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Os Portugueses naturalmente anunciavam perdas muito menores do que as avaliadas pela FRELIMO,
e a comparação en- tre ambas poderia levar-nos a muitas considerações. Primeiro, ao mencionar as
próprias perdas, os Portugueses atribuem sur- preendente número de mortes a "acidentes"*; anunciam
as baixas por um período de tempo muito mais longo do que aquele em que ocorreram; omitem mortes de
soldados africanos fantoches. Ao declarar as perdas da FRELIMO, porém, contam todos os africanos
mortos, e portanto abrangem sempre muitos civis "suspeitos". Isto sem contar com qualquer falsificação
directa que possa surgir. Por outro lado, quando a FRELIMO calcula o número de portugueses mortos,
apenas o pode fazer por aqueles que caem, sem poder depois verificar os corpos, e assim podem os
feridos contar como mortos. As estimativas portuguesas oficiais anunciam a perda, em meados
de 1967, de 378 soldados - 212 mortos em combate e 166 como resultado de "acidentes e doença" - e
3500 feridos. A julgar pelos seus comunicados mensais, todavia, estes números são tão baixos que
devem referir-se a um período muito mais curto do que o que vinha desde o princípio da guerra. Ainda
assim, e apesar destas díscrepâncias, os comunicados portugueses confirmam que as perdas têm aumentado
à medida do avanço da guerra. O SIFA (Serviço de Informação das Forcas Armadas) anunciou que nos
primeiros três dias de 1968 treze soldados portugueses, incluindo um oficial, tinham sido mortos em
Moçambique. Muitos factores têm contribuído para o avanço das forças da FRELIMO contra o exército
português, mais numeroso e bem equipado. Nas frentes de combate, os Portugueses encontram-se
com todos os problemas dum exército regular em combate com uma força de guerrilha, e dum exército
estrangeiro de ocupação com- batendo em território hostil. Primeiro, só uma pequena fracção
* O jornalista americano Stanley Meisler foi testemunha dum desses casos de falsificação.
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das forças armadas pode ser utilizada na acção militar. O governo colonial tem que empregar grande
número de militares na protecção de cidades, interesses económicos e linhas de comu- nicação e
para guardar a população confinada nas "aldeias protegidas". Assim, dos 65 000 soldados portugueses
em Mo- çambique, só cerca de 30000 estão em combate contra as nossas forças no Niassa e em Cabo
Delgado; e mesmo de entre estes, nem todos estão livres para entrarem em combate, visto que muitos
estão a defender pontos estratégicos e centros populacionais da área. Segundo, os Portugueses estão
a combater em terreno que não lhes é familiar, contra um ini- migo que é dessa terra e a conhece
bem. Muita dessa terra das províncias do Norte é densamente arborizada, dando boa cober- tura aos
guerrilheiros e suas bases. Muitas vezes, o único meio de penetrar na mata é por atalhos estreitos,
onde um grupo de homens tem que andar em fila indiana constituindo um alvo ideal para emboscadas.
Em tais condições, de pouco serve equipamento pesado como aviões e carros blindados. O aspecto
político é ainda de maior importância, porque a luta é essencialmente política, e o aspecto militar
é apenas parcial. Para justificar a sua presença, os Portugueses afirmam que o seu exército está
a defender Moçambique da agres- são externa. Todavia, esta posição não consegue persuadir ninguém,
porque as forças da FRELIMO são, sem excepção, com- postas por moçambicanos, enquanto que o exército
português é quase totalmente composto por soldados portugueses, tendo pouco mais de um milhar de
soldados africanos fantoches entre as suas fileiras. E quando assim acontece, os soldados africanos
estão rodeados de soldados portugueses para evitar as deserções. O próprio povo é, na esmagadora
maioria, hostil aos Portugueses. Para impedir a sua cooperação com a FRELIMO, o exército português
organiza-o em "aldeias protegidas", ro- deadas por arame farpado e guardadas por soldados portugueses,
imitação dos centros de repovoamento montados pelos Fran- ceses durante a guerra da Argélia, ou das
aldeias estratégicas dos Americanos no Vietname. Tudo isto pode separar tempo-
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rariamente os aldeões da FRELIMO; mas não contribui em nada para reduzir a hostilidade contra os Portugueses,
e logo que surge a oportunidade a população dessas tais "aldeias protegidas" revolta-se.
A guerra está também criando problemas internos ao Governo Português, que enfrenta não só a guerra
em Moçam- bique, mas também a luta em mais duas frentes, Angola e Guiné- -Bissau. Ao mesmo tempo,
tem que manter forças de repressão em S. Tomé, Cabo Verde, Macau, Timor, assim como no próprio
Portugal, onde a oposição ao fascismo, embora enfra- quecida por quarenta anos de repressão, nunca
foi completa- mente esmagada. Os recursos do Governo, em homens e em dinheiro, estão esticados
quase ao ponto de rebentar, por causa das guerras a milhares de milhas da metrópole, guerras pelas
quais a população está pagando, mas das quais a maioria não pode esperar ganhar nada. Isto atiça a
oposição interna e ao mesmo tempo enfraquece as defesas do Governo contra ela. Para preencher as
vagas militares deixadas na mãe-pátria pela partida de grande número de soldados para o ultramar,
o Governo convidou a Alemanha Ocidental a ir estabelecer bases militares em Portugal, uma das quais
foi já construída em Beja e aloja 1500 soldados alemães. Esta medida pode fortalecer a posição militar
do Governo, mas politicamente enfraquece-o, pois in- troduz uma força militar estrangeira para o ajudar
a manter-se contra o seu próprio povo. O Governo Português não tem popularidade alguma; foi
estabelecido e tem sido mantido pela força e pela polícia secreta. Mas, ainda assim, exige do povo
sacrifícios crescentes. É verdade que alguns portugueses aproveitam imensamente da guerra, e as
famílias dos soldados em comissão de serviço nas colónias recebem um pequeno subsídio financeiro.
Mas o preço, em sangue, está a aumentar constantemente. Em 1961, foram mortos em Angola 500 soldados
portugueses. Nos três primeiros anos da guerra de Moçambique, os Portugueses admitem o total de
perto de 4000 mortos e feridos, enquanto a FRELIMO avalia as perdas portuguesas em mais de 9000.
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