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DOCUMENTOS DO IMPÉRIO


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EDUARDO MONDLANE

1968


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e informação. A finalidade destes pontos era, por um kdo,
quebrar o silêncio que rodeava Moçambique, destruir os mitos
espalhados pelos poderosos serviços de propaganda dos Por-
tugueses; e, por outro lado, mobilizar a opinião mundial em
favor da luta em Moçambique, para ganhar apoio material e
isolar Portugal. Isto implicava participação activa em organi-
zações internacionais, o envio de delegados a conferências
internacionais e de representantes a vários países. Tendo em
vista facilitar este trabalho, criaram-se centros permanentes fora
da Tanzânia, particularmente no Cairo, Argel e Lusaka. Com
o fim de propagar a informação, prepararam-se textos para
conferências e reuniões; escreveram-se artigos; e do Centro
em Dar es-Salam começou a publicação dum boletim em
inglês, Moçambique Revolution, enquanto que um boletim em
francês saía periodicamente do Centro de Argel.

Problemas

   Em  muitos aspectos, o período de preparação impõe
mais esforço a um movimento  do que o período de acção.
Começada a luta, gera-se a solidariedade perante o perigo
imediato face ao inimigo. De igual modo, o movimento afirma-
-se: sabe mostrar resultados concretos do seu trabalho e uma
justificação prática da sua política. Ao afirmar-se, crescem o
entusiasmo e a confiança dos próprios membros, enquanto que
ao mesmo tempo aumentam o interesse e o apoio do exterior.
Durante o tempo de trabalho clandestino, contudo, pouco se
vê do partido, excepto um nome, um centro e um grupo de
exilados que afirmam serem chefes nacionais, mas cuja integri-
dade é sempre discutível. Ê então que um movimento é espe-
cialmente vulnerável à dissensão interna e à provocação externa.
   Nos dois primeiros anos da FRELIMO o perigo potencial
era agravado pela inexperiência dos seus chefes em trabalho
de conjunto. Muitos dos seus membros também tinham falta
de noção da política moderna. Por outro lado, o problema
de manter a unidade era facilitado pelo facto de não haver
outros partidos. Depois da união de 1962, o nosso problema
não era juntar grupos rivais importantes, mas evitar o apare-
cimento de facções internas.
   A natureza heterogénea dos membros trazia vantagens
e inconvenientes. Vínhamos de todo o território de Moçambique
e de todos os modos de vida: línguas e grupos étnicos diferentes,
raças, religiões, antecedentes sociais e políticos diferentes.
Eram ilimitadas as ocasiões de possível conflito e achámos que
devíamos fazer um esforço consciente para preservar a unidade.
O primeiro passo era a educação. Desde o princípio fomos
dando educação para combater o tribalismo, o racismo e a
intolerância religiosa. Manteve-se por conveniência o português
como língua oficial, visto que nenhuma língua africana tem
em Moçambique a predominância que,por exemplo, tem o
Swahili na Tanzânia. O trabalho, porém, é também feito noutras
línguas, e o facto de pessoas de várias línguas trabalharem
juntas constantemente incita à aprendizagem destas. Desde o
princípio, as unidades militares eram sempre de composição
muito misturada, e a experiência do trabalho em conjunto com
pessoas doutras tribos fez muito para diminuir atritos tribais.
A FRELIMO é um corpo secular; dentro dela todas as reli-
giões são toleradas, e uma grande variedade é praticada.
   Mesmo assim, pouco tempo depois da formação da
FRELIMO, houve tendências individuais para reclamar a repre-
sentatividade de Moçambique e para formar grupelhos. Este
facto parecia principalmente devido à conjugação de certas
ambições pessoais com as manobras dos Portugueses e outros
interesses ameaçados pelo movimento de libertação. Logo ao
princípio apareceu o COSERU (Comité Secreto de Restauração
da UDENAMO) e deu lugar a uma nova UDENAMO que,
por sua vez,  se dividiu em  Nova  UDENAMO - Accra
e  Nova  UDENAMO-Cairo;  ambas desapareceram já.
Depois surgiu uma nova UNAMI (já desaparecida), uma nova
MANU e mais variações sobre o tema. As pessoas que formavam
estas diferentes organizações eram muitas vezes as mesmas.
Então, em 1964, formou-se um grupo chamado MORECO
(Mozambican Revolutionary Council), que, mais tarde, mudou
para COREMO  e, quase imediatamente, sofreu mais modifica-
ções quando os vários dirigentes se expulsaram uns aos outros.
Há agora um ramo da COREMO em Lusaka e outro no Cairo,
Que parecem separados por diferenças ideológicas. A COREMO-
-Lusaka dividiu-se outra vez, do que resultou a formação
de ainda mais um grupo chamado União Nacional Africana
da Rombézia.  O programa da UNAR tenta enfraquecer o
trabalho da FRELIMO na área entre os dois principais rios do
Norte de Moçambique, o Zambeze e o Rovuma. Na mais caridosa
estimativa, os chefes do grupo devem ser ingénuos para tomar
a sério os boatos, assoprados pelos Portugueses, de que estariam
prontos a ceder o terço norte do país ao Malawi se, por meio
dessa manobra, eles tivessem assegurado o controle perpétuo
de dois terços de Moçambique para sul do Zambeze. É impor-
tante notar que o quartel-general da UNAR é em Blantyre, e
que os chefes têm a protecção e cooperação dalgumas figuras
influentes do Partido do Congresso do Malawi.
   A COREMO-Lusaka é o único desses grupos que tentou
alguma acção em  Moçambique:  em 1965, simpatizantes da
COREMO iniciaram uma acção militar em Tete, mas foram
imediatamente esmagados. Parecia não ter havido trabalho de
base no qual se pudesse apoiar essa acção; como resultado da
vaga de repressão que se seguiu, cerca de 6000 pessoas fugiram
para a Zâmbia e o Governo da Zâmbia supôs ao princípio
que, visto a acção ter sido instigada pela COREMO, estes
refugiados eram partidários da COREMO. Depois de os inter-
rogar, porém, descobriu-se que nunca tinham ouvido falar na
COREMO e que aqueles que estavam ligados a algum partido
eram membros da FRELIMO.
   Felizmente, nenhum  destes movimentos era suficiente-
mente sério para interferir no trabalho interno de Moçambique,
visto que muitos deles dispunham apenas de um centro e de um
pequeno grupo de partidários exilados. Todavia, nesse tempo,
quando a FRELIMO tinha somente um bom punhado de oficiais
para mostrar ao mundo, havia o perigo de que esses grupos

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