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DOCUMENTOS DO IMPÉRIO


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EDUARDO MONDLANE

1968


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cipio, havia ocasiões em que nem tínhamos que comer. Havia
momentos de hesitação, mas o trabalho de educação política
tinha-me ensinado como aceitar os sacrifícios e continuar
a lutar.
   O partido tinha confiança em mim e deu-me responsabi-
lidade. Estudei muito. Fui encarregado da educação doutros
camaradas nas unidades. Depois entregaram-me a sabotagem
do caminho de ferro de Tete-Maturara e outras operações.
O nosso destacamento era pequeno e tínhamos pouco equipa-
mento; o inimigo mandou um batalhão inteiro para nos destruir,
mas não o conseguiu. Atacavam-nos, mas sofriam sempre gran-
des baixas. Uma vez cercaram-nos e nós só tínhamos cinco balas
entre nós todos. Dispararam sobre nós, mas tínhamo-nos abri-
gado. Pensando que nos tinham matado, uma vez que não res-
pondíamos ao fogo, avançaram. Quando chegaram a três ou
quatro metros de nós, os camaradas que tinham as balas abriram
fogo e mataram um deles. Os portugueses assustaram-se e
retiraram, dando-nos a oportunidade de escapar sem eles sa-
berem. De longe, continuaram a disparar durante uma hora e
por vezes atiravam uns aos outros. Mais tarde encontrámos o
corpo de um bóer sul-africano que tinha estado com os portu-
gueses e tinha sido morto por eles.
   É assim que o inimigo semeia ventos e colhe tempestades.
Nesta batalha apanhámos uma MG3, seis carregadores cheios,
uma granada ofensiva e duas defensivas e uma faca."

   Foi nestas pequenas operações, com coragem e iniciativa
em face de condições difíceis, que a presente dimensão e força
do exército se tornou possível. Como indicação do rápido
crescimento da acção de guerrilha, eis um comunicado relativo
a uma acção realizada em 2 de Agosto de 1967, subsequente-
mente confirmada pela rádio portuguesa:

   "Três aviões e um depósito de munições completamente
destruídos; depósito de combustível incendiado; quase todas
as casas perto do aeródromo, destruídas; dúzias de soldados
portugueses mortos ou feridos. Isto aconteceu em Mueda num
ataque com morteiros lançado pelas tropas da FRELIMO em
2 de Agosto. O fogo continuou intenso durante dois dias."
(Comunicado da FRELIMO.)

Organização do exército

   Depois de começarem os combates, o exército foi mui-
tíssimo reforçado com  novos recrutas das áreas de acção;
e, a fim de utilizar eficazmente esta força crescente, tinha de
se aperfeiçoar rapidamente a organização. O próprio exército
era organizado em batalhões, subdivididos em destacamentos,
companhias e unidades. Isto significa que, enquanto se podem
levar a cabo operações de pequena escala numa vasta área,
temos também forças disponíveis muito mais consideráveis
para acções mais importantes, tais como ataques a postos
portugueses ou à base aérea de Mueda.
   O sistema de chefia tem também que ser ajustado as condi-
ções variáveis da guerra. Ao princípio, as áreas de combate
eram divididas em regiões militares, cada uma com um comando
regional; mas, durante os primeiros dois anos de guerra, não
havia comando central além do Departamento de Defesa e
Segurança, chefiado por um secretário, tal como qualquer outro
departamento da organização. O secretário tratava de todos
os pormenores do trabalho militar, e, embora de vez em quando
delegasse a sua autoridade num ou noutro dos seus camaradas
do exército, não existia rigorosa divisão de responsabilidade.
O  sistema funcionava bem enquanto as forças de guerrilha
eram ainda pouco numerosas, e a sua acção fraca e limitada;
mas logo que aumentou o número de guerrilheiros em acção,
e se alargaram as áreas de combate, foi necessário aperfeiçoar
o sistema. Foi preciso montar um comando central efectivo,
porque, nos primeiros anos de luta, descobrimos que, sem
autoridade central, é impossível coordenar e abastecer as dife-
rentes forças que operam em lugares distantes do país.
   Em reunião do Comité Central em 1966, foi decidido
que o exército fosse reorganizado, com um alto comando
que operasse a partir dum quartel-general fixo. Esta deci-
são conduziu à formação do Conselho Nacional de Comando,
actualmente encabeçado pelo secretário do Departamento da
Defesa (DD), pelo seu assistente, que é comissário político do
exército, e outros doze chefes responsáveis pelas diferentes
secções do exército. O exército foi dividido em doze secções:

   1)  Operações;
   2)  Recrutamento, treino e formação de quadros;
   3)  Logística (abastecimentos);
   4)  Reconhecimento;
   5)  Transmissão e comunicação;
   6)  Informação e publicações militares (que também edita
       o jornal policopiado "25 de Setembro", redigido por
       militantes da FRELIMO);
    7)  Administração;
   8)  Finanças;
   9)  Saúde;
  10)  Comissariado político;
  11)  Pessoal;
  12)  Segurança militar.

   Assim, o exército tem o seu próprio sistema de adminis-
tração nacional, nas mesmas linhas da administração civil e
em paralelo com esta. No plano local, o exército tem também
uma estrutura claramente definida. Em cada província há:

   1)  Um chefe provincial, que também é subsecretário da
       província;
   2)  Um chefe provincial-adjunto;
   3)  Um comissário político;
   4)  Um chefe operacional.

   Por este novo método de organização, cada responsável
tem uma área de responsabilidade definida, na qual tem que
exercer a sua iniciativa, mas tem também um canal de contacto
estabelecido com o alto comando. Entrou em vigor nos prin-

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