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e lhes dá apoio. Cada derrota portuguesa significa que a luta entra numa nova área, e que os Portugueses
têm que movi- mentar mais tropas para o novo local, enfraquecendo um pouco mais a sua posição geral.
Uma derrota da FRELIMO é mais facilmente recuperável, porque implica somente uma redução temporária
de força numa área. Qualquer progresso na guerra significa muito mais para a FRELIMO do que
uma simples conquista de território. A guerra alterou toda a estrutura interna das áreas profunda-
mente afectadas por ela: nas zonas libertadas, foram abolidos os vários sistemas de exploração humana,
desapareceram os impostos pesados, foi destruída a administração repressiva; as populações podem
cultivar livremente as terras conforme necessitam, foram iniciadas campanhas de alfabetização, esta-
beleceram-se escolas e serviços de saúde e o povo entra em debates políticos para tomar as suas próprias
decisões. Con- quanto todos estes progressos sejam embrionários, a mudança foi sentida dalgum modo
por quase todos os habitantes da zona, estimulando-os ainda mais à luta. Cada zona libertada, deste
modo, é meio de recrutamento de novos elementos para as forças de combate. Nas aldeias constituem-se
milícias populares que logo confirmam o poder do povo e aliviam as forças regulares da FRELIMO
de muitas tarefas de defesa; e, em cooperação com o exército, também essas milícias alargam a capacidade
ofensiva geral da FRELIMO. O exército da FRELIMO e a população estão intimamente ligados; o
povo é uma fonte constante de informação e abaste- cimento para a FRELIMO, enquanto constitui para
os Portu- gueses mais uma fonte de perigo. As forças da FRELIMO vivem, na maioria, do que produzem
nas áreas de combate, e os artigos de consumo são transportados a pé através da mata, entre os
pequenos centros por eles estabelecidos. Assim, a FRELIMO não tem linhas de abastecimento vulneráveis,
nenhumas posições estratégicas, militares ou económicas, que necessitem de defesa. Não é, pois, muito
grave a perda duma
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base ou área de colheitas; não tem grande significado para além duma perda imediata de recursos.
Quanto mais se prolonga a luta, mais evidente se torna a sua base popular, mais apoio aflui à FRELIMO,
mais con- fiança há na capacidade de êxito da FRELIMO, enquanto diminui a confiança dos aliados
de Portugal nos seus projectos. À medida que se desenvolve a luta, aumenta o auxilio material à
FRELIMO, enquanto a própria FRELIMO se torna mais forte. Assim, cada vitória aumenta as nossas possibilidades
de conseguir mais vitórias e reduz a capacidade portuguesa de conter as nossas actividades.
O carácter das forças da FRELIMO
Para compreender a verdadeira natureza da guerra, não é
suficiente ter em conta estes factores gerais, comuns a todas as lutas populares de guerrilha. Ê importante
considerar pontos mais pormenorizados acerca da composição, organização e comando do exército.
O exército é representativo de grande parte da população, na medida em que a grande maioria dos
guerrilheiros são camponeses, inicialmente ignorantes, analfabetos e muitas vezes incapazes de
falar português; mas há também, espalhados, elementos que receberam alguma educação dentro do sistema
português. A maioria provém naturalmente das áreas actual- mente afectadas pela luta, porque é nessas
áreas que é possível fazer vastas campanhas de politízação e treino. Há, porém, uma corrente contínua
de povo que vem do Sul, de todo o Moçambique, que foge para se juntar à luta; e, ao princípio, muitos
vieram dos campos de refugiados, fugidos de todos os dis- tritos de Moçambique para escaparem à repressão,
e integraram- -se na luta logo que se formaram as estruturas para os receber. No exército, há povos
de diferentes áreas, de modo que cada unidade contém representantes de diferentes tribos e regiões
combatendo juntos. Deste modo, o tribalismo é eficazmente
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combatido adentro das forças de combate, estabelecendo-se assim um exemplo para o resto da população.
Não é este o único ponto em que o exército está na vanguarda da transformação social. Recebendo
mulheres nas suas fileiras, revolucionou a posição social feminina. Elas desem- penham agora parte
muito activa na direcção de milícias popu- lares e há também muitas unidades de guerrilha compostas
por mulheres. Por meio do exército, as mulheres começaram a tomar responsabilidades em muitas áreas;
aprenderam a com- portar-se e a falar em reuniões públicas, a tomar parte activa na política. De
facto, realizam trabalho importante na mobili- zação da população. Quando uma unidade de mulheres
chega pela primeira vez a uma aldeia ainda pouco integrada na luta, a vista das mulheres armadas
que se levantam e falam em frente dum vasto auditório causa grande espanto, mesmo increduli- dade;
quando os aldeões se convencem de que os soldados em frente deles são de facto mulheres, o efeito
nos homens é tão grande que acorrem recrutas em muito maior número do que o exército pode rapidamente
integrar ou que a região pode dispensar. O exército está promovendo a melhoria do nível de
edu- cação, assim como da consciência política geral. Os recrutas são ensinados a ler, escrever
e falar português, onde quer que seja possível, e mesmo, onde seja impossível organizar pro- gramas
de ensino, são estimulados a ajudar-se mutuamente na aprendizagem de conhecimentos básicos. De facto,
as auto- ridades portuguesas desconfiam cada vez mais dos campo- neses que falam português, porque
sabem que é mais provável que o tenham aprendido no exército da FRELIMO do que nas escolas portuguesas.
O exército organiza também vários pro- gramas específicos, como treino de operadores de rádio, con-
tabilidade, dactilografia e ainda matérias mais directamente relacionadas com a guerra. Finalmente,
o exército cultiva e produz, onde seja possível, os artigos alimentares de que neces- sita, aliviando
assim a população do encargo de lhe fornecer mantimentos e ao mesmo tempo dando exemplos que ensinam.
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