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DOCUMENTOS DO IMPÉRIO


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EDUARDO MONDLANE

1968


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bros secretos para dirigir a mobilização política e preparar
condições para uma futura reabertura desta frente. Pelos fins de
1967, consolidadas as vitórias em Cabo Delgado e no Niassa,
e estando já as nossas forças a dirigir-se para o sul, estavam
criadas as condições para um alargamento da guerra em direcção
a Tete. Finalmente, em Março de 1968, começaram as primeiras
operações militares.
   Esta nova fase da guerra é especialmente importante, pelos
planos militares e económicos que os Portugueses tinham feito
para esta área. Tete é uma região chave de Moçambique:
o grande rio Zambeze  passa pelo centro dessa região; a pro-
víncia possui consideráveis recursos económicos e é atravessada
por importantes vias de comunicação, incluindo a estrada prin-
cipal de Salisbury a Blantyre; num eixo norte-sul, ela atravessa
mais ou menos o centro do país.
   Os Portugueses tinham inicialmente planeado duas linhas
de defesa. A primeira era a de Nacala-Maniamba, que as nossas
tropas romperam quando estenderam as operações para Maca-
nhelas, no extremo sul do Niassa. A segunda linha de defesa é
o rio Zambeze. Há grande concentração de tropas ao longo
do rio e, além disso, os Portugueses planeiam instalar um milhão
de colonos no vale, para constituírem uma barreira às nossas
forças. Assim, do ponto de vista militar, todo o vale do Zambeze
é extremamente importante.
   A área de Tete tem adquirido também considerável impor-
tância como resultado do recente plano de desenvolvimento
ligado com a barragem de Cabora Bassa. Tete tem das terras
mais ricas de Moçambique e a agro-pecuária está razoavel-
mente desenvolvida, em especial a criação de gado. Há im-
portantes jazigos de minerais que até agora foram pouco
explorados. O plano prevê o desenvolvimento de todos estes
recursos, em grande parte pela instalação de colonos ao longo
da linha defensiva. A própria barragem fornecerá energia
para várias indústrias com base nos produtos da região, assim
como água para irrigação dos novos projectos agrícolas. O local
de Cabora Bassa é portanto um dos alvos mais importantes
nesta fase da guerra.
   Esta área é também  crucial no vasto contexto da aliança
sul-africana. Ao sul, Tete fez fronteira com a Rodésia, e assim o
progresso da nossa luta aqui é de grande interesse para as forças
de libertação do Zimbabwe. De mais imediata importância,
porém, é o compromisso da própria África do Sul. Esta está
a assumir grande parte da despesa da construção da barragem
e espera absorver considerável proporção da energia produzida.
Portanto, em Tete estamos a entrar em conflito directo com a
África do Sul, que está tão preocupada com os seus interesses
que já mandou tropas para proteger o local da barragem.
As nossas forças observaram um  batalhão de  soldados sul-
-africanos em Chioco e várias companhias em Chicoa, Mague
e Zumbo.
   O exército sul-africano está extremamente bem equipado
com o mais moderno material do Ocidente e a presença dessas
tropas tornará sem dúvida a luta mais dura. Mas tem-se visto
claramente nos últimos dois anos que os Portugueses desejavam
ansiosamente obter assistência directa da África do Sul e sabía-
mos que, eventualmente, à medida que avançássemos para o sul,
cresceria a ameaça da África do Sul. O facto de já estarmos a
encontrar soldados sul-africanos é um sinal de como a guerra
tem evoluído rapidamente; isto indica a nossa força e a fraqueza
dos Portugueses.
   Além disso, a presença dos sul-africanos não nos impediu
de tomar a ofensiva em Tete. A 8 de Março montámos várias
operações simultâneas: uma emboscada perto da aldeia de
Kassuenda; emboscadas na zona de Furancungo, Fingue e vila
Vasco da Gama; um ataque contra o posto inimigo de Malavela.
Nestas operações foram mortos pelo menos doze soldados
portugueses, incluindo um sargento; e em Malavela foram
destruídas quatro casas, um camião e o depósito da água.

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