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movimentos existentes em Dar es-Salam juntaram-se para for- marem a Frente de Libertação de Moçambique,
e fizeram-se preparativos para a realização de uma conferência no mês de Setembro seguinte, em
que se definiriam os fins da Frente e se elaboraria um programa de acção. Um breve relato
de alguns dentre os chefes do novo movi- mento mostrará como as mais variadas organizações políticas
e parapolíticas de todo o país contribuíram para ele: o vice- -presidente, reverendo Uria Simango,
é um pastor protestante da região da Beira que tinha trabalhado muito nas associações de assistência
mútua e era chefe da UDENAMO. Da mesma associação de assistência mútua veio Silvério Nungu, mais tarde
secretário da Administração, e Samuel Dhlakama, actual- mente membro do Comité Central. Das cooperativas
camponesas do Norte de Moçambique veio Lázaro Kavandame, mais tarde secretário provincial de Cabo
Delgado, e também Jonas Nama- shulua e outros. Das associações de assistência mútua de Lou- renço
Marques e do Chai-Chai, no Sul de Moçambique, vieram o falecido Mateus Muthemba e Shaffrudin M. Khan,
que veio a ser representante no Cairo e se encontra agora como represen- tante da FRELIMO nos Estados
Unidos. Marcelino dos Santos, mais tarde secretário dos Assuntos Externos e agora secretário do
Departamento de Assuntos Políticos, é um poeta de fama mundial; teve grande actividade no movimento
literário de Lourenço Marques e passou alguns anos de exílio em França. Quanto a mim, sou
do distrito de Gaza, do Sul de Mo- çambique, e, como muitos de nós, estive duma maneira ou doutra
dentro da resistência desde a minha infância. Comecei a minha vida, como a maioria das crianças de
Moçambique, numa aldeia, e até aos 10 anos passava os dias pastoreando o gado da família, junto
com meus irmãos, e absorvendo as tradições da minha tribo e da minha família. Se fui para a escola,
devo-o à larga visão da minha mãe, terceira e ultima mulher de meu pai e mulher de grande carácter
e inteligência. Ao tentar continuar a estudar depois da escola primária, sofri
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todas as frustrações e dificuldades que sempre esperam qualquer criança africana que tenta entrar
no sistema português. Consegui finalmente chegar à África do Sul, e, com a ajuda de alguns dos meus
professores, continuei com bolsas de estudo a nível univer- sitário. Foi neste período que começou
o meu trabalho no NESAM. Tive sérios problemas com a polícia. Quando recebi uma bolsa de estudo
para a América, as autoridades portuguesas decidiram mandar-me para a Universidade de Lisboa. Durante
a minha curta estada em Lisboa, porém, fui tão constantemente incomodado pela polícia que os meus
estudos foram prejudi- cados, e fiz vários esforços para utilizar a minha bolsa de estudo nos Estados
Unidos. Tendo-o conseguido, estudei Sociologia e Antropologia nas Universidades de Oberlin e do Noroeste,
e depois trabalhei para as Nações Unidas como investigador. Entretanto mantive contacto tanto
quanto possível com o desenrolar dos acontecimentos em Moçambique e, pelo que vi e pelos meus contactos
ocasionais, através das Nações Unidas, com os diplomatas portugueses, cada vez me convenci mais de
que a pressão política normal e a agitação não afectariam a posição portuguesa. Em 1961, pude visitar
Moçambique, durante as minhas férias, e em longas viagens vi, por mim próprio, como as condições
tinham ou não mudado desde a minha partida. Quando regressei, deixei as Nações Unidas para entrar
abertamente na luta de libertação, e arranjei um emprego de assistente na Universidade de Siracusa,
que me deixava tempo e oportunidade para estudar a situação mais profundamente. Eu tinha estabelecido
contactos com todos os partidos de libertação e passei entre eles os anos de 1961 e 1962, fazendo
forte campanha pela unidade. Os moçambicanos que se reuniram em Der es-Salam em 1962 representavam
quase todas as regiões de Moçambique e todos os sectores da população. Quase todos tinham alguma experiência
de resistência em pequena escala, e das represálias que normalmente se seguiam. No interior como no
exterior do país, as condições eram favoráveis à luta nacionalista. O nosso problema era poder
caldear essas vantagens de
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modo a tornar o nosso movimento forte em todo o país e capaz de ter acção eficaz que, ao contrário
dos anteriores esforços isolados, atingisse mais os Portugueses do que a nós próprios.
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