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Introdução Povo de Moçambique - Em nome de todos vós a FRELIMO proclama hoje solenemente
a Insurreição Geral Armada do Povo de Moçambique contra o colonialismo português, com vista à completa
independência de Moçambique (Proclamação feita ao Povo moçambicano pelo Comité Central da FRELIMO
por ocasião da declaração de guerra, a 25 de Setembro de 1964)
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O primeiro combate Província de Cabo Delgado, 25 de Setembro de 1964
Durante as manobras
clandestinas de Setembro, recebi uma chamada urgente de Mueda. Os comandantes operacionais das zonas
de Montepuez, Mocímboa da Praia e Porto Amélia foram convocados. Eu estava presente, e comigo os
outros chefes operacionais. Tínhamos sido chamados para receber instruções do Comité Central sobre
o dia em que devíamos desencadear os nossos ataques às tropas portuguesas. Recebemos esta informação
a 20 de Setembro - a luta devia começar no dia 25. Começámos imediatamente a organizar-nos. Alertámos
o chefe de cada zona (Muidumbe, Mocímboa da Praia, Mon- tepuez, Chai, Mocímboa do Rubum, Nangade,
Diaca) para or- ganizar grupos de sabotadores, cuja tarefa seria sabotar pontes, linhas férreas
e estradas (fazendo valas e colocando barragens de troncos de árvores). Dissemos-lhes que começassem
a trabalhar às 6 da tarde do dia 24. Explicámos-lhes como deviam estabe- lecer piquetes de vigilância
enquanto cada equipe trabalhava. A minha tarefa era dirigir o ataque ao Chai. Outros grupos
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Atacariam outras zonas. De Mueda dirigi-me para a minha zona, onde cheguei a 23 de Setembro. Informei
os meus camaradas do dia do início da luta. Tínhamos dezasseis armas : seis pistolas- -metralhadoras,
seis espingardas e quatro pistolas automáticas. Escolhemos um grupo de doze camaradas e deixámos
ficar algumas armas para defesa da base. Na manhã de 25 chegámos ao posto do Chai. Tirámos as botas
para evitar qualquer ruído, e prosseguimos. No lugar há uma secretaria, a casa do chefe do posto,
a casa do gerente da Sagal (companhia algodoeira), estabelecimentos comerciais, hospital, prisão,
e as residências das polícias indígena e branca. Acampámos próximo do lago do Chai. Dei instruções
a um dos meus camaradas fardado para que se vestisse à civil e fosse fazer um reconhecimento do
lugar. Pus-lhe uma ligadura num pé para que parecesse ferido. Dirigiu-se ao posto mé- dico, onde
se deixou estar um bocado, e seguiu depois para a secretaria. Meteu conversa com um africano, que
inadverti- damente lhe revelou onde dormiam os soldados brancos: por detrás da casa do chefe do
posto; os funcionários administra- tivos dormiam na casa deste; os soldados africanos dormiam na secretaria.
Este moçambicano também disse ao nosso camarada onde estavam as sentinelas (na varanda da secretaria
e da casa do chefe do posto). O guerrilheiro demorou-se um pouco, andou em volta da casa do chefe
do posto e da prisão e voltou para junto da secretaria. Viu sair três camiões e soube que se tratava
duma expedição de caça. Eles iam todos os dias à caça. Todas as noites saía também um camião-patrulha.
O nosso camarada regressou com estas informações. Fiz o plano de ataque. Uma metralhadora neutralizaria
a tropa africana da secretaria. Resolvi concentrar o ataque contra a casa onde estavam o chefe
do posto e os funcionários. Indiquei a cada camarada a sua posição de ataque. Eles ficariam escondidos
debaixo das mangueiras. Às 16 horas saímos; às 18 estávamos a postos, nas nossas posições. Os portugueses
estavam a começar
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a acender as luzes. Às 19 horas avançámos, até que atingimos a casa do chefe do posto. Enquanto
avançávamos, os camiões, que tínhamos visto sair pata a caça, regressaram e colocaram-se entre nós
e a casa. Descarregaram os animais mortos. Vigiávamos o menor movi- mento dos homens. Não podíamos
ser vistos. Depois de descar- regarem o camião, os soldados subiram para ele e partiram na direcção
de Macomia. Os camiões desapareceram - concluímos que tinham ido em serviço de patrulha. Apareceu
um guarda, que se instalou à porta da casa do chefe do posto, sentado numa cadeira. Era branco.
Aproximei-me para o atacar. O meu tiro seria o sinal para os outros camaradas atacarem. O ataque
começou às 21 horas. Quando ouviu os tiros, o chefe do posto abriu a porta e saiu - foi abatido
a tiro. Além deste, outros seis portu- gueses foram mortos no primeiro ataque. A explicação dada
pelas autoridades portuguesas foi: "morte por desastre". Reti- rámo-nos. No dia seguinte fomos perseguidos
por alguns sol- dados- mas nessa altura já estávamos longe, e nunca nos encontraram. Esta
pequena operação, aqui relatada pelas palavras do seu comandante, foi uma das primeiras batalhas
da guerra feita pela Frente de Libertação de Moçambique contra os Portugueses. Desenrolou-se na
província norte, Cabo Delgado, em conjunto com outros recontros coordenados, a 25 de Se- tembro
de 1964, marcando o início da luta armada. Se os acontecimentos seguirem o rumo dos últimos quatro
anos, este dia ficará marcado como uma das datas mais importantes não só da história de Moçambique,
mas da de todo o continente africano. Até agora, relativamente poucas pessoas conheceram e
comentaram a importância de Moçambique. A imprensa mundial e mesmo a imprensa africana raras vezes
se referem a esse território. A "África Portuguesa" tem sido tradicionalmente pouco conhecida:
os Portugueses não viam com bons a vinda de outros estrangeiros e dificultavam qualquer ten-
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