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Noutra canção eles ridicularizam a tentativa de impor as maneiras portuguesas:
Ouçam
a canção da gente de Chigombe: É aborrecido dizer "bom dia" a todo o momento Macarite
e Babuane estão na cadeia Porque não disseram "bom dia", Tiveram que ir para Quissico
para dizer "bom dia".
Os valores mercantis dos Europeus são frequentemente escarnecidos
ou atacados:
Como fiquei espantado, Meu irmão Nguissa, Como fiquei espantado
Por ter de levar dinheiro para comprar o meu caminho.
Algumas das esculturas do povo
maconde exprimem uma arreigada hostilidade à cultura estranha. Nessa área, os missio- nários católicos
desenvolveram grande actividade, e sob a influência deles muitos artistas fizeram madonas e crucifixos,
imitando modelos europeus. Ao contrário do que acontece com os trabalhos macondes sobre temas tradicionais,
estas imagens cristãs são na sua maioria rigidamente estereotipadas e sem vida. Mas, por vezes,
uma delas afasta-se do estereótipo, e quando isso acontece é quase sempre porque se introduziu no
traba- lho algum elemento de dúvida e desafio: uma madona com uma serpente na mão em lugar dum
menino Jesus; um padre repre- sentado com as patas dum animal selvagem; uma pietà torna- -se
um estudo de vingança e não de dor, com a mãe levantando uma espada sobre o corpo do seu filho morto.
Em áreas específicas e em tempos específicos, estas atitudes, enraizadas na cultura popular cristalizaram
em acções de um tipo ou outro: os "mais velhos" "discutiram, sim, os nossos assuntos". Uma forma
que resultou deste facto foi o movimento coopera- tivo, que se desenvolveu no Norte durante os anos
cinquenta. Na sua fase inicial, foi mais construtivo do que a manifestação de desafio. Muitos
camponeses - incluindo Mzee Lázaro
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Kavandame, agora membro do Comité Central da FRELIMO e secretário provincial de Cabo Delgado - organizaram-se
em cooperativas, numa tentativa de racionalizar a produção e a venda de produtos agrícolas e de
melhorar a sua sorte. As auto- ridades portuguesas, porém, restringiram severamente a acti- vidade
das cooperativas, carregaram-nas de impostos, e man- tiveram as reuniões sob estreita vigilância.
Foi nessa altura que o movimento começou a adquirir carácter mais político, tornando-se totalmente
hostil as autoridades.
O começo do nacionalismo
As condições eram desfavoráveis
à expansão das ideias nacionalistas por todo o país. Por causa da proibição de asso- ciação política,
da necessidade de segredo imposta por esta proi- bição, da erosão da sociedade tradicional e da falta
de educação moderna nas áreas rurais, foi só entre uma minoria diminuta que ao princípio se desenvolveu
a ideia de acção nacional em contraposição com acção local. Esta minoria era predominan- temente
urbana, composta de intelectuais e assalariados, indi- víduos essencialmente desenraizados do sistema
tribal, na sua maioria africanos assimilados e mulatos; por outras palavras, um pequeno sector
marginal da população. Nas cidades, o poder colonial era visto mais de perto. Era mais fácil
de compreender que a força do colonizador era construída sobre a nossa fraqueza e que os seus progressos
dependiam da mão-de-obra do africano. Talvez a própria ausência de ambiente tribal ajudasse a incitar
a uma visão nacional, estimulasse este grupo a ver Moçambique como terra de todos os moçambicanos,
os fizesse compreender a força da unidade. Encorajados pelo liberalismo da nova república em
Por- tugal (1910-1926), estes grupos formaram sociedades e criaram jornais nos quais conduziram
campanhas contra os abusos do colonialismo, exigindo direitos iguais, até que, a pouco e pouco,
começaram a denunciar todo o sistema colonial.
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Em 1920 foi fundada em Lisboa a Liga Africana, orga- nização que unia os poucos estudantes africanos
e mulatos que vinham para a cidade. Tinha como fim dar "carácter organizado às ligações entre os
povos colonizados"; participou na Terceira Conferência Pan-Africana, reunida em Londres e organizada
por W. E. Du Bois, e em 1923 recebeu em Lisboa a Segunda Sessão da Conferência. Era significativo
conceber a Liga não só a unidade nacional, como também a unidade entre as colónias contra o mesmo
poder colonial, uma unidade afri- cana mais alargada contra todas as forças coloniais, e a unidade
entre todos os povos negros oprimidos do Mundo. Mas, de facto, era fraca, composta apenas por vinte
membros e situada em Lisboa, longe do teatro de possível acção. Em Moçambique, no principio
dos anos vinte, formou-se uma organização chamada Grémio Africano, que mais tarde se transformou
na Associação Africana. Colonos e adminis- tração depressa se mostraram alarmados perante as exigências
da Associação, e no princípio dos anos trinta, favorecidos pelos ventos fascistas que sopravam de
Portugal, iniciaram uma campanha de intimidação e infiltração e conseguiram a aliança dalguns dos
chefes para dirigir a Associação em linhas mais conformistas. Formou-se então uma ala mais radical,
que se separou e criou o Instituto Negrófilo; e este foi mais tarde forçado pelo Governo de Salazar
a mudar o seu nome para Centro Associativo dos Negros de Moçambique. Cresceu a tendência de os
mulatos entrarem para a Associação Africana, enquanto os africanos negros se concentravam no Centro
Asso- ciativo. Formou-se terceira organização intitulada Associação dos Naturais de Moçambique.
Esta era inicialmente concebida como meio de defender os direitos dos brancos nascidos em Moçambique;
mas desde os anos cinquenta abriu as portas a outros grupos étnicos, e depois disso tornou-se bastante
activa na luta contra o racismo. Fez mesmo alguma coisa para me- lhorar a instrução africana por
meio de bolsas de estudo. Outras associações similares foram formadas por grupos de
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