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tencem a famílias católicas. O homem que primeiro comandou o nosso programa de acção militar, o
falecido Filipe Magaia, tinha sido baptizado na Igreja Católica Romana, como o foi Samora Machel,
actual chefe do Exército de Libertação. A maioria dos nossos estudantes ausentes, que fugiram das
escolas portuguesas de Moçambique ou de Portugal, é católica. Quando, em Maio de 1961, mais de cem
estudantes universitários das colónias portuguesas de África fugiram das universidades portuguesas
para Franca, Suíça e Alemanha Ocidental, mais de oitenta de entre eles se declararam católicos ou
vindos de fa- mílias católicas. Não há, portanto, provas que apoiem as acusações portuguesas,
que devem antes basear-se nas finali- dades da Igreja, seus métodos e atitudes que pretende inculcar.
A educação elementar que a Igreja dá aos africanos é de conteúdo altamente religioso, com grande
parte dos horários preenchida por aprendizagem de conhecimentos religiosos. Além disto, o nível
das matérias ensinadas -português, leitura, escrita e aritmética- é muito baixo. Os cursos são orientados
para Portugal. A História e Geografia ensinadas são história e geografia de Portugal. A África é somente
aflorada em ligação com o Império Português. Além disso, grande parte do tempo é passada em trabalho
manual, em prejuízo de matérias acadé- micas. Embora os resultados deste trabalho beneficiem a missão,
não são aceites como compensação das propinas. Tudo isto é ilustrado por este testemunho dum ex-aluno
da missão de Im- buho, Gabriel Maurício Nantimbo (província de Cabo Delgado):
"Eu estudei
na missão, mas o ensino era mau. Primeiro, só nos ensinavam o que queriam que nós aprendêssemos -
o catecismo; não queriam que ficássemos a saber outras coisas. Todas as manhãs tínhamos que trabalhar
nos campos da missão. Diziam que os nossos pais não pagavam a nossa comida ou o nosso material
escolar. A missão também recebia dinheiro do Governo, e as nossas famílias pagavam propinas. Depois
de 1958 os nossos pais até tinham que pagar as enxadas com as quais cavávamos a terra da missão."
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No decorrer da educação, a Igreja naturalmente tenta instilar nos alunos atitudes políticas
e morais, e em relação com isto é importante examinar o papel da Igreja para com o Estado Português.
Em geral, a hierarquia católica portuguesa apoia o programa do regime de Lisboa na metrópole e ultramar.
E o Vaticano pouco faz para alterar esta relação. Na realidade, na sua visita a Portugal em 1967,
o Papa fez uma dádiva, de 4 410 000$00 ao Governo Português, para "uso ultramarino", e nomeou
o Cardeal de Lisboa Bispo das Forcas Armadas Portuguesas, com o posto de brigadeiro. A atitude do
Governo para com a Igreja está claramente expressa numa declaração feita em 28 de Agosto de 1967
pelo subsecretário da Administra- ção Ultramarina: "Quando o Estado confia às missões católicas parte
do trabalho de educação, o Estado tem a certeza de que as missões trabalharão para o bem comum na
tarefa que lhes é confiada. E quando a Igreja aceita esta tarefa, a Igreja também fica certa de
que o Estado escolheu o melhor caminho para defender os interesses que é seu dever defender. Disto
podemos concluir que, no auspicioso trabalho que durante séculos têm levado a efeito em África,
as actividades da Igreja e do Estado continuarão em perfeita harmonia, conduzidas pelos mesmos ideais."
Para muitos católicos portugueses, ser católico e ser por- tuguês são uma e a mesma coisa. E
não conhecemos caso algum, durante os últimos quarenta anos, em que a Igreja Católica de Portugal
se sentisse obrigada a protestar oficialmente contra os muitos actos de selvajaria do Governo Português
contra o povo africano. Pelo contrário, os mais altos dignitários da Igreja tenderam sempre a dar
apoio à política e conduta do Governo. A única excepção a esta regra foi a posição dum chefe da
Igreja em Moçambique, o Bispo da Beira, D. Sebastião Soares de Resende. Durante vários anos ele atreveu-se
mesmo a questionar o Governo pelo tratamento dado aos cultivadores de algodão negros. Nas suas
cartas pastorais mensais, publicadas num periódico da Igreja, criticou frequentemente a forma como
o Governo punha em prática parte da sua política africana.
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O Bispo Resende é um dos liberais portugueses que acreditam na possibilidade de criar na África um
novo Brasil, onde a cultura portuguesa possa florescer mesmo depois da indepen- dência. A impressão
que se tem da sua posição, através dalgumas das suas pastorais e dum jornal diário cuja direcção lhe
é atribuí- da, é de que ele só pode conceber um Moçambique indepen- dente dentro duma comunidade
de interesses portugueses, cul- turais, religiosos e económicos. A sua intenção era liberalizar a
política, em lugar de a mudar radicalmente. Mas quando, finalmente, algumas das suas opiniões começaram
a aborrecer o regime de Salazar, recebeu do Vaticano ordem para se abster de as publicar. Subsequentemente,
o Governo cortou alguns dos privilégios de que anteriormente gozava, particularmente tirando-lhe
as responsabilidades de director da única escola secundaria existente na Beira. A declaração
mais clara, jamais feita por um dirigente da Igreja Portuguesa, sobre a questão da autodeterminação
e da independência veio do Mons. Custódio Alvim Pereira, Bispo Auxiliar de Lourcnço Marques. Se
a sua posição é considerada representativa da Igreja Católica Romana, então a Igreja é ine- quivocamente
contra a independência. Numa recente circular, lida em todas as igrejas católicas e seminários de
Moçambique, o Bispo definiu dez pontos cuja finalidade era convencer o clero de que a independência
do povo africano era não só um erro, mas também contraria à vontade de Deus. A decla- ração diz:
"1. A independência não conta para o bem-estar do homem. Pode ser boa se existirem as condições
adequadas (as condições culturais ainda não existem em Moçambique).
2. Enquanto estas
condições não forem criadas, tomar parte em movimentos pró-independência é agir contra a natureza.
3. Mesmo se existissem estas condições, a Metrópole tem o direito de se opor à independência
se as liberdades e os direitos do homem forem respeitados e se (a Metrópole)
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