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o povo como o peixe na água, eles queriam aquecer a água até cozer o peixe. Desde o inicio
da guerra, em todo o território de Moçam- bique - e não só nas áreas de combate- houve incursões
para cercar os simpatizantes nacionalistas e foram presos mi- lhares de "suspeitos". A maioria destes
eram camponeses e ope- rários manuais, "nativos" segundo a terminologia portuguesa. Não foram julgados
nem condenados, mas presos, interrogados, torturados e, não raras vezes, executados em completo segredo.
Mesmo as famílias não sabem nada de definido: tudo o que sabem é que a pessoa desapareceu.
Entre estes "suspeitos" houve alguns intelectuais, pessoas demasiado conhecidas fora de Moçambique
para desaparecerem sem provocar protestos internacionais. Assim aconteceu com os poetas José Craveirinha
e Rui Nogar; Malangatana Valente, pintor; Luís Bernardo Honwana, contista. As autoridades por- tuguesas
levaram a tribunal estes homens eminentes, tornando públicos os seus processos e tentando dar a impressão
de que procediam contra os nacionalistas e sabotadores, etc., da mesma maneira, legalmente. Mas
mesmo estes julgamentos-espectá- culo não estavam de acordo com os padrões de legalidade estabelecidos
nos países não fascistas. O primeiro destes julgamentos, em Março de 1966, terminou com a absolvição
de nove dos treze acusados, por falta de provas; mas o Governo recusou este veredicto e ordenou novo
julgamento em tribunal militar. Este, agindo por instruções precisas do Governo, condenou os que
tinham sido absolvidos e prolongou as sentenças dos outros quatro. As próprias sentenças não tinham
qualquer sentido, porque incluíam "medidas de segu- rança", o que significa que o fim da sentença
de prisão pode ser prorrogado indefinidamente. Uma delegação de juristas internacionais e os jornalistas
estrangeiros foram proibidos de assistir a este segundo julgamento. Todavia, os Portugueses
conseguiram dalgum modo atingir os seus fins, porque o protesto internacional dirigido especificamente
contra este julgamento e contra a sorte destes
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treze intelectuais contribuiu para desviar a atenção do principal: a muito pior sorte de muitos moçambicanos
obscuros, que não passaram sequer por um simulacro de julgamento, mas foram mortos ou presos em
condições ainda muito piores. Nas zonas de combate a campanha de terror é mais alar- gada e
mais indiscriminada, com represálias dirigidas contra o conjunto da população. E onde a campanha não
chega às aldeias os Portugueses recorrem a ataques aéreos; mas onde os soldados podem atingir o
povo, utilizam formas de terror e tortura pessoais. Estes métodos são bem conhecidos de quem quer
que tenha estudado os métodos dos exércitos fascistas em qualquer parte do Mundo. A extrema
brutalidade, contudo, não tem por vezes o resultado desejado, antes determina o povo na sua hostilidade
contra os Portugueses, e de facto leva-o a actos desesperados de desafio. Esta política não
é só cruel; é tacticamente insensata. O exército da FRELIMO, pelo contrário, é firme e constante-
mente instruído no sentido de atacar somente os objectivos militares e económicos. As declarações
dos militantes indicam bem como eles compreendem esta política:
Joaquim Maquival:
"[...] Nas nossas unidades e nas nossas missões encon- trámos muitas vezes civis portugueses desarmados.
Não lhes fazíamos mal. Perguntávamos-lhes donde vinham; explícávamos- -lhes a nossa luta e os nossos
sofrimentos; recebíamo-los bem. Fazemos assim porque a nossa luta, a nossa guerra, não é contra o
povo português; lutamos contra o Governo Português, contra aqueles que voltam armas contra o povo
moçambicano; estamos em guerra contra aqueles que ferem o povo. [...] Sabemos que não somos explorados
por todo o povo de Portugal, mas apenas por uma minoria que está também a explorar o próprio povo
por- tuguês. Entre os Portugueses também há povo explorado. A FRELIMO não pode combater contra
o povo, não pode combater contra os explorados."
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Miguel Ambrósio Cunumoshuvi (comandante de com- panhia):
"Nunca pensámos em assassinar
civis portugueses; nunca aterrorizámos as populações civis portuguesas, porque sabemos contra quem
e por que combatemos. Por esta razão, nunca planeámos um ataque contra civis portugueses. Se quiséssemos,
podíamos fazê-lo; os civis vivem perto de nós, temos oportu- nidades de o fazer; mas o nosso objectivo,
o nosso alvo, é o exercito, a polícia, a administração. O nosso programa, as nossas ordens,
dizem claramente que não devemos atacar civis, mas só aqueles que estão com o exército, isto é,
aqueles que o acompanham e o servem. Os únicos terroristas em Moçambique são os colonialistas."
Esta política é importante para o futuro, quando chegar o momento de tentarmos formar uma sociedade
capaz de absor- ver os diferentes povos que vivem em Moçambique sem ressen- timento racial; mas
tem também vantagens práticas imediatas. Por exemplo, no princípio da guerra, as autoridades portuguesas
distribuíam armas nos colonatos e aos comerciantes em certas áreas para serem utilizadas contra a
FRELIMO. Esta gente compreendia então que os civis desarmados não seriam maltra- tados, mas que
aqueles que eram portadores de armas seriam tratados como auxiliares do exército; e o resultado era
que muitos civis se recusavam a aceitar armas. O facto de as forças portuguesas não aceitarem esta
atitude levantou por vezes contra elas os próprios civis portugueses: certo dia as forças por- tuguesas
entraram numa aldeia onde sabiam que a FRELIMO tinha passado e, quando viram que os civis portugueses
nada tinham sofrido, acusaram estes de colaboração com a FRELIMO, prenderam e castigaram os seus
próprios colonos.
Tete e a nova ofensiva
Quando as forças militares da FRELIMO saíram
da pro- víncia de Tete, depois da primeira fase da guerra, ficaram mem-
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