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DOCUMENTOS DO IMPÉRIO


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EDUARDO MONDLANE

1968


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teórica da táctica contraguerrilha em cursos concluídos por
exames. Estes cursos são dados por oficiais que passaram por
treino especial teórico e prático. Durante a guerra da Argélia,
vários oficiais portugueses receberam treino de especialistas
franceses em 'guerra subversiva'. Muitos outros oficiais foram
enviados para os Estados Unidos, onde estiveram em cursos
de comandos e fuzileiros e estudaram todas as técnicas usadas
pelos Americanos contra o povo vietnamita."

   Resulta daqui que o exército português opera agora rara-
mente em unidades inferiores a uma companhia, para que,
quando são atacados, mesmo que sofram pesadas baixas, tenham
força numérica suficiente para evitar que os guerrilheiros con-
sigam um dos seus principais objectivos: apreensão de armas e
munições.
   Ainda assim, os Portugueses continuam a sofrer pesadas
baixas quando tentam sair das suas bases e pouco avançam
sobre as forças de guerrilha, que simplesmente se retiram até
ao momento em que podem atacar com vantagem. Os Portu-
gueses passaram cada vez  mais à utilização da arma aérea,
sabendo que não nos é fácil adquirir e transportar o equipamento
pesado necessário para combater os ataques aéreos.
    Assim, têm feito incursões contra bases, aldeias, escolas
clinicas; têm bombardeado  áreas de cultura, e feito tentativas
para destruir a mata que dá abrigo aos nossos guerrilheiros.
As baixas causadas por estas incursões são principalmente das
populações civis, e tem sido dada prioridade à organização
da defesa dos aldeões. Estamos a desenvolver a  nossa força
antiaérea; em Outubro de 1967, um dos três aviões que bom-
bardeavam  Marrupa foi abatido e os outros foram forçados
a retirar.
   Confrontadas com uma série de reveses militares, as auto-
ridades portuguesas têm feito várias experiências de táctica
antiguerrilha paramilítar, misto de terrorismo e guerra psicoló-
gica, com a principal finalidade de persuadir a população a retirar
o seu apoio à FRELIMO. Pelo lado psicológico montaram
em 1966 e 1967 campanhas de propaganda na rádio e fizeram
larga distribuição de folhetos. Estes eram atraentes, impressos
em papel de cores vivas, com textos paralelos em português e
língua africana descrevendo as condições de fome e miséria
das regiões da FRELIMO e a vida próspera e confortável dos
Portugueses. Mostravam grandes cartazes ilustrando estes con-
trastes ou caricaturas da FRELIMO "vivendo bem" no exílio
à custa do resto da população. Nesta propaganda também tenta-
vam explorar as divisões naturais da população acusando a
FRELIMO de apadrinhar as ambições duma tribo contra a
tribo vizinha.
   A distância entre as populações portuguesa e  africana,
porém, diminui muito o efeito destas campanhas; dado o alto
grau de analfabetismo e o baixo nível de vida, os folhetos e a
rádio não atingem  vastos auditórios. Além disso, a falsidade
do seu conteúdo não é difícil de notar; o povo lembra-se bem
de que não havia prosperidade sob o domínio português e
onde a FRELIMO exerce actividade as populações viram que
os seus membros e chefes provêm de diferentes tribos e vários
grupos religiosos. A FRELIMO tem a grande vantagem de
realizar o seu trabalho político por meio de contactos pessoais,
de viva voz, com reuniões, exemplos, persuasivamente empreen-
didos por membros da população. Além  disso, não há qual-
quer tentativa de torcer a verdade com promessas de coisas impos-
síveis: nós admitimos que a guerra pode ser longa; que será
certamente difícil; que não trará prosperidade e felicidade
como por encanto; mas já está a realizar alguns progressos e
é o único modo de eventualmente melhorar a qualidade da vida.
Na mensagem do Comité Central de 25 de Setembro de 1967
ao povo moçambicano declarava-se:

   "[...] Há muitas dificuldades. Os guerrilheiros têm por
vezes de passar dias inteiros sem comer, têm que dormir ao
relento e, às vezes, têm que marchar dias ou mesmo semanas
para fazer um ataque ou uma emboscada... O povo também
sofre nesta fase da luta de libertação, porque o inimigo intensi-
fica a sua repressão para tentar aterrorizar a população e impedi-la
de apoiar os guerrilheiros. Há muitas dificuldades. A batalha
pela liberdade não é fácil. Mas a liberdade que queremos vale
todos esses sacrifícios."

   O trabalho de mobilização é feito essencialmente através
do contacto directo, mas é apoiado pela literatura e pela rádio.
Comunicados e mensagens como a anterior são policopiados
e distribuídos nos acampamentos e durante as reuniões. Circulam
também folhetos policopiados, descrevendo, por exemplo, um
"patrão" explorador a ser expulso pela FRELIMO. Há também
regularmente programas de rádio, emitidos através da Rádio
Tanzânia, que, desde 1967, tem sido suficientemente poderosa
para chegar além da fronteira sul de Moçambique. Nas zonas
libertadas, distribuímos aparelhos de rádio para ajudar o povo
a ouvir estas emissões. Os programas constam de: noticias em
português e em línguas africanas; relatos da luta; mensagens
e esclarecimento político; programas educativos sobre higiene
e saúde pública; canções revolucionárias, música tradicional
e popular.
   Tendo obtido poucos resultados com a propaganda directa,
os Portugueses têm tentado métodos mais complicados. Em
1967, por exemplo, instalaram na província de Tete um fantoche
africano como chefe dum partido "nacionalista" e organizaram
comícios onde ele apareceu ao lado de funcionários portugueses,
afirmando que os Portugueses estavam dispostos a dar pacifi-
camente a independência ao seu partido, mas não aos "bandidos
da FRELIMO". Esta campanha teve inicialmente algum sucesso;
mas, como os esclarecimentos dados por militantes da FRE-
LIMO eram confirmados pela ausência de quaisquer indícios
de boa fé da parte dos Portugueses, o povo foi ficando descrente
e deixou de aparecer nos comícios.
   Confrontados com o fracasso da acção militar e de "per-
suassão", os Portugueses foram recorrendo cada vez mais ao
terror, numa tentativa de amedrontar aqueles que ajudavam
a FRELIMO. Vendo que as forças de libertação viviam entre

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