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citá-lo por inteiro, porque é uma das obras mais importantes e influentes do tempo:
Eu sou carvão! E tu arrancas-me brutalmente do chão e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão E tu acendes-me, patrão para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão e tenho que arder, sim e queimar
tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão tenho que arder na exploração
arder vivo como alcatrão, meu irmão até não ser mais a tua mina, patrão.
Eu sou
carvão tenho que arder queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu serei o teu carvão, patrão l
Poucos do grupo de Craveirinha conseguiram escapar
ao seu isolamento e fazer a ligação entre a teoria e a prática. Noémia de Sousa deixou Moçambique,
deixou de escrever poesia, e vive agora em Paris; muitos, incluindo Craveirinha e Honwana, estão
na prisão. Malangatana está ainda a trabalhar em Moçambique, mas vigiado de perto e importunado pela
polícia. De todos os que mencionei, só Marcelino dos Santos, depois dum longo período de exílio na
Europa, se juntou ao movimento de libertação, e desde então a sua poesia mudou e desenvolveu-se
sob o ímpeto da luta armada. A obra de Craveirinha e dos seus companheiros, porém, influenciou e inspirou
uma geração pouco mais jovem de intelectuais, muitos
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dos quais conseguiram fugir à vigilância da polícia e lançaram-se no movimento de libertação. Aí,
no contexto da luta armada, está a tomar forma uma nova tradição literária. Esta é a geração
dos que cresceram depois da Segunda Guerra Mundial e que estavam na escola durante os primeiros movimentos
de autodeterminação noutros pontos de África. Foi na escola que começaram a desenvolver as suas ideias
polí- ticas, e foi na escola que começaram a organizar-se. O próprio sistema português de ensino
dava-lhes boas razões de descon- tentamento. Os poucos africanos e mulatos que conseguiram chegar
à escola secundária fizeram-no com muita dificuldade. Nas escolas, de frequência predominantemente
branca, eram constantemente sujeitos à discriminação. Ainda por cima, as escolas tentavam separá-los
do seu ambiente tradicional, ani- quilar os valores em que tinham sido criados e fazer deles "portugueses"
em consciência, embora não em direitos. O relato que se segue, feito por uma jovem africana que frequentava
uma escola técnica de Lourenço Marques há pouco tempo, mostra como esta tentativa tinha falhado:
"Josina Muthemba:
Os colonialistas queriam enganar-nos com o seu ensino; ensinavam-nos
só a história de Portugal, a geografia de Portugal; queriam formar em nós uma mentalidade passiva,
para nos tornarem resignados à sua dominação. Não podíamos reagir abertamente, mas tínhamos conhecimento
da sua mentira; sabíamos que o que eles diziam era falso; que éramos moçambi- canos e nunca podíamos
ser portugueses."
Em 1949, os alunos das escolas secundárias, conduzidos por alguns que
tinham estado a estudar na África do Sul, formaram o Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de
Moçambique(NESAM), que estava ligado ao Centro Associa- tivo dos Negros de Moçambique e que, igualmente,
a coberto de actividades sociais e culturais, movia entre a juventude uma campanha política para
espalhar a ideia da independência
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nacional e incitar à resistência contra a sujeição imposta pelos Portugueses. Logo desde o inicio,
a polícia vigiou de perto o movimento. Eu próprio, como era um dos estudantes vindos da África
do Sul que tinham fundado o NESAM, fui preso e longamente interrogado acerca das nossas actividades
em 1949. Todavia o NESAM conseguiu sobreviver até aos anos sessenta, e ainda lançou uma revista,
Alvor, que, embora censurada, contribuiu para espalhar as ideias desenvolvidas nas reuniões e
discussões do grupo. A eficácia do NESAM, como a de todas as organizações dos primeiros tempos,
era estritamente limitada pelo pequeno número dos seus membros, neste caso, restrita aos estudantes
negros da escola secundária. Mas, pelo menos de três maneiras, deu um importante contributo para a
revolução. Comunicou ideias nacionalistas à mocidade negra instruída. Conseguiu certa revalorização
da cultura nacional, que contra-atacou as tentativas dos Portugueses para levarem os estudantes africanos
a desprezarem e abandonarem o seu próprio povo. Deu a única oportunidade de estudar e discutir Moçambique
sem ser como um apêndice de Portugal. E, talvez o mais importante de tudo, cimentou contactos pessoais,
esta- beleceu uma rede de comunicação a nível nacional, que se formou entre gente de todas as idades,
e que podia ser utilizada por um futuro movimento secreto. Por exemplo, quando a FRELIMO se instalou
na região de Lourenço Marques em 1962-1963, os membros do NESAM foram os primeiros a serem mobilizados
e constituíram uma estrutura para receber o partido. A polícia secreta, ou PIDE, também percebeu isto
e proibiu o NESAM; em 1964, prendeu alguns dos seus membros e forçou outros a partirem para o exílio.
Neste tempo, Josina Muthemba era activa no NESAM e descreve este estado de opressão e a sorte do
seu próprio grupo:
"Queríamos organizar-nos, mas fomos perseguidos pela polícia secreta.
Tínhamos actividades culturais e educacionais, mas durante discussões, reuniões e debates tínhamos
que estar
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