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A Reforma pode ter enfraquecido a utilidade da Igreja como aliado político em assuntos internacionais,
mas a nível local a Igreja continuou a ser uma grande força e foi recom- pensada do seu trabalho
com concessões de terra que eram administradas como qualquer propriedade secular. Foi durante
os séculos XVII e XVIII que se introduziu em Moçambique o sistema dos prazos. Prazeiros eram os
colonos e proprietários portugueses e goeses que, lembrando os senhores feudais europeus, dominavam
os africanos que tinham a des- graça de lhes cair sob a alçada. A sorte destes africanos era pior
do que a dos escravos. Os prazeiros controlavam muitas vezes distritos inteiros a seu bel-prazer,
tendo por lei a sua própria vontade e pagando a vassalagem ao rei de Portugal só de vez em quando.
Missionários dominicanos: e jesuítas também pos- suíam vastas terras, administrando-as como qualquer
prazeiro, cobrando impostos por cabeça e, logo que a escravatura se tornou rendosa, negociando
em escravos. As grandes com- panhias, como a do Niassa e a de Manica e Sofala, desenvol- veram-se
a partir do sistema dos prazos. O sistema das com- panhias concessionárias portuguesas, que estereotipam
as principais empresas económicas do colonialismo português, foi provavelmente buscar as suas
subtilezas ao sistema dos prazos deste período. A corrupção no sistema dos prazos era tão
descarada que, pela terceira década do século XIX, o próprio Governo Português se sentiu obrigado
a condená-lo. O desprezo por pessoas e propriedades era notório, e os senhores feudais negreiros
levavam um número exorbitante de africanos para fora. Muitas destas actividades na África oriental
foram apare- cendo primeiro ao longo da faixa costeira, abrangendo contactos com os Árabes e
os Swahilis, e só muito superficialmente contactos com a grande massa de gente de língua banta do
que é hoje a África oriental e Moçambique. Mas é a partir da proverbial corrida à África, começada
na segunda metade do século XIX, que devemos datar o inicio da conquista portuguesa do actual Moçambique.
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Depois da divisão da África na Conferência de Berlim, em 1884-1885, Portugal teve de capturar
e controlar os terri- tórios que lhe haviam sido atribuídos. Para este fim, os Portu- gueses utilizaram
todos os meios conhecidos na história da conquista colonial. Onde isso foi possível, recorreu-se
à infil- tração feita por mercadores portugueses, que se disfarçavam de simples homens de negócios
interessados na troca de mer- cadorias entre iguais; mas, subsequentemente, tendo espiado e feito
levantamentos duma região, enviavam depois forças militares para destruir qualquer resistência dos
chefes locais. Por vezes os Portugueses serviram-se de colonos brancos, que fingiam ter necessidade
de terras para cultivar, mas que, após terem sido atendidos pêlos chefes nativos tradicionais, reclamavam
a posse das terras comunais e passavam a escra- vizar os seus hospedeiros africanos. Algumas vezes
até missio- nários portugueses foram utilizados como "pacificadores" dos nativos, oferecendo a
fé cristã como canção de embalar, en- quanto as forças militares portuguesas ocupavam a terra e
controlavam o povo. Onde a autoridade tradicional era forte, onde a máquina militar era adequada,
oferecendo séria resistência à conquista europeia, os Portugueses eram mais cautelosos, servindo-se
de meios de contacto inicial mais afáveis. Para iniciar contactos com estados africanos fortes,
estavam sempre dispostos a esta- belecer relações diplomáticas, enviando "embaixadores" portu- gueses
às cortes dos chefes tradicionais mais importantes. E depois de terem auscultado suficientemente
as forças e as fraquezas do governo, procediam ao ataque, servindo-se das habituais desculpas
de "provocações" ou de "protecção dos colonos ou missionários brancos". Assim foi justificada
a guerra contra Gaza, último dos impérios tradicionais de Moçambique, iniciada em 1895, ter- minou
três anos mais tarde com a morte em combate do general Magigwane e a captura e deportação do imperador
Gungunhana para Portugal, onde veio a morrer alguns anos mais tarde. Nos princípios do século
XX, os Portugueses começaram a
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organizar o seu sistema de administração, embora só nos anos vinte se encontrasse esmagada a resistência
armada em todas as áreas do território. Os homens encarregados desta campanha de pacificação
estabeleceram o modelo para a futura política colonial, for- mando, no alvorecer da conquista,
um sistema de administração que pouco tem mudado. Durante o século anterior, a política colonial
teórica tinha flutuado ao sabor das vicissitudes políticas, mas essas flutuações tinham pouca importância
nas colónias, visto o controle português se exercer apenas na periferia. Um liberal como
Sá da Bandeira podia fazer leis contra a escra- vatura e delinear princípios mais humanitários; mas
não tinha, nem a podia criar, a máquina para pôr em execução as suas directivas. Só no período
entre 1890 e 1900 foi possível ao Governo Português ter suficiente poder em África para desen-
volver uma política colonial com alguns efeitos práticos. António Enes foi o mais influente daqueles
que orientaram a pacificação. Comissário régio de Moçambique de 1894 a 1895, encontrava-se rodeado
por um grupo de militares, muitos dos quais o seguiram na carreira da administração. Entre estes encontrava-se
Mouzinho de Albuquerque, festejado em Lisboa como herói colonial pela sua campanha contra o Gungunhana
e que sucedeu a António Enes como comissário régio; escreveu um livro sobre a colónia recém-dominada,
Moçambique, 1899; e Eduardo Ferreira da Costa, governador de Moçambique em 1896, governador-geral
de Angola em 1906 e autor de "Estudos sobre a Administração Civil das Províncias Ultramarinas,
onde estabelece os princípios gerais da futura administração colonial. Estes homens eram todos
formados em moldes militares, portugueses patriotas dedicados, com pouco tempo para as considerações
mais largas dos liberais. Reagiram com indignação às humilhações impostas a Portugal pelas outras
potências colo- niais. A atitude de António Enes foi firme e prática: as colónias tinham que se
tornar úteis, dando a Portugal lucro e prestígio. Tudo isto significava que era preciso completar
a conquista, estabelecer um sistema administrativo para consolidar as con-
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