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DOCUMENTOS DO IMPÉRIO


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EDUARDO MONDLANE

1968


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pudessem causar alguns prejuízos. A proliferação de pequenos
grupos de oposição era embaraçosa para os países que davam
apoio aos movimentos  de libertação, visto que não era fácil
dizer quais eram os grupos que tinham real apoio em Mo-
çambique.
   Outra dificuldade, especialmente aguda nas primeiras fases
do desenvolvimento, quando muitos dos membros do movimento
ainda mal se conheciam, é o perigo de infiltração de agentes
portugueses. E este perigo está ligado com o problema dos
pequenos grupos, porque estes podem utilizar um membro
da organização para espalhar a dissensão e originar cisões
entre os membros. A complexidade dos motivos subjacentes
às manobras divisionistas torna muito difícil a sua prevenção:
neuroses individuais, ambições pessoais, diferenças ideológicas
reais, andam misturadas com a táctica do serviço secreto ini-
migo. Um movimento não se pode permitir a paranóia, ou
alienará o apoio potencial e não conseguirá reconciliar aquelas
dificuldades reais que dalgum modo têm que ser reconciliadas
para sobrevivência e desenvolvimento da sua base. Por outro
lado, deve estar em guarda contra o tipo mais perigoso de infil-
tração organizada pelo inimigo, que inevitavelmente gasta
tempo e energia no processo.
   A melhor resposta para estes grupos, agentes, espiões,
propagandistas inflamados, é um movimento forte. Se a lide-
rança é unitária e tem o apoio das massas do país, se o programa
é realista e popular, então os prejuízos causados por esses
esforços do exterior serão marginais. Na FRELIMO, embora
nalguns casos seja necessária uma acção específica, a nossa
norma geral é continuar em força o trabalho em mãos, igno-
rando as pequenas provocações.

Biografia política

   Na medida em que a liderança fora do país conseguia manter
um grau razoável de unidade, o principal trabalho em Moçam-
bique: podia seguir sozinho. Através da história de Alberto
Joaquim Chipande pode-se ver a evolução desse processo, que
culminou no lançamento da luta armada, bem como alguns
problemas que surgiram no desenrolar da acção do movimento:

   "Meu pai era capitão-mor(um chefe tradicional de aldeia
numa sociedade sem instituições políticas centralizadas). Por
vezes os Portugueses davam ordens por intermédio dele,
embora ele não fosse régulo (chefe imposto pelos Portugueses).
Por duas vezes levaram-no a visitar Lisboa, uma vez em 1940,
outra em 1946, e podia dizer-se que dalgum modo ele era mesmo
membro da administração portuguesa; mas secretamente ele
era contra eles e, em 1962, tornou-se membro secreto da FRE-
LIMO quando ainda estávamos a trabalhar na clandestinidade,
em Delgado...
   Eu próprio resolvi entrar na luta porque todos os homens
deviam ser livres ou, se for preciso, lutar para sê-lo. Sempre vi,
desde criança, o significado da política portuguesa: tendo eu
12 anos (em 1950), e estando na escola primária, eles levaram-me
e forçaram-me a trabalhar nas limpezas da cidade, em Mueda.
   Então os Portugueses começaram a seguir a minha família.
Dois irmãos fugiram para a Tanzânia. Escaparam, depois de
serem presos para trabalhos forçados. [...] Isto foi em 1947.
Eu tinha 9 anos. Nessa altura a minha irmã e o marido também
fugiram do trabalho forçado. Tudo isto serviu para me ensinar.
Mas fiquei na escola. Fiz exames. Fiquei professor.
   Quando acabei a escola primária tinha 16 anos. Mais tarde
deram-me um posto de ensino. [...] Depois arranjei um melhor,
na escola primária de Mueda, onde fiquei seis anos.
   Ouvi falar numa tal organização de libertação em 1960. Era
a MANU. [...] Alguns dos chefes trabalhavam no meio de nós.
Alguns foram apanhados pelos Portugueses no massacre de Mueda
em 16 de Junho de 1960. [...] Depois dessa experiência fiquei com
um sentimento ainda mais forte da necessidade de obter a liber-
dade. E quando todos os outros consideraram o que tinha acon-
tecido, começaram a agir igualmente, e deram apoio à MANU.
   Então, em 1962, quando se formou a FRELIMO em Dar
es-Salam, os seus chefes convidaram alguns delegados de Del-
gado para irem falar com eles. Aqueles que tinham dado apoio
à MANU começaram a dar apoio à FRELIMO, como hoje dão.
   Depois da formação da FRELIMO  tornei-me um orga-
nizador em Delgado. Trabalhávamos do seguinte modo: tínha-
mos formado uma cooperativa agrícola em Mueda, e
quando os chefes da FRELIMO souberam, mandaram delegados
a Delgado para pedir aos chefes da nossa cooperativa, que
tinham dado apoio à MANU, que apoiassem agora a FRELIMO.
Eles disseram aos delegados da FRELIMO as razões da formação
da MANU e concordaram em utilizar a cooperativa como meio
de organização política, tanto quanto possível. No primeiro
ano tínhamos pouca gente e no segundo cultivamos algodão.
Demos à nossa cooperativa o nome de Sociedade Voluntária
Africana do Algodão de Moçambique. Mas as autoridades
portuguesas disseram que não podíamos usar a palavra "Volun-
tária", porque os pretos, diziam eles, não sabiam fazer nada.
Ainda assim deixaram-nos começar a trabalhar, e nós come-
çámos.  Isto foi em 1957. [...] E a nossa cooperativa cresceu.
Outras vieram juntar-se a ela, e assim a companhia portuguesa
(em Mueda) começou a ter falta de mão-de-obra e nós come-
çámos a vender o nosso algodão mesmo a essa companhia.
Nós, chefes, trabalhávamos duro e voluntariamente; não que-
ríamos percentagem na colheita nem lucro em dinheiro. Tudo
o que nós, chefes, tínhamos eram as nossas próprias shambas
para o nosso sustento. Então aquela companhia portuguesa
queixou-se às autoridades de que a nossa cooperativa era uma
organização política antíportuguesa. Em 1959 o chefe - Lázaro
Kavandame  - "foi preso e enviado para Porto Amélia. Mas
não ficámos desmoralizados; continuámos. Então houve o
massacre e proibiram o nosso movimento cooperativo.
   Nos fins de 1960, Lázaro regressou e falámos de tudo.
Tentámos descobrir novos meios de acção. As autoridades
diziam que não autorizariam nenhuma organização com muitos
membros -  30 era o máximo. Concordámos com isso e fun-
dámos uma cooperativa com 25 membros pata cultivar arroz.

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