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Colonização - A tradição
Quando os brancos vieram para
a nossa terra nós tínhamos a terra e eles tinham a bíblia;
agora nós temos a bíblia e eles têm a terra (Provérbio africano)
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Os Portugueses reclamam o direito de controle das regiões da África conhecidas por Angola, Moçambique,
Guiné-Bissau, ilhas de Cabo Verde e ilhas de S. Tomé e Príncipe. Estas colónias são praticamente
o que resta do império estabelecido pêlos Portugueses nos séculos XVI, XVII,XVIII e XIX. Angola
cobre a maior destas áreas, mas Moçambique tem a maior população(cerca de 8 milhões, embora as
estatísticas oficiais refiram cerca de 7 milhões). Os contactos entre Portugal e o que é
agora conhecido por Moçambique começaram pelos fins do século XV, quando Vasco da Gama, célebre
navegador português, chegou à ilha de Moçambique, nos princípios de Março de 1498. Visto que
o principal interesse dos reis portugueses que promoviam estas expedições era abrir uma rota para
a ĺndia, mais segura do que a perigosa rota terrestre do Médio Oriente, os Portu- gueses contentaram-se
durante muitos anos com os postos de abastecimento que estabeleceram ao longo da costa africana,
e deixaram intacto o interior. Os Portugueses apregoam agora que estiveram em Moçambique durante
mais de 450 anos, querendo dizer que durante todo esse tempo controlaram politi- camente o país.
Se há nisso alguma verdade, esta reside no facto de, pouco depois dos primeiros contactos com as
populações
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das zonas costeiras da África oriental, os Portugueses, invejando a riqueza e o poder dos árabes que
dominavam a região, terem organizado forcas de combate conforme puderam, para conquis- tarem uma
posição de controle. Servindo-se das rivalidades existentes entre os vários chefes e xeques de cidades
como Pate, Melinde, Quíloa, Zanzibar, Moçambique e Sofala, céle- bres pela sua "prosperidade e
elegância", conseguiram final- mente o monopólio do então riquíssimo comércio do marfim, do ouro
e das pedras preciosas. Nas cidades-estados, o desenvolvimento político estava muito atrasado
em relação com o progresso material e cultural. Segundo o Prof. James Duffy: "A unidade política era
um fardo transitório. Cada príncipe local defendia a independência polí- tica e comercial, e não
existia nenhuma nação africana oriental, embora as cidades mais fortes dominassem por vezes os seus
vizinhos mais fracos*." Todavia, mesmo explorando estas situações, os Portugueses nunca conseguiram
impor um controle político duradouro, ex- cepto numa faixa de território que se estende entre Cabo
Delgado e a cidade-estado de Sofala. Cerca de 1700, um ressurgimento da influência islâmica nessas
regiões africanas determinou que os soldados e mercadores portugueses fossem expulsos de dezenas de
cidades onde tinham exercido controle intermitente. A partir do princípio do século XVIII,
os Portugueses concentraram os seus esforços na conquista do controle da riquíssima zona de
comércio entre Cabo Delgado e a bacia do Zambeze, numa tentativa de capturar o fluxo do ouro das
então famosas minas de ouro do Monomotapa, que eles julgavam serem as proverbiais "minas do rei Salomão".
Nesta ocasião, as suas actividades afectaram uma área que abrangia o que é hoje a Zâmbia e o Zimbabwe
ou a Rodésia do Sul. A capital do império do Monomotapa era situada na Masho- nalândia e fazia
parte da então confederação de Makalanga. Durante duzentos anos, os Portugueses foram assim capazes
* James Duffy, Portugal in Africa, Penguin, 1962, p. 75.
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de obter muita riqueza a partir do controle que exerciam sobre o fluxo de comércio proveniente
do interior em direcção às cidades-estados da região costeira e ao exterior. Durante os séculos
XVII e XVIII, a autoridade portuguesa estava firmemente estabelecida nas zonas norte e centro de
Moçambique, de modo que lhes foi possível introduzir missionários católicos, primeiro dominicanos
e depois jesuítas, que trouxeram a cris- tandade para a África oriental. Mas o possível sucesso deste
primeiro esforço missionário foi quase completamente des- truído, no século XVIII, pelos efeitos
da corrupção resultante da aliança entre a Igreja e o Estado em actividades comerciais, religiosas
e políticas. Esta aliança entre a Igreja, o Estado e os interesses comerciais data
dos primeiros tempos da expansão colonial. Em 1905, o rei D. Manuel deu ordem para que os mercadores
árabes de Sofala fossem feitos escravos, "porque são inimigos da nossa Fé Católica e estamos em contínua
guerra com eles". A verdadeira razão era a competição comercial, como está claramente expresso
numa carta de Duarte de Lemos à Coroa, pedindo urgentemente a morte ou a expulsão dos "respeitáveis
Mouros", e isentando da condenação os Swahilis (embora estes fossem em geral maometanos), "pois que
estes são como animais, e contentam-se com um punhado de milho; nem tão-pouco nos fazem mal, e
podem ser utilizados em qualquer espécie de trabalho, e tratados como escravos"*. A fenda aberta
na Igreja europeia pela Reforma foi claramente um grande abalo para os Portugueses. Marcelo Caetano
queixa-se de que "a re- forma religiosa também conduziu à dissolução do Império, visto que os países
que abandonaram a comunhão católica deixaram de respeitar as bulas pontifícias que, a troco de traba-
lho missionário, entregavam a Portugal as terras recentemente descobertas e concediam-lhes soberania
absoluta"**.
* James Duffy, op. cit. ** Marcelo Caetano, Colonizing Traditions,
Principles and Methods of the Portuguese, Lisboa, 1961.
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