DO
CU
ME
NT
OS

DO


IM

RIO

DOCUMENTOS DO IMPÉRIO


***************************************************************************************

EDUARDO MONDLANE

1968


***************************************************************************************
cipios de 1967 e quase imediatamente as coisas começaram
a funcionar com maior eficiência; comunicações entre as pro-
víadas e os quartéis-generais estabeleceram-se com maior regu-
laridade; armas e equipamento começaram a chegar mais rapi-
damente às áreas de combate; o recrutamento intensificou-se;
e os planos de novas e mais extensas campanhas contra o inimigo
entraram em fase operacional.
   Numa situação como esta, em que um país está em estado
de guerra e o exército tem inevitavelmente poderes muito
extensos, há a possibilidade de perigo de conflito entre as orga-
nizações civis e militares. Todavia, no nosso sistema, isto é
reduzido ao mínimo pelo facto de que ambos estão enquadrados
no corpo político da FRELIMO, que é constituído por ele-
mentos militares e civis. A relação entre os corpos políticos,
militares e civis não se pode descrever como uma hierarquia
em que um poder está subordinado ao outro. As decisões polí-
ticas têm que ser tomadas pelo corpo político, cujo órgão su-
premo  é o Comité Central. O exército, como os vários departa-
mentos, funciona em conformidade com as decisões do Comité
Central; mas os dirigentes do exército, como membros do
Comité Central, também ajudam a elaborar estas decisões
políticas. As reuniões dos comandos militares, que se realizam
quinzenalmente, são normalmente presididas pelo presidente
ou vice-presidente da FRELIMO, o que assegura e mantém
coordenação íntima nas reuniões do Comité Central entre as
decisões políticas e as militares.
   Localmente, as milícias populares desempenham parte
importante na ligação entre as populações civis e o exército.
Estas milícias são constituídas por membros militantes da popu-
lação civil, que desempenham as suas ocupações normais e,
ao mesmo tempo, embora não incorporados no exército de
guerrilha, empreendem certas tarefas militares. A sua função
principal é a defesa da sua região. Se houver perigo de ataque
das forças portuguesas, podem ser mobilizadas como uma força
armada adicional. Enquanto há combates na região, essas milícias
coordenam a sua actividade com a das forças de guerrilha, refor-
çam-nas quando é necessário e fornecem informação acerca da
própria localidade. Quando os guerrilheiros libertam uma área,
as milícias podem então tomar conta da organização da defesa,
produção e abastecimentos, deixando as forças principais livres
para se moverem em direcção a novas áreas de combate. Em
regiões onde não há ainda uma luta armada activa, formam-se
milícias secretas para preparar o terreno para a guerrilha; para
mobilizar o povo; para observar as forças portuguesas; para
conseguir abastecimentos e assistência aos guerrilheiros à medida
que estes entram na região.
   Num sentido, estas milícias populares são a espinha dorsal
da luta armada. Os guerrilheiros desenvolvem  as principais
ofensivas e a maior parte do combate directo, mas é função
das milícias tornar possível a sua acção.

O desenrolar da luta

    Terminada  a fase inicial da nossa ofensiva e retiradas as
nossas forças para as duas províncias do Norte, seguiu-se
um período de aparente impasse, que durou de 1965 a 1966.
Durante este período, a FRELIMO controlou a maior parte do
terreno e das aldeias da zona do Norte; os Portugueses contro-
lavam as cidades e bastantes bases fortificadas onde estavam
relativamente seguros. As estradas principais eram disputadas,
visto que os Portugueses continuavam  a querer utilizá-las para
o transporte de soldados e mantimentos, enquanto a FRELIMO
as minava e nelas montava emboscadas constantemente.
Os Portugueses eram incapazes de organizar uma ofensiva
eficaz, porque, quando saíam das bases para irem para a mata em
busca das nossas forças, caíam em emboscadas. Por outro lado,
a FRELIMO ainda não tinha força suficiente para lançar ataques
maciços contra as posições portuguesas. Todavia, a FRELIMO
ia sempre aumentando a sua força, consolidando a sua posição
militar e política, treinando novos recrutas e gradualmente
desgastando a força dos Portugueses por meio de pequenas
acções. Pela segunda metade de 1966, tornava-se visível o
poder crescente da FRELIMO e as nossas forças eram já capazes
de começar a atacar as próprias bases dos Portugueses. Entre
Setembro de 1966 e Agosto de 1967 foram atacadas mais de
trinta bases militares portuguesas; e pelo menos mais dez,
nos últimos três meses de 1967. Muitas destas bases ficavam
muito danificadas e algumas eram evacuadas depois dos ataques.
Por exemplo, o posto de Maniamba  (Niassa Ocidental) foi
atacado a 15 de Agosto, e evacuado; foi reocupado, mas de
novo abandonado depois dum segundo ataque em 31 de Agosto;
dez dias depois chegou um forte destacamento de fuzileiros
para o reocupar. A 13 de Setembro foi atacado o posto de Nam-
bude (Cabo Delgado), e os edifícios, três veículos e o equipa-
pento de rádio ficaram destruídos. A base aérea de Mueda,
alvo extremamente importante, e bem defendido pelos Portu-
gueses, foi duas vezes bombardeada e cinco aviões estacionados
ficaram totalmente destruídos.
   Durante o ano de 1967, a área de combate alargou-se em
todas as regiões. Em Cabo Delgado as nossas forças avançaram
para o rio Lurio e cercaram Porto Amélia, a capital, consoli-
dando ao mesmo tempo as suas posições no resto da província,
que está agora quase totalmente nas nossas mãos. No Niassa,
as nossas forças avançaram para a linha de Marrupa-Maula e
aproximam-se das fronteiras das províncias de Moçambique e
da Zambézia. Para sul, ganharam controle da zona Catur,
entre as províncias da Zambézia e Tete; enquanto que, a oci-
dente, criaram as condições necessárias para recomeçar a luta
em Tete e na Zambézia, região muito importante em recursos
agrícolas e minerais.
   Os Portugueses têm procurado melhorar as suas tácticas
de contraguerrilha, e em particular têm tentado aproveitar
da experiência dos seus aliados da NATO: Grã-Bretanha, na
Malásia; Estados Unidos, no Vietname, e França, na Argélia.

   Afonso Henriques do Sacramento relata:

   "Esta instrução é dada aos soldados portugueses na primeira
parte dos seis meses de treino. Os soldados aprendem a base

***************************************************************************************

Image of back.gif Image of eth-hm.gif Image of forward.gif