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cipio, havia ocasiões em que nem tínhamos que comer. Havia momentos de hesitação, mas o trabalho de
educação política tinha-me ensinado como aceitar os sacrifícios e continuar a lutar. O partido
tinha confiança em mim e deu-me responsabi- lidade. Estudei muito. Fui encarregado da educação doutros
camaradas nas unidades. Depois entregaram-me a sabotagem do caminho de ferro de Tete-Maturara e outras
operações. O nosso destacamento era pequeno e tínhamos pouco equipa- mento; o inimigo mandou um
batalhão inteiro para nos destruir, mas não o conseguiu. Atacavam-nos, mas sofriam sempre gran- des
baixas. Uma vez cercaram-nos e nós só tínhamos cinco balas entre nós todos. Dispararam sobre nós,
mas tínhamo-nos abri- gado. Pensando que nos tinham matado, uma vez que não res- pondíamos ao fogo,
avançaram. Quando chegaram a três ou quatro metros de nós, os camaradas que tinham as balas abriram
fogo e mataram um deles. Os portugueses assustaram-se e retiraram, dando-nos a oportunidade de escapar
sem eles sa- berem. De longe, continuaram a disparar durante uma hora e por vezes atiravam uns
aos outros. Mais tarde encontrámos o corpo de um bóer sul-africano que tinha estado com os portu-
gueses e tinha sido morto por eles. É assim que o inimigo semeia ventos e colhe tempestades. Nesta
batalha apanhámos uma MG3, seis carregadores cheios, uma granada ofensiva e duas defensivas e uma
faca."
Foi nestas pequenas operações, com coragem e iniciativa em face de condições difíceis,
que a presente dimensão e força do exército se tornou possível. Como indicação do rápido crescimento
da acção de guerrilha, eis um comunicado relativo a uma acção realizada em 2 de Agosto de 1967, subsequente-
mente confirmada pela rádio portuguesa:
"Três aviões e um depósito de munições completamente
destruídos; depósito de combustível incendiado; quase todas as casas perto do aeródromo, destruídas;
dúzias de soldados portugueses mortos ou feridos. Isto aconteceu em Mueda num
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ataque com morteiros lançado pelas tropas da FRELIMO em 2 de Agosto. O fogo continuou intenso durante
dois dias." (Comunicado da FRELIMO.)
Organização do exército
Depois de começarem
os combates, o exército foi mui- tíssimo reforçado com novos recrutas das áreas de acção; e, a
fim de utilizar eficazmente esta força crescente, tinha de se aperfeiçoar rapidamente a organização.
O próprio exército era organizado em batalhões, subdivididos em destacamentos, companhias e unidades.
Isto significa que, enquanto se podem levar a cabo operações de pequena escala numa vasta área, temos
também forças disponíveis muito mais consideráveis para acções mais importantes, tais como ataques
a postos portugueses ou à base aérea de Mueda. O sistema de chefia tem também que ser ajustado
as condi- ções variáveis da guerra. Ao princípio, as áreas de combate eram divididas em regiões
militares, cada uma com um comando regional; mas, durante os primeiros dois anos de guerra, não havia
comando central além do Departamento de Defesa e Segurança, chefiado por um secretário, tal como qualquer
outro departamento da organização. O secretário tratava de todos os pormenores do trabalho militar,
e, embora de vez em quando delegasse a sua autoridade num ou noutro dos seus camaradas do exército,
não existia rigorosa divisão de responsabilidade. O sistema funcionava bem enquanto as forças de
guerrilha eram ainda pouco numerosas, e a sua acção fraca e limitada; mas logo que aumentou o número
de guerrilheiros em acção, e se alargaram as áreas de combate, foi necessário aperfeiçoar o sistema.
Foi preciso montar um comando central efectivo, porque, nos primeiros anos de luta, descobrimos que,
sem autoridade central, é impossível coordenar e abastecer as dife- rentes forças que operam em
lugares distantes do país. Em reunião do Comité Central em 1966, foi decidido que o exército
fosse reorganizado, com um alto comando
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que operasse a partir dum quartel-general fixo. Esta deci- são conduziu à formação do Conselho Nacional
de Comando, actualmente encabeçado pelo secretário do Departamento da Defesa (DD), pelo seu assistente,
que é comissário político do exército, e outros doze chefes responsáveis pelas diferentes secções
do exército. O exército foi dividido em doze secções:
1) Operações; 2) Recrutamento,
treino e formação de quadros; 3) Logística (abastecimentos); 4) Reconhecimento;
5) Transmissão e comunicação; 6) Informação e publicações militares (que também edita
o jornal policopiado "25 de Setembro", redigido por militantes da FRELIMO);
7) Administração; 8) Finanças; 9) Saúde; 10) Comissariado político; 11)
Pessoal; 12) Segurança militar.
Assim, o exército tem o seu próprio sistema de adminis-
tração nacional, nas mesmas linhas da administração civil e em paralelo com esta. No plano local,
o exército tem também uma estrutura claramente definida. Em cada província há:
1) Um chefe
provincial, que também é subsecretário da província; 2) Um chefe provincial-adjunto;
3) Um comissário político; 4) Um chefe operacional.
Por este novo método de organização,
cada responsável tem uma área de responsabilidade definida, na qual tem que exercer a sua iniciativa,
mas tem também um canal de contacto estabelecido com o alto comando. Entrou em vigor nos prin-
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