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Resistência - À procura dum movimento nacional
E nada
mais me perguntes, se é que me queres conhecer... que não sou mais que um búzio de carne onde
a revolta d'África congelou seu grito inchado de esperança.
(De "Se me quiseres conhecer",
de Noémia de Sousa.)
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Como todo o nacionalismo africano, o moçambicano nasceu da experiência do colonialismo europeu. A
fonte de unidade nacional é o sofrimento em comum durante os últimos cin- quenta anos passados
debaixo do domínio efectivo português. A afirmação nacionalista não nasceu duma comunidade estável,
historicamente significando unidade cultural, económica, terri- torial e linguística. Em Moçambique,
foi a dominação colonial que produziu a comunidade territorial e criou a base para uma coesão psicológica,
fundamentada na experiência da discri- minação, exploração, trabalho forçado e outros aspectos do
sistema colonial. Porém, foi limitada a comunicação entre as comunidades sujeitas às mesmas
experiências. Todas as formas de comuni- cação vinham de cima, por meio da administração colonial.
Este facto naturalmente dificultou o desenvolvimento duma consciencialização única em toda a área
territorial. Em Moçam- bique, a situação foi agravada pela política do "Portugal Maior", pela qual
a colónia é designada como uma "província" de Por- tugal, o povo chamado "português" pelas autoridades.
Na rádio,
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nos jornais, nas escolas, há muita conversa sobre "Portugal", e muito pouca sobre "Moçambique". Entre
os camponeses, essa propaganda conseguiu dificultar o desenvolvimento dum con- ceito de "Moçambique";
e, como Portugal é uma ideia muito distante para constituir um factor de unificação, o tribalismo
acentuou-se por falta de estimulo para olhar para além da unidade social imediata. Em muitas
áreas onde a população é diminuta e pouco densa, o contacto entre o poder colonial e o povo era tão
super- ficial que existia pouca experiência pessoal da dominação. Havia no Niassa Oriental alguns
grupos que nunca tinham visto os Portugueses antes da deflagração da actual guerra. Nessas áreas,
a população tinha pouca noção de pertencer fosse a uma nação ou a uma colónia, e ao princípio foi-lhe
difícil com- preender a luta. Todavia a chegada do exército português mudou rapidamente esta situação.
Resistência popular
Onde quer que se sentisse o poder colonial, aparecia alguma forma
de resistência, desde a insurreição armada até ao êxodo maciço. Mas em qualquer momento, era apenas
uma comunidade limitada, pequena em comparação com a sociedade, aquela que se levantava contra
o colonizador, enquanto que a própria oposição era também limitada, por ser dirigida somente contra
um só aspecto da dominação, aquele aspecto concreto que afectava aquela comunidade naquele preciso
momento. A resistência activa foi finalmente esmagada em 1918, com a derrota do Mokombe (Rei)
de Barwe, na região de Tete. E desde o princípio dos anos trinta, a administração colonial do jovem
estado fascista espalhou-se através de Moçambique, destruindo, muitas vezes fisicamente, a estrutura
do poder tradicional. Desse momento em diante, tanto a repressão como a resis- tência endureceram.
Mas o centro de resistência deslocou-se das hierarquias tradicionais, que se tornaram dóceis fantoches
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dos Portugueses, para indivíduos e grupos - embora por muito tempo estes tenham permanecido isolados
nos seus fins e acti- vidades, como os chefes tradicionais o tinham estado. Era muito frequente
a rejeição psicológica do colonizador e sua cultura, mas não era ainda uma posição consciente e raciocinada;
era antes uma atitude ligada com a tradição cul- tural do grupo, suas antigas lutas contra os Portugueses
e actual experiência de sujeição.
O desejo português de implantar a sua cultura através
de todo o território, mesmo que fosse bem intencionado, era completamente destituído de realismo por
causa da relação numérica existente. Sendo os Portugueses 2% da população, não podiam esperar dar
a todos os africanos sequer a oportu- nidade de observar o estilo de vida português, e muito menos
ter intimo contacto que lhes permitisse assimilá-lo. Como muitas nações, também calcularam mal o entusiasmo
dos "pobres selvagens" pela "civilização". Visto que a maioria dos africanos só encontravam os Portugueses
no momento de pagar impostos, quando eram contratados para trabalho forçado ou quando lhes apreendiam
as terras, não é para admirar que tivessem uma impressão desfavorável da cultura portuguesa. Esta
repulsa é muitas vezes expressa em cantigas, danças, mesmo em trabalhos de madeira esculpida - formas
tradicionais de expressão que o colonizador não compreende, e através das quais ele pode ser secretamente
ridicularizado, denunciado e ameaçado. Os Chope, por exemplo, cantam:
Ainda estamos zangados; é sempre a mesma história As filhas mais velhas têm de pagar o imposto
Natanele disse ao homem branco que o deixasse em paz Natanele disse ao branco que me deixasse
estar Vós, os velhos, deveis tratar dos nossos assuntos Porque o homem que os brancos
nomearam é um filho [de ninguém
Os Chope
perderam o direito à sua própria terra Deixem-me contar-lhes...
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