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Os mais velhos, nas suas cooperativas, também começavam a agitar-se. Em 1962 mesmo as crianças compreendiam
a ver- dade. A FRELIMO começou a operar na nossa zona. Alguns camaradas explicaram-nos o que era
e eu quis aderir. Em fins de 1962 o próprio Governo sentiu que o partido estava a crescer e começou
uma grande campanha de repressão, prendendo e torturando toda a gente de quem suspeitava. Muitos preferiam
morrer a trair os seus camaradas. O partido ganhou força. Os chefes explicaram-nos a verdade, ensinaram-nos
a nossa própria força, e vimos claramente como Moçambique, que pertence a nós e não a Portugal,
tinha sido dominado."
Já existiam condições favoráveis: os sofrimentos causados pelo sistema
colonial; o desejo de acção; a coragem e decisão que uma guerra exige. Tudo o que a FRELIMO tinha
que fornecer era a compreensão prática e a organização. Trabalho similar podia ser feito mais
abertamente entre os muitos elementos que por essa altura fugiam de Moçambique. Muitos desses refugiados
estavam ansiosos por regressar e agir contra o sistema que os tinha expulsado; só lhes faltava o conhecimento
de como fazê-lo. O problema do treino não envolvia apenas o aspecto militar. As deficiências
do sistema educacional português significavam que o nosso movimento tinha uma enorme falta de quadros
em todos os campos. Podíamos compreender que o bom resul- tado da futura acção armada criaria a necessidade
de gente com qualificações técnicas e certo nível de educação básica. Acima de tudo, o estado de
ignorância no qual quase toda a população tinha sido mantida dificultava o desenvolvimento da consciência
política e ainda mais o desenvolvimento do nosso país depois da independência. Tínhamos, e temos,
a tarefa de recuperar anos de diligente negligência sob o domínio português. E, assim, foram concebidos
lado a lado um pro- grama militar e um programa educacional, como aspectos essenciais da nossa
luta. Como primeiro passo do programa educacional, uma escola
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secundária, o Instituto de Moçambique, foi fundada em 1963 em Dar es-Salam, para educar crianças moçambicanas
que já tinham saído de Moçambique, enquanto ao mesmo tempo se providenciava no sentido de que houvesse
bolsas de estudo para institutos estrangeiros de altos estudos, destinadas àqueles refugiados que
possuíam qualificações adequadas. A perseguição e supressão do NESAM tinha feito sair muitos
daqueles poucos africanos que tinham conseguido em Moçambique continuar os estudos para além da escola
primária. Alguns deles estavam ansiosos por entrar imediatamente na luta, utilizando as qualificações
que já tinham; mas outros eram enviados para continuar os seus estudos e adquirir qualificações que
seriam úteis no futuro. O Instituto de Moçambique desen- volveu-se rapidamente. Construído para 50
estudantes, em 1968 já tinha sido alargado para receber 150. Além disso, o departamento educacional
da FRELIMO podia utilizar a orga- nização do Instituto para ajudar a preparar um sistema de educação
no interior de Moçambique logo que o programa militar tivesse ido suficientemente longe para dar a
segurança necessária. Pelo lado militar, a primeira tarefa era treinar o núcleo do nosso
futuro exército. Abordámos a Argélia, que acabava de se tornar independente da França, depois duma
guerra de sete anos, e estava já a treinar grupos nacionalistas doutras colónias portuguesas. Os
chefes argelinos aceitaram a entrada de mo- çambicanos neste programa, e o primeiro grupo de cerca
de cinquenta jovens moçambicanos partiu para a Argélia em Janeiro de 1963, seguido pouco depois
por mais dois grupos de cerca de setenta. Para acompanhar este treino, coordenar os grupos e prepará-los
para combater em Moçambique, era necessário encontrar um país próximo da área do futuro com- bate
que nos permitisse instalar pelo menos um acampamento no seu território. Deve notar-se que isto é
um caso muito sério. Qualquer país que aceite acolher uma força militar, mesmo temporariamente,
deve encarar problemas consideráveis. Pri- meiro, está o problema interno, posto pela presença duma
força
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armada que não está directamente sob o controle do país. Depois, há as dificuldades diplomáticas e
de segurança que surgirão logo que o governo contra o qual os preparativos militares são dirigidos
descobre a existência dum tal acampa- mento. Assim, quando a Tanzânia aceitou auxiliar-nos deu um
passo muito corajoso. Há uma certa ironia histórica na localização do nosso primeiro acampamento
perto da aldeia de Bagamoyo. Porque o nome de Bagamoyo significa "coração despedaçado" e tem a
sua origem nos tempos do tráfico de escravos, quando esta aldeia era um dos principais pontos de partida
para os portos esclavagistas da costa oriental. Mais tarde, a mesma Bagamoyo tornou-se capital
da tentativa de implantação do imperialismo alemão na África oriental. O nome tem agora para nós um
significado completamente diferente, porque foi aqui, em Bagamoyo, que demos os primeiros passos práticos
no esma- gamento da servidão no nosso pais. Uma vez terminado o rigoroso treino a que complemen-
tarmente os primeiros grupos tinham sido submetidos em Bagamoyo, voltaram secretamente a Moçambique,
preparados para a acção e para treinar outros jovens. Em Maio de 1964 estavam a entrar armas em
Moçambique e munições estavam a ser armazenadas. O exército tem também papel muito importante
a desem- penhar nas campanhas de mobilização e de educação. Os mili- tantes não aprendem só a ciência
militar. Tanto quanto possível, aprendem português e alfabetização básica, sendo os instru- tores
muitas vezes aqueles que têm educação elementar. A edu- cação política e é parte preponderante do
treino, no decorrer do qual adquirem alguma experiência de falar em público e do trabalho em comités,
enquanto também aprendem rudimentos de discussão política e das bases históricas e geográficas da
luta. Assim, o próprio exército torna-se agente importante na mobilização política e na educação
da população. O outro aspecto preponderante do trabalho da FRELIMO durante este período preliminar
era o programa de diplomacia
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