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pudessem causar alguns prejuízos. A proliferação de pequenos grupos de oposição era embaraçosa para
os países que davam apoio aos movimentos de libertação, visto que não era fácil dizer quais eram
os grupos que tinham real apoio em Mo- çambique. Outra dificuldade, especialmente aguda nas
primeiras fases do desenvolvimento, quando muitos dos membros do movimento ainda mal se conheciam,
é o perigo de infiltração de agentes portugueses. E este perigo está ligado com o problema dos pequenos
grupos, porque estes podem utilizar um membro da organização para espalhar a dissensão e originar
cisões entre os membros. A complexidade dos motivos subjacentes às manobras divisionistas torna
muito difícil a sua prevenção: neuroses individuais, ambições pessoais, diferenças ideológicas reais,
andam misturadas com a táctica do serviço secreto ini- migo. Um movimento não se pode permitir a paranóia,
ou alienará o apoio potencial e não conseguirá reconciliar aquelas dificuldades reais que dalgum
modo têm que ser reconciliadas para sobrevivência e desenvolvimento da sua base. Por outro lado,
deve estar em guarda contra o tipo mais perigoso de infil- tração organizada pelo inimigo, que inevitavelmente
gasta tempo e energia no processo. A melhor resposta para estes grupos, agentes, espiões, propagandistas
inflamados, é um movimento forte. Se a lide- rança é unitária e tem o apoio das massas do país, se
o programa é realista e popular, então os prejuízos causados por esses esforços do exterior serão
marginais. Na FRELIMO, embora nalguns casos seja necessária uma acção específica, a nossa norma
geral é continuar em força o trabalho em mãos, igno- rando as pequenas provocações.
Biografia
política
Na medida em que a liderança fora do país conseguia manter um grau razoável de
unidade, o principal trabalho em Moçam- bique: podia seguir sozinho. Através da história de Alberto
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Joaquim Chipande pode-se ver a evolução desse processo, que culminou no lançamento da luta armada,
bem como alguns problemas que surgiram no desenrolar da acção do movimento:
"Meu pai era
capitão-mor(um chefe tradicional de aldeia numa sociedade sem instituições políticas centralizadas).
Por vezes os Portugueses davam ordens por intermédio dele, embora ele não fosse régulo (chefe imposto
pelos Portugueses). Por duas vezes levaram-no a visitar Lisboa, uma vez em 1940, outra em 1946,
e podia dizer-se que dalgum modo ele era mesmo membro da administração portuguesa; mas secretamente
ele era contra eles e, em 1962, tornou-se membro secreto da FRE- LIMO quando ainda estávamos a
trabalhar na clandestinidade, em Delgado... Eu próprio resolvi entrar na luta porque todos
os homens deviam ser livres ou, se for preciso, lutar para sê-lo. Sempre vi, desde criança, o significado
da política portuguesa: tendo eu 12 anos (em 1950), e estando na escola primária, eles levaram-me
e forçaram-me a trabalhar nas limpezas da cidade, em Mueda. Então os Portugueses começaram a seguir
a minha família. Dois irmãos fugiram para a Tanzânia. Escaparam, depois de serem presos para trabalhos
forçados. [...] Isto foi em 1947. Eu tinha 9 anos. Nessa altura a minha irmã e o marido também fugiram
do trabalho forçado. Tudo isto serviu para me ensinar. Mas fiquei na escola. Fiz exames. Fiquei professor.
Quando acabei a escola primária tinha 16 anos. Mais tarde deram-me um posto de ensino. [...] Depois
arranjei um melhor, na escola primária de Mueda, onde fiquei seis anos. Ouvi falar numa tal
organização de libertação em 1960. Era a MANU. [...] Alguns dos chefes trabalhavam no meio de nós.
Alguns foram apanhados pelos Portugueses no massacre de Mueda em 16 de Junho de 1960. [...] Depois
dessa experiência fiquei com um sentimento ainda mais forte da necessidade de obter a liber- dade.
E quando todos os outros consideraram o que tinha acon- tecido, começaram a agir igualmente, e deram
apoio à MANU. Então, em 1962, quando se formou a FRELIMO em Dar
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es-Salam, os seus chefes convidaram alguns delegados de Del- gado para irem falar com eles. Aqueles
que tinham dado apoio à MANU começaram a dar apoio à FRELIMO, como hoje dão. Depois da formação
da FRELIMO tornei-me um orga- nizador em Delgado. Trabalhávamos do seguinte modo: tínha- mos formado
uma cooperativa agrícola em Mueda, e quando os chefes da FRELIMO souberam, mandaram delegados a
Delgado para pedir aos chefes da nossa cooperativa, que tinham dado apoio à MANU, que apoiassem agora
a FRELIMO. Eles disseram aos delegados da FRELIMO as razões da formação da MANU e concordaram em
utilizar a cooperativa como meio de organização política, tanto quanto possível. No primeiro ano
tínhamos pouca gente e no segundo cultivamos algodão. Demos à nossa cooperativa o nome de Sociedade
Voluntária Africana do Algodão de Moçambique. Mas as autoridades portuguesas disseram que não podíamos
usar a palavra "Volun- tária", porque os pretos, diziam eles, não sabiam fazer nada. Ainda assim
deixaram-nos começar a trabalhar, e nós come- çámos. Isto foi em 1957. [...] E a nossa cooperativa
cresceu. Outras vieram juntar-se a ela, e assim a companhia portuguesa (em Mueda) começou a ter
falta de mão-de-obra e nós come- çámos a vender o nosso algodão mesmo a essa companhia. Nós, chefes,
trabalhávamos duro e voluntariamente; não que- ríamos percentagem na colheita nem lucro em dinheiro.
Tudo o que nós, chefes, tínhamos eram as nossas próprias shambas para o nosso sustento. Então aquela
companhia portuguesa queixou-se às autoridades de que a nossa cooperativa era uma organização política
antíportuguesa. Em 1959 o chefe - Lázaro Kavandame - "foi preso e enviado para Porto Amélia. Mas
não ficámos desmoralizados; continuámos. Então houve o massacre e proibiram o nosso movimento cooperativo.
Nos fins de 1960, Lázaro regressou e falámos de tudo. Tentámos descobrir novos meios de acção.
As autoridades diziam que não autorizariam nenhuma organização com muitos membros - 30 era o máximo.
Concordámos com isso e fun- dámos uma cooperativa com 25 membros pata cultivar arroz.
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