinha sido expropriada pelos prazeiros. No fim dos anos noventa,
as três grandes companhias levaram
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