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Nestes aspectos, o exército conduz o povo; mas ainda mais importante é o facto de que o exército
é o povo e é o povo que forma o exército. Há membros civis da FRELIMO empenhados em toda a espécie
de trabalho no meio da popu- lação; mas a cooperação estende-se para além, para toda a massa de
camponeses que não são membros da FRELIMO mas que apoiam a luta, procurando a protecção do exército
e a ajuda do partido para várias das suas necessidades. E, por sua vez, dão aos militantes todo
o apoio que lhes é possível. Tudo isto é ilustrado pelas palavras dos próprios mili- tantes.
Joaquim Maquival,da Zambézia: "Venho da Zambézia, sou chuabo, e combati no Niassa,
onde a população é composta de nyanjas, que me recebiam como um filho. Trabalhei no meio de ajuas,
macuas, que me receberam como se fosse seu próprio filho."
Miguel Ambrósio, comandante
de companhia em Cabo Delgado:
"Combati na Zambézia e no Niassa, longe da minha pró- pria
região e da minha tribo. Combati na terra dos Chuabos e dos Lomes. [...] Os Chuabos, Nyanjas e Lomes
receberam-me ainda mais calorosamente do que se eu fosse da sua própria região. No Niassa Ocidental,
por exemplo, encontrei-me com o camarada Panguene e, embora ele seja do Sul, ninguém o podia distinguir
do povo da região; é como um filho da terra. Q povo percebe que somos todos moçambicanos. [...] O
povo está unido e ajuda-nos. Doutro modo, por exemplo, não pode- ríamos entrar em zonas inimigas;
é o povo que nos dá toda a informação acerca dos movimentos do inimigo, sua força e sua posição.
Também, quando começamos a trabalhar numa área onde não há mantimentos, porque não tivemos oportu-
nidade de os cultivar, o povo dá-nos de comer. Também nós ajudamos o povo. Até que as milícias se
formem numa região, protegemos as populações rurais nos seus campos, contra a acção
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e represálias dos colonialistas; organizamos novas aldeias quando temos que evacuar a população duma
zona por causa da guerra; protegemo-las contra o inimigo."
Rita Mulumbua, mulher militante
do Niassa:
"Nas nossas unidades há gente de todas as regiões; estou com ajuas, nyanjas,
macondes e gente da Zambézia. Creio que isto é bom; antigamente não nos julgávamos uma só nação; a
FRELIMO mostrou-nos que somos um só povo. Unimo-nos para destruir o colonialismo e imperialismo português.
A luta transformou-nos. A FRELIMO deu-me a possibi- lidade de estudar. Os colonialistas não queriam
que estudás- semos, ao passo que agora que estou neste destacamento onde nos treinamos de manhã,
de tarde vou para a escola aprender a ler e escrever. Os Portugueses não queriam que estudássemos
porque se o fizéssemos compreenderíamos, saberíamos coisas. Por esta razão a FRELIMO quer que estudemos
para sabermos e sabendo compreendermos melhor, combatermos melhor e servirmos melhor o nosso país."
Natacha Deolinda, mulher militante de Manica e Sofala:
"Quando entrei para o exército,
a FRELIMO mandou-me para um curso sobre organização de juventude e também me deu treino militar.
Depois foi trabalhar para a província de Cabo Delgado. O nosso destacamento fazia reuniões em toda
a parte explicando a política do nosso partido, as razões da luta e também o papel da mulher moçambicana
na revolução. A mulher moçambicana participa em todas as actividades revolucionárias; ajuda
os combatentes, tem um importante papel na produção, cultiva os campos, tem treino militar e toma
parte nos combates e faz parte das milícias que protegem o povo e os campos."
Destes comentários
se depreende claramente que o papel do exército vai muito mais longe do que simplesmente combater
os Portugueses. Como o partido, é uma força construtora da
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nação. Prepara não somente soldados, mas futuros cidadãos que transmitem o que aprendem ao povo no
meio do qual trabalham. A chefia não se baseia em postos, mas no conceito de res- ponsabilidade;
o chefe de determinado grupo é chamado o homem "responsável" por ele. Muitos destes agora "respon-
sáveis" nunca tinham ido à escola antes de entrarem para o exército; eram analfabetos sem instrução
formal quando se incorporaram perto do início da guerra. Tornaram-se aptos para a chefia através
da sua experiência prática de trabalho combatente e político e através dos programas de educação do
exército. Alguns tinham um pouco de frequência da escola; mas muito poucos, mesmo entre os que hoje
estão em posições importantes, tinham passado além da escola primária. A nossa experiência,
a dos militantes e chefes, desenvol- veu-se com a luta. Em 1964, o exército compreendia pequenos grupos
de homens, frequentemente mal armados e mal abaste- cidos, somente capazes de montar emboscadas e
incursões de pequena escala. O exército lutava contra tremendas dificuldades. O relato seguinte,
dum homem que é hoje comissário político nacional e membro do Comité Central, dá indicação do que
era a guerra, no princípio, da população que nela estava em- penhada e de como desenvolviam as suas
actividades. Algumas das primeiras lutas deste homem contra as estruturas educacio- nais e económicas
portuguesas foram relatadas em capítulos anteriores. O presente relato começa imediatamente após a
sua fuga forçada de Moçambique.
Raul Casal Ribeiro:
"Alguns camaradas da FRELIMO
encontraram-me e edu- caram-me. [...] Três meses mais tarde pedi para entrar para a FRELIMO. A
partir desse momento comecei a trabalhar como membro da FRELJMO. Fui para uma das bases de treino
do nosso partido para me preparar, e desde então tenho estado a combater. Tínhamos que enfrentar
muitas dificuldades. Ao prin-
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