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DOCUMENTOS DO IMPÉRIO


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EDUARDO MONDLANE

1968


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   Nestes aspectos, o exército conduz o povo; mas ainda
mais importante é o facto de que o exército é o povo e é o
povo que forma o exército. Há membros civis da FRELIMO
empenhados em toda a espécie de trabalho no meio da popu-
lação; mas a cooperação estende-se para além, para toda a massa
de camponeses que não são membros da FRELIMO mas que
apoiam a luta, procurando a protecção do exército e a ajuda
do partido para várias das suas necessidades. E, por sua vez,
dão aos militantes todo o apoio que lhes é possível.
   Tudo isto é ilustrado pelas palavras dos próprios mili-
tantes.

   Joaquim Maquival,da Zambézia:
   
   "Venho da Zambézia, sou chuabo, e combati no Niassa,
onde a população é composta de nyanjas, que me recebiam
como um filho. Trabalhei no meio de ajuas, macuas, que me
receberam como se fosse seu próprio filho."

   Miguel Ambrósio, comandante de companhia em Cabo
Delgado:

   "Combati na Zambézia e no Niassa, longe da minha pró-
pria região e da minha tribo. Combati na terra dos Chuabos
e dos Lomes. [...] Os Chuabos, Nyanjas e Lomes receberam-me
ainda mais calorosamente do que  se eu fosse da sua própria
região. No Niassa Ocidental, por exemplo, encontrei-me com
o camarada Panguene e, embora ele seja do Sul, ninguém o
podia distinguir do povo da região; é como um filho da terra.
Q povo percebe que somos todos moçambicanos. [...] O povo
está unido e ajuda-nos. Doutro modo, por exemplo, não pode-
ríamos entrar em zonas inimigas; é o povo que nos dá toda a
informação acerca dos movimentos do inimigo, sua força e
sua posição. Também, quando começamos a trabalhar numa
área onde não há mantimentos, porque não tivemos oportu-
nidade de os cultivar, o povo dá-nos de comer. Também nós
ajudamos o povo. Até que as milícias se formem numa região,
protegemos as populações rurais nos seus campos, contra a acção
e represálias dos colonialistas; organizamos novas aldeias quando
temos que evacuar a população duma zona por causa da guerra;
protegemo-las contra o inimigo."

   Rita Mulumbua, mulher militante do Niassa:

   "Nas nossas unidades há gente de todas as regiões; estou
com ajuas, nyanjas, macondes e gente da Zambézia. Creio
que isto é bom; antigamente não nos julgávamos uma só nação;
a FRELIMO mostrou-nos que somos um só povo. Unimo-nos
para destruir o colonialismo e imperialismo português.
   A luta transformou-nos. A FRELIMO deu-me a possibi-
lidade de estudar. Os colonialistas não queriam que estudás-
semos, ao passo que agora que estou neste destacamento onde
nos treinamos de manhã, de tarde vou para a escola aprender a
ler e escrever. Os Portugueses não queriam que estudássemos
porque se o fizéssemos compreenderíamos, saberíamos coisas.
Por esta razão a FRELIMO quer que estudemos para sabermos
e sabendo compreendermos melhor, combatermos melhor e
servirmos melhor o nosso país."

   Natacha  Deolinda, mulher militante de Manica e Sofala:

   "Quando entrei para o exército, a FRELIMO mandou-me
para um curso sobre organização de juventude e também me
deu treino militar. Depois foi trabalhar para a província de
Cabo Delgado. O nosso destacamento fazia reuniões em toda
a parte explicando a política do nosso partido, as razões da luta
e também o papel da mulher moçambicana na revolução.
   A mulher moçambicana participa em todas as actividades
revolucionárias; ajuda os combatentes, tem um importante
papel na produção, cultiva os campos, tem treino militar e
toma parte nos combates e faz parte das milícias que protegem
o povo e os campos."

   Destes comentários se depreende claramente que o papel
do exército vai muito mais longe do que simplesmente combater
os Portugueses. Como o partido, é uma força construtora da
nação. Prepara não somente soldados, mas futuros cidadãos
que transmitem o que aprendem ao povo no meio do qual
trabalham.
   A chefia não se baseia em postos, mas no conceito de res-
ponsabilidade; o chefe de determinado grupo é chamado o
homem "responsável" por ele. Muitos destes agora "respon-
sáveis" nunca tinham ido à escola antes de entrarem para o
exército; eram analfabetos sem instrução formal quando se
incorporaram perto do início da guerra. Tornaram-se aptos
para a chefia através da sua experiência prática de trabalho
combatente e político e através dos programas de educação
do exército. Alguns tinham um pouco de frequência da
escola; mas muito poucos, mesmo entre os que hoje estão
em posições importantes, tinham passado além da escola
primária.
   A  nossa experiência, a dos militantes e chefes, desenvol-
veu-se com a luta. Em 1964, o exército compreendia pequenos
grupos de homens, frequentemente mal armados e mal abaste-
cidos, somente capazes de montar emboscadas e incursões de
pequena escala. O exército lutava contra tremendas dificuldades.
O relato seguinte, dum homem que é hoje comissário político
nacional e membro do Comité Central, dá indicação do que
era a guerra, no princípio, da população que nela estava em-
penhada e de como desenvolviam as suas actividades. Algumas
das primeiras lutas deste homem contra as estruturas educacio-
nais e económicas portuguesas foram relatadas em capítulos
anteriores. O presente relato começa imediatamente após a sua
fuga forçada de Moçambique.

   Raul Casal Ribeiro:

   "Alguns camaradas da FRELIMO encontraram-me e edu-
caram-me. [...] Três meses mais tarde pedi para entrar para a
FRELIMO. A partir desse momento comecei a trabalhar como
membro da FRELJMO. Fui para uma das bases de treino do
nosso partido para me preparar, e desde então tenho estado a
combater. Tínhamos que enfrentar muitas dificuldades. Ao prin-

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