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Em 1967, nas três frentes foram mortos ou feridos cerca de 10000. O efeito de tudo isto na
população pode ser avaliado pelo facto de o Governo ter julgado necessário promulgar uma lei que
proíbe a todos os portugueses do sexo masculino de idade superior a 16 anos a saída do país sem licença
militar. Dentro do próprio Exército, tudo indica estar o moral bastante em baixo. Em 1966 calculava-se
que em Portugal, desde o início das guerras coloniais, se tinham dado 7000 casos de deserção e
insubordinação no Exército. Em Moçambique, grande número de soldados portugueses desertaram directamente
para as forças da FRELIMO. Muitos deles eram impelidos pelo medo e desconforto sofridos no exército
colonial e pelo tratamento que recebiam dos superiores, mas alguns desertavam por oposição fundamental
ao regime de Salazar e à guerra. Um deles, Afonso Henriques Sacramento do Rio, deu as suas razões:
"Por um lado, discordo do regime do ditador Salazar; por outro lado, porque não obedeci a ordens
de incendiar casas, massacrar a população moçambicana e destruir colheitas." Outro, José Inácio
Bispo Catarino, deu um expressivo relato das condições do exército português ao jornal Mozambique
Revolution, revelndo não só por que alguns soldados desertam, mas também por que não desertam mais:
pela sua ignorância acerca da guerra, acerca da FRELIMO, e por causa da severa vigilância dos oficiais:
"Os nossos oficiais nunca nos dizem nada acerca da guerra. Eu nunca soube directamente que estávamos
a combater soldados da FRELIMO. Eu tinha uma ideal do que era a FRELIMO, porque costumava ouvir,
às escondidas, a Rádio Moscovo. Eu sabia que os guerrilheiros tinham matado muitos soldados portugueses
e sabia que era verdade porque via muitos dos meus camaradas serem mortos... Eu desertei porque nós,
os Portugueses, tomámos à força a terra que pertence aos Africanos. Agora os donos da terra querem
a sua terra. Por que
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havíamos de os combater? Eu não posso combater ao lado dos Portugueses porque sei que o que eles
estão a fazer é errado. Vi cair muitos dos meus camaradas; o meu sargento morreu na minha frente,
e muitos outros; todos eles morreram por uma causa que não era a deles. Eu falava muitas vezes aos
meus soldados, dizendo-lhes que fingissem estar doentes a fim de serem evacuados para Nampula. Organizava
reuniões com alguns daqueles em que eu tinha mais confiança e explicava- -lhes que estávamos a
sofrer por uma causa que não era a nossa. Dei-lhes o exemplo do nosso sargento que tinha morrido por
nada. Encontrávamo-nos em qualquer sítio onde tivéssemos a certeza de não sermos ouvidos e mesmo nas
casas de banho." (Entrevista no jornal Mozambique Revolution.)
Se relativamente poucos
desertam do serviço activo -é preciso um certo grau de consciência política e de decisão para desertar
nessas condições-, muitos fazem o que podem para evitar o combate. Contaram-nos alguns desertores
que, muitas vezes, quando os soldados saem em busca da FRELIMO, escondem-se simplesmente na mata
durante algum tempo e depois regressam ao acampamento contando aos oficiais uma história suficientemente
bem arquitectada. Também houve casos de recusa franca de companhias inteiras à ordem de patrulhar
regiões onde se sabia que a FRELIMO estava forte. As obser- vações da população e dos nossos soldados
confirmam estas histórias. Portugal procura ajuda dos seus aliados para vencer os seus muitos
problemas, mas mesmo neste esforço encontra dificuldades provenientes das condições e da natureza
da guerra. A assistência vem especialmente dos países da NATO e da África do Sul. Porém, as Nações
Unidas condenaram a política de Portugal e criticaram a NATO e outros países por lhe darem apoio;
é de notar ainda que uma parte substancial da opinião pública doutros países da NATO se opõe às guerras
de repressão feitas por Portugal. Como resultado, os Estados Unidos e a Europa Ocidental vêem-se forçados
a manter uma
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certa distância. Portugal recebe auxilio da NATO, financei- ramente, em armamento e treino, e não
menos em expe- riência de países como a França, a Grã-Bretanha e Estados Unidos em processos
de guerrilha. A assistência militar, con- tudo, deve revestir a aparência de que se ajuda Portugal
a cumprir os seus deveres de membro da NATO, e oficialmente não devia ser utilizada na África,
que está fora da área da NATO. Embora algum armamento da NATO esteja certamente a ser utilizado
nas colónias, o principal benefício que Portugal recebe da NATO é ser-lhe assegurado o equipamento
militar da metrópole, deixando-lhe livres os seus próprios recursos para actuar nas colónias. Sendo
estes ainda insuficientes, seria politi- camente difícil para qualquer dos aliados da NATO entrar
directamente na luta colonial enviando tropas para combater em África ao lado de Portugal.
A África do Sul, por outro lado, é relativamente imper- meável à opinião pública mundial e não mostra
qualquer tendência para permitir uma oposição democrática no seu terri- tório. Contudo, a sua capacidade
de auxílio a Portugal está limitada pelos seus próprios problemas. Já tem um grande exér- cito
e força de polícia ocupados em manter o regime branco contra o movimento de libertação indígena. Além
disso, está abertamente a enviar soldados e armas para a Rodésia e é pro- vável que estes compromissos
aumentem. Os laços tradicionais entre a África do Sul e os Portugueses são menos apertados do que
os que existem entre os Sul-Africanos brancos e os Rodesianos brancos, e uma participação grande nas
guerras portuguesas só -acrescentaria as tensões no exército, sem des- pertar entusiasmo na população
branca. As próprias condições que a Portugal dificultam a guerra actuam em favor da FRELIMO.
Porque as tropas portuguesas estão aquarteladas em defesa de várias posições estratégicas, as
forcas de guerrilha têm sempre a iniciativa de escolha do tempo e lugar de ataque. As forcas da
FRELIMO combatem no seu próprio terreno, que bem conhecem, no meio duma população que os conhece
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