
|


***************************************************************************************
|


***************************************************************************************
|
|
constantemente atentos à polícia... A polícia perseguia-nos, e proibiu mesmo o NESAM. Também
fui presa quando fugia de Moçambique. Prende- ram-me nas cataratas de Vitória, na fronteira entre
a Rodésia e a Zâmbia. A polícia rodesiana prendeu-me e mandou-me de volta para Lourenço Marques
(a polícia rodesiana trabalhava em conivência com a polícia portuguesa). Éramos oito no nosso grupo,
rapazes e raparigas. A polícia portuguesa amea- çou-nos, interrogou-nos e bateu nos rapazes. Fiquei
na prisão seis meses sem estar sentenciada nem condenada. Estive seis meses na prisão sem me incriminarem
sequer de coisa alguma."
Pouco tempo depois, enquanto tentavam ir da Suazilândia para a
Zâmbia, 75 membros do NESAM foram presos pela polícia sul-africana e entregues à PIDE. Foram internados
em campos de concentração no Sul de Moçambique. Em 1963, alguns ex-membros do NESAM fundaram
a UNEMO (União dos Estudantes de Moçambique), que faz formalmente parte da FRELIMO e que organiza
os estudantes moçambicanos que estudam com assistência da FRELIMO. Em Portugal, os poucos estudantes
negros ou mulatos que atingiam um instituto superior reuniam-se na Casa dos Estu- dantes do Império
(CEI)e também estabeleciam ligações, através do Clube dos Marítimos, com marinheiros das colónias
que vinham frequentemente a Lisboa. Em 1951, o Centro de Estudos Africanos foi formado por membros
da CEI, embora não fizesse parte desta. Apesar das medidas opressivas da polí- cia, a CEI trabalhou
activamente, até à sua dissolução em 1965, para espalhar a palavra da independência nacional nas colónias,
difundir informação sobre as colónias para o mundo além de Portugal, e para endurecer e consolidar
as ideias nacionalistas entre a juventude. Em 1961, um grande grupo destes estu- dantes, frustrado
e finalmente ameaçado pela natureza persis- tente da acção da polícia, fugiu pela fronteira e conseguiu
chegar a França e à Suíça, cortando pública e irreversivelmente com o regime português. Muitos
destes estabeleceram imediata-
|
|
mente contactos abertos com os seus movimentos de libertação e muitos destes antigos estudantes do
"Império Português" são agora chefes da FRELIMO.
A acção dos trabalhadores urbanos
Se foi entre os intelectuais que o pensamento e organização políticos se desenvolveram mais durante
o período a seguir à Segunda Guerra Mundial, foi entre o proletariado urbano que se realizaram
as primeiras experiências da resistência activa organizada. A concentração da mão-de-obra dentro e
perto das cidades e as terríveis condições de trabalho e pobreza constituíram o ímpeto fundamental
para a revolta; mas, na ausência de sindicatos, eram apenas os grupos políticos clandes- tinos
que podiam dar a necessária organização. Os únicos sindi- catos permitidos pelos Portugueses são os
sindicatos fascistas, cujos chefes são escolhidos pelos patrões e pelo Estado, e que, de qualquer
modo, só permitem a inscrição como sócios aos trabalhadores brancos e ocasionalmente a africanos assimilados.
Em 1947 o descontentamento radical da força de trabalho, combinado com a agitação política, resultou
numa série de greves nas docas de Lourenço Marques e em plantações vizinhas, que culminaram numa
insurreição abortada em Lourenço Marques em 1948. Os participantes foram ferozmente punidos, e
várias centenas de africanos foram deportados para S. Tomé. Em 1956, também em Lourenço Marques, houve
uma greve nas docas, que terminou com a morte de 49 participantes. Então, em 1962-1963, elementos
clandestinos da FRELIMO tomaram conta do trabalho de organização e iniciaram um sistema mais bem
coordenado, que contribuiu para planear as greves das docas, desencadeadas em 1963, em Lourenço Marques,
Beira e Nacala. Apesar da sua extensão maior, este esforço também acabou com a morte e prisão de muitos
parti- cipantes. Embora houvesse alguma organização política entre os trabalhadores responsáveis
pelas greves, a própria acção da greve foi grandemente espontânea e, na sua maioria, localizada.
|
|
O seu fracasso e a brutal repressão que se lhe seguiu em todos os casos desanimaram temporariamente
tanto as massas como os comandos de considerarem a acção da greve como uma arma política eficaz
no contexto de Moçambique.
Rumo à unidade
Tanto a agitação dos intelectuais como
as greves da força de trabalho urbana estavam condenadas ao fracasso, porque em ambos os casos
era apenas a acção dum pequeno grupo isolado. Para um governo como o português, que se colocou contra
a democracia e está disposto a usar de extrema brutalidade para esmagar a oposição, é fácil tratar
com essas bolsas isoladas de resistência. O próprio fracasso destas tentativas e a feroz repressão
que se lhes seguiu tornaram, porém, tudo isto evi- dente e prepararam o terreno para uma acção de
base mais larga. A população urbana de Moçambique atinge ao todo meio milhão de habitantes, pelo
que um movimento nacionalista sem fortes raízes nos campos nunca conseguiria ter sucesso. Alguns
acontecimentos nas zonas rurais, ocorridos no período que precedeu imediatamente a formação da FRE-
LIMO, foram de enorme importância. Tomaram uma direcção extrema na área do Norte, perto de Mueda,
embora tivessem repercussões mais fracas noutras regiões. Foram primeiro que tudo os efeitos, sobre
as populações, do fracasso do movi- mento cooperativo já descrito. A reacção dos chefes fica bem ilustrada
pelas palavras do próprio Lázaro Kavandame:
"Não consegui dormir toda a noite. Eu sabia que
a partir daquele momento eles não me deixariam mais em paz, que tudo o que eu fizesse seria vigiado
e controlado de perto pelas autoridades; que eles iriam chamar-me mais e mais vezes ao Posto Administrativo
e que eu seria constantemente vigiado pela polícia. A minha única esperança era a fuga... Imediata-
mente tratámos de organizar uma reunião dos chefes do povo com o fim de discutir os meios de acção
para reconquistar a nossa liberdade e expulsar os Portugueses opressores da nossa
|
|
|

***************************************************************************************
|
|
|
|