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DOCUMENTOS DO IMPÉRIO


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EDUARDO MONDLANE

1968


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7
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A guerra


A missão de boje
camarada

é, cavar o solo básico da Revolução
e fazer crescer um povo forte
com uma P.M., uma bazuca, uma 12.7...


Do  poema "(Apontar uma moral a um camarada"
de Marcelino dos Santos.


A luta armada foi lançada a 25 de Setembro de 1964.
   O exército português esperava um ataque, mas tinha subes-
timado a nossa capacidade, bem como os nossos objectivos.
Supunham eles que a nossa estratégia seria baseada em contínuas
flagelações das forças portuguesas na fronteira, a fim de pres-
sionar as autoridades portuguesas no sentido de se alcançar
um acordo. Por outras palavras, a FRELIMO, protegida pelo
"Santuário" da Tanzânia, contentar-se-ia com uma série de
incursões de bate e foge através da fronteira. Para se defender
dessa acção, o exército português desdobrou uma larga força
ao longo da margem do Rovuma e evacuou as populações
que viviam nas fronteiras.
   Porém a FRELIMO tinha-se preparado não para uma
acção de flagelações, mas para uma guerra do povo contra as
forças armadas portuguesas, guerra que a seu tempo levaria
à derrota ou rendição dos Portugueses. Esta subestimação das
nossas intenções era certamente benéfica para nós nas primeiras
fases da guerra.
   O Comité Central tinha dado instruções às forças da
FRELIMO para montar operações simultâneas em vários
pontos do país, todas no interior. Não iam "invadir" o país,
como os Portugueses esperavam, mas já lá estavam dentro,
fazendo reconhecimentos das posições portuguesas e ganhando
novos recrutas.
   Em 25 de Setembro a FRELIMO lançou um grande
número de acções de ataque a postos militares e administrativos
na província de Cabo Delgado. Em  Novembro já a luta se
estendia às províncias do Niassa, Zambézia e Tete, forçando
os Portugueses a dispersar os soldados e impedindo-os de
realizar um contra-ataque eficaz. Confrontado com acções de
combate em quatro províncias ao mesmo tempo, o exército
português não estava à altura de preparar expedições ofensivas
sem deixar outras posições vitais a descoberto. O resultado
foi que a FRELIMO conseguiu consolidar as suas posições
estratégicas no Niassa e em Cabo Delgado, que tinham sido os
objectivos desta primeira fase da guerra. As unidades que ope-
ravam na Zambézia e em Tete foram então retiradas e proviso-
riamente reagrupadas no Niassa e em Cabo Delgado, para
reforçar a capacidade ofensiva da FRELIMO e assegurar que
os avanços feitos nestas províncias fossem mantidos e que fosse
estabelecida no interior uma base firme de acção militar e
política. Os Portugueses, por outro lado, não podiam retirar
as suas tropas de Tete e da Zambézia, visto que assim correriam
o risco de encontrar nova ofensiva nestas áreas. Deste modo o
inimigo era obrigado a manter grandes forças imobilizadas,
enquanto que todas as forças da FRELIMO estavam aptas para
a acção.
   O sucesso destas primeiras operações abriu-nos o caminho
para intensificar o recrutamento e aperfeiçoar a nossa organi-
zação. Em 25 de Setembro de 1964, a FRELIMO  tinha só
250 homens treinados e equipados, que operavam em pequenas
unidades de 10 a 15 homens cada uma. Pelos meados de 1965,
já as forcas da FRELIMO operavam com unidades a nível de
companhia, e em 1966 as companhias foram organizadas em
batalhões. Em 1967 o exército da FRELIMO tinha atingido
efectivos de 8000 homens treinados e equipados, sem contar
as milícias populares ou os recrutas treinados mas ainda não
armados. Por outras palavras, a FRELIMO aumentou os seus
efectivos de combate trinta e duas vezes, em três anos.
   Pelo lado português, os constantes aumentos dos efectivos
do exército e do orçamento militar são a prova do impacte
já obtido pela guerra. Em 1964 havia cerca de 35 000 soldados
portugueses em Moçambique; pelos fins de 1967 havia entre
65 000 e 70 000. Nos meados de 1967, a Assembleia Nacional de
Lisboa aprovou uma lei que baixava o limite de idade de inscri-
ção no Exército para 18 anos e aumentava o período de serviço
militar para três anos, ou mesmo quatro, em  casos especiais.
Nos princípios de 1968, foi anunciado que mesmo os que
eram anteriormente considerados inaptos para o serviço militar,
como os surdos, mudos, coxos, seriam mobilizados para
serviços auxiliares, e que mesmo as mulheres também seriam
admitidas a estes serviços.
   Em 1963, o orçamento militar para Portugal e as colo-
mas era de 193 milhões de dólares. Em 1967, só para a defesa das
colónias, o orçamento foi de 180 milhões, e em Abril de 1968
esta verba foi oficialmente aumentada em 37 milhões, totali-
zando  217 milhões de dólares para as guerras coloniais. Estes
dados são oficiais, fornecidos por Lisboa, e, visto que Portugal
tem boas razões para rebaixar as suas verbas militares por causa
da opinião pública interna e mundial,  não será precipi-
tação supor que Portugal esteja agora a gastar alguma coisa
como l milhão, de libras por dia para "defender o povo das
províncias ultramarinas" contra... o povo das províncias ultra-
marinas.
   Esta "escalada" da agressão portuguesa corresponde a um
aumento das perdas portuguesas. Comparem-se, por exemplo,
as perdas sofridas por eles nos primeiros dois meses, Janeiro
e Fevereiro, dos anos de 1965, 1966 e 1967:
                                               1965             1966           1967
       Soldados mortos              258          360        626

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