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terra. Depois de um longo e importante debate, chegámos à conclusão de que o povo maconde, só por
si, não conseguiria expulsar o inimigo. E então decidimos reunir forças com os moçambicanos do
resto do país." [Relatório oficial.]
O outro acontecimento, também ligado às cooperativas,
foi um aumento da agitação espontânea, que culminou numa grande manifestação em Mueda em 1960. Esta
manifestação, embora passasse despercebida no resto do Mundo, actuou como catalisador sobre a região.
Mais de 500 pessoas foram aba- tidas pelos Portugueses, e muitos daqueles que até então não tinham
encarado bem o uso da violência denunciavam agora a resistência pacifica como fútíl. A experiência
de Teresinha Mblale, agora militante da FRELIMO, mostra porquê: "Eu vi como os colonialistas massacraram
o povo em Mueda. Foi quando eu perdi o meu tio. A nossa gente estava desarmada quando eles começaram
a disparar." Ela foi uma de entre os milhares que decidiram nunca mais estarem desarmados, em frente
da violência portuguesa. Alberto Joaquim Chipande, então com a idade de 22 anos, e agora um
dos chefes em Cabo Delgado, dá-nos um relato mais completo:
"Certos chefes trabalhavam
no meio de nós. Alguns deles foram levados pelos Portugueses -Tiago Muller, Faustíno Vanomba,
Kibiriti Diwane- no massacre de Mueda em 16 de Junho de 1960. Como é que aquilo aconteceu? Bem, alguns
dos homens puseram-se em contacto com a autoridade e pediram mais liberdade e mais salário... Depois,
estando o povo a dar apoio a estes chefes, os Portugueses mandaram polícia pelas aldeias, convidando
as populações para uma reunião em Mueda. Vários milhares vieram ouvir os Portugueses. Como depois
se verificou, o administrador tinha pedido ao governador da província de Cabo Delgado que viesse de
Porto Amélia e trou- xesse uma companhia do exército. Mas estas tropas esconderam-se ao chegarem
a Mueda. Ao princípio não as vimos. Então o gover-
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nador convidou os nossos chefes a entrarem no edifício da Admi- nistração. Eu estava à espera do lado
de fora. Ali estiveram durante quatro horas. Quando saíram para a varanda, o gover- nador perguntou
à multidão quem queria falar. Muitos queriam falar, e o governador disse-lhes que se colocassem à
parte. Depois, sem mais uma palavra, mandou a policia amarrar as mãos daqueles que estavam
à parte, e a polícia começou a bater-lhes. Eu estava ao pé. Vi tudo. Quando o povo viu o que estava
a acontecer, começou a manifestar-se contra os portu- gueses, e os portugueses limitaram-se a mandar
avançar os camiões da polícia para lá meter os presos. Contra isto conti- nuaram as manifestações.
Nesse momento a tropa ainda estava escondida e o povo avançou para a polícia, tentando impedir que
os presos fossem levados dali. Então o governador chamou a tropa, e, quando os soldados apareceram,
mandou-os abrir fogo. Mataram à volta de 600 pessoas. Agora, os Portugueses dizem que castigaram
este governador, mas claro que se limi- taram a mudá-lo de lugar. Eu próprio escapei porque estava
perto dum cemitério onde me consegui esconder, e depois fugi,"
Depois deste massacre, nunca
mais o Norte podia voltar à normalidade. Em toda a região tinha-se levantado o mais amargo ódio
contra os portugueses e era evidente, uma vez por todas, que a resistência pacífica era fútil.
Assim, por toda a parte, foi a própria severidade da re- pressão que criou as condições necessárias
para o desenvolvi- mento dum movimento nacionalista militante e forte. O estado policial apertado
obrigava toda a acção a ir para a clandesti- nidade e - em parte por causa das dificuldades e perigos
- a actividade clandestina tornou-se a melhor escola de formação de quadros políticos duros, dedicados
e radicais. Os excessos do regime destruíram toda a possibilidade de reformas que, melhorando um
pouco as condições, podia ter assegurado os principais interesses coloniais contra um ataque sério,
ao menos por algum tempo.
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As primeiras tentativas de criar um movimento naciona- lista radical ao nível de todo o pais foram
feitas por moçambi- canos residentes nos países vizinhos, onde estavam ao abrigo da alçada imediata
da PIDE. Ao princípio, o velho problema de más comunicações levou à criação de três movimentos sepa-
rados: UDENAMO (União Democrática Nacional de Mo- çambique), formada em Salisbury em 1960; MANU (Mozam-
bique African National Union), constituído em 1961 a partir de vários pequenos grupos já existentes
de moçambicanos que trabalhavam no Tanganica e no Quénia, sendo um dos maiores a União Maconde
de Moçambique; UNAMI (União Africana de Moçambique Independente), iniciado por exilados da região
de Tete e residentes no Malawi. O acesso de muitas antigas colónias à independência no fim
dos anos cinquenta e no princípio dos anos sessenta favo- receu a formação de movimentos no exílio
e, para Moçambique, a independência do Tanganica, em 1961, pareceu abrir novos caminhos. Os três
movimentos tinham centros separados em Dar-es-Salam, pouco tempo depois. Em 1961, também, uma
intensificação da repressão em todos os territórios portugueses na sequência da revolta em Angola
provocou a afluência de refugiados aos países vizinhos, espe- cialmente ao Tanganica (actual Tanzânia).
Estes exilados recentes do interior, muitos dos quais não pertenciam ainda a qualquer das organizações
existentes, exerceram forte pressão no sentido da formação dum só corpo unido. Houve condições externas
que também favoreceram a unidade: a Conferência das Organiza- ções Nacionalistas dos Territórios Portugueses
(CONCP), reunida em Casablanca em 1961, e na qual tomou parte a UDENAMO, foi uma forte chamada
à união dos movimentos nacionalistas contra o colonialismo português. Uma conferência de todos os
movimentos nacionalistas, convocada pelo presidente do Ghana, Kwame Nkrumah, também estimulou a formação
de frentes unidas, e no Tanganica o presidente Nyerere exerceu influência pessoal sobre os movimentos
formados no território para que se unissem. Assim, em 25 de Junho de 1962, os três
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