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A economia de exploração
A política portuguesa coloca
em linhas paralelas os interesses dos Europeus, como mentores da transformação de regiões atrasadas,
e os interessa dos nativos, como massa a educar para se tornar parte dum futuro povo civilizado.
Assim, Portugal não pode aceitar em termos absolutos o princípio da "primazia dos interesses nativos";
pelo contrário, os seus métodos tradicionais aproximam-se mais daquilo a que Lugard chamou "Dual
Mandate" MARCELO CAETANO, Colonizing Traditions, Principles and Methods of the Portuguese,
Lisboa, 1961.
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O papel das colónias
Segundo a Constituição Portuguesa, o Governo não aceita sequer
um verdadeiro "duplo mandato" a respeito das suas colónias: o seu propósito de manter-se nelas é,
primeiro e acima de tudo, poder explorar sistematicamente os recursos dos terri- tórios, estabelecer
famílias portuguesas nas colónias e regular o movimento dos trabalhadores africanos, incluindo a disci-
plina e protecção dos trabalhadores imigrantes. Todas as outras razões, tais como levantar os padrões
morais e sociais dos habitantes e realizar a justiça social, são consideradas secundárias.
Para compreender a relação económica entre Portugal e as suas colónias, deve primeiro considerar-se
a própria economia de Portugal. Portugal é pequeno e economicamente atrasado.
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O seu território representa uma fracção de Moçambique, com 9 milhões de habitantes, população pouco
mais elevada do que a da colónia. Em 1961, o rendimento nacional total era de 64200000 milhões
de escudos, o que representa um rendimento per capita de cerca de 250 dólares ao ano, um dos mais
baixos da Europa. A sua taxa de desenvolvimento económico é lenta. Tem poucos recursos minerais
e pequena indústria. Em resultado do seu terreno montanhoso e dos métodos agrícolas primitivos, que,
praticados durante séculos, causaram uma extensa erosão do solo, tem falta de terra cultívável.
Todavia, e apesar da escassez de terra, metade da popu- lação trabalha na agricultura, sendo a
situação agravada pela concentração da propriedade nas mãos de poucos e poderosos senhores. 0,4%
dos proprietários de terra possuem 45% da terra, e os 500 maiores latifundiários controlam mais
terra do que os 500 000 pequenos proprietários. O desemprego e o subemprego são endémicos.
A indústria, tal como a terra, está concentrada nas mãos de uns poucos capitalistas. O salário
industrial médio é de cerca de l dólar por dia. Houve sempre uma falta crónica de capital interno,
e a economia baseia-se largamente em inves- timento estrangeiro (até 1930 este era principalmente
inglês, mas desde então a França, a Alemanha e os Estados Unidos tornaram-se importantes fornecedores
de capital). A pobreza da população conduziu a uma extensa emigração clandestina para França,
que o Governo tentou limitar, mas sem resultado. O atraso da economia nacional dá a Portugal uma
balança comercial permanentemente deficitária; as suas principais expor- tações para países estrangeiros
são cortiça, volfrâmio, tecidos de algodão, vinhos e sardinhas, mas em contrapartida tem que importar
quase todos os produtos manufacturados, além dos têxteis que utiliza. Entre 1955 e 1959, o valor
das exporta- ções portuguesas cobria apenas 62% do valor das suas impor- tações; em 1964, atingiu
66%, e desde então a diferença acentuou-se.
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Números de 1964*
Milhões de
Toneladas escudos Importações 5 527 000
22 320 Exportações 3 614 000 14 831
Esta situação
é parcialmente compensada pelas trocas com as "províncias ultramarinas", que sempre mostraram uma
ba- lança de pagamentos favorável em relação com outros países e desfavorável com o próprio Portugal.
Distribuição das trocas comerciais das "províncias ultrama- rinas" em 1963 (em
milhões de escudos)*
Importações
Exportações Total 11 370 9 888
Com Portugal 4 219 3 193 Com países da OCDE
3 628 4 650 Com os EUA 646
1 712
Dados recentes de Moçambique mostram que,durante o 1.° semestre de
1967, houve na balança de pagamentos um saldo negativo de 668 milhões de escudos dentro da zona do
escudo, e um saldo favorável de 343 milhões de escudos rela- tivamente ao resto do Mundo. Já
se pode começar a ver por que é que para Portugal as colónias têm tanta importância: os seus recursos
podem com- pensar a escassez de recursos de Portugal; elas constituem uma saída de emigração para
uma massa de povo pobre e muitas vezes desempregado, que ao mesmo tempo permanece sob a jurisdição
portuguesa, contribuindo para o rendimento nacional e sujeita ao serviço militar; tendo as colónias
uma balança co- mercial favorável em relação a outros países, contribuem para a retenção de reservas
em divisas estrangeiras. Um exame da estrutura económica mostrará com mais pormenores como Por- tugal
tira proveito destes trunfos.
* De Portugal 1967: Any More Questions Please, Portuguese
Information Service.
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