|
***************************************************************************************
|
***************************************************************************************
|
|
2. Após três anos, não tiver mostrado suficiente desenvol- vimento agrícola, pelo crescimento
e aumento do valor das áreas cultivadas e do gado; 3. Dentro de três anos, não tiver
constituído uma casa de tijolos no seu campo ou perto dele.
Mesmo o camponês vulgar,
que nem está a tentar estabele- cer-se como lavrador independente, encontra muitas diâculdades. A
pior é o imposto per capita. Para o poderem pagar, a maioria dos camponeses tem que produzir alguma
coisa para vender; mas, mais uma vez, os preços pagos aos produtores africanos são muito baixos.
Por exemplo, em certa região os camponeses recebiam l $00 por quilo de amendoim, pago pêlos comer-
ciantes locais, que o iam revender por 5$00. A outra ameaça comum é a alienação de terras. Em
teoria, as terras tradicionais, diferenciadas das terras que constituem colonatos brancos, pertencem
aos africanos. O artigo 38.° do Estatuto Nativo de 1955 para Moçambique e Angola reafirmou esta
política: "Os nativos que vivem em organizações tribais têm a garantia [...] do uso e desenvolvimento
para as suas cul- turas e pasto do seu gado." Mas sob as pesadas pressões dos colonos europeus,
o Go- verno Português cedeu. Parte da terra nativa foi expropriada, muitas vezes sem compensação,
c entregue a grandes plantações de cana-de-açúcar, de chá ou de sisal, e para instalação de grupos
de imigrantes brancos de Portugal. Aqui temos também testemunho directo das populações afectadas:
Natacha Deolinda (província de Manica e Sofala):
"No Buzi (Beira), os Portugueses
compraram toda a terra. Havia nela algumas aldeias, cujos habitantes foram escorraçados e tiveram
que deixar os seus lares e a sua terra e procurar outra terra para viver. Não receberam compensação
pelas suas casas; foram pura e simplesmente expulsos. Na nossa região, fomos obrigados a sair,
abandonando os nossos campos, e os Portu- gueses plantaram cana-de-açúcar por toda a parte. Não tínhamos
|
|
licença de utilizar os poços que tínhamos aberto; toda a água era destinada à rega da cana. Se um
de nós fosse apanhado com um bocado de cana, era preso, tinha que pagar 50$00 por um bocadinho
dela. Diziam que a tínhamos roubado e, se não tivéssemos dinheiro, a administração mandava-nos tra-
balhar uma semana na plantação supostamente para pagar pelo bocadito de cana-de-açúcar."
Nas áreas onde a terra era roubada para instalação de cam- poneses brancos, e não para desenvolvimento
duma plantação, alguns dos antigos donos africanos recebiam autorização para ficar. Isto traz-nos
a outra das muitas contradições do Moçam- bique governado por Portugal: o estabelecimento dos chamados
"povoamentos multirraciais", nos ricos vales do Limpopo e do Incomati e na bacia do Zambeze, conhecidos
em Portugal por colonatos. O sistema tinha sido idealizado pelos sociólogos de Salazar, que declaravam
impossível a transição, a curto prazo, de um estilo de vida africano para uma sociedade indus- trial
moderna. Propunham então o estabelecimento duma socie- dade agrária, pela instalação de camponeses
portugueses nos projectos governamentais de colonização, nalguns dos quais tinham que tomar parte
os africanos, e pelo desenvolvimento de colónias agrícolas africanas que tornariam possível a assi-
milação económica e espiritual do africano. Parte da motivação deste esquema era apressar o aumento
da população portuguesa de Moçambique. Mas o fim oficialmente declarado era criar uma população
semianalfabeta de portugueses e africanos, deten- tores de valores rurais portugueses, dedicados à
terra, politi- camente conservadores, que absorvesse e desviasse as energias do africano insurrecto,
e o tornasse incapaz de ameaçar os grandes interesses económicos europeus representados por empreendimentos
agrícolas, principal esteio económico da colónia. As primeiras tentativas sérias de realizar
esses povoamentos deram-se nos princípios dos anos cinquenta, e os mais conhe- cidos colonatos
de Moçambique encontram-se nos distritos do
|
|
|
***************************************************************************************
|
|
|
|