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DOCUMENTOS DO IMPÉRIO


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EDUARDO MONDLANE

1968


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   Ao promover  estes objectivos políticos, o Governo Por-
tuguês decretou que uma só língua, o português, fosse ensinada
nas escolas sob a sua jurisdição em África. As línguas africanas
são utilizadas principalmente como meio de facilitar o ensino
do português, mas mesmo isto é raro. Quaisquer que sejam
os projectos a longo prazo para atingir este fim, o resultado
foi entretanto o aparecimento de uma classe pouco numerosa,
que olha com  desprezo para a sua própria língua e cultura tra-
tradicional, mas não é suficientemente instruída para falar
e escrever português eficientemente.
   Partindo do princípio de que a unidade política se baseia
na unidade moral, os Portugueses deram grande importância à
religião na educação dos africanos. A Constituição Portuguesa
especifica uma preferência pelo catolicismo entre as confissões
religiosas; 98 por cento do povo de Portugal metropolitano
são compostos de católicos romanos, e a lei e a prática portuguesa
dos últimos anos restauraram largamente a união Igreja-Estado
existente antes da República*.
   Na  presunção de que o estabelecimento dum elo espiritual
entre a mãe-pátria e os seus territórios ultramarinos é vital para
o estabelecimento da desejada coerência política, o regime de
Salazar encorajou a difusão do catolicismo  em  África e
   
   * Depois  da queda  da monarquia  em  1910, Portugal foi oficialmente
secularizado,.mas a separacão da Igreja e do Estado nunca foi totalmente realizada.
Cerca  de 1919, foram  restituídos a Igreja os subsídios para estabelecimentos
de ensino. Em 1926, quando o regime de Salazar tomou conta do Poder, depois
de uma  década  de violência e instabilidade, o papel especial da Igreja na civi-
lização da África foi oficialmente**  reconhecido. Pelo Acto Colonial
de 1930,
as missões católicas foram colocadas em situaçlo privilegiada entre os grupos
religiosos, com fundamento no princípio de o catolicismo representar a religião
nacional e ser, portanto, "instrumento" lógico da civilizacão e influência nacionaL
O  Acordo  Missionário de 1940 e o seu suplemento, o  Estatuto Missionário
de 1941, restauraram o pagamento de compensação por toda a propriedade
confiscada pelos regimes anteriores e salientaram o caracter nacional das missões
católicas. Um decreto de 1941 proibiu a atribuição de subsídios a outras missões
que não  fossem  portuguesas e católicas.

endossou a educação elementar dos africanos a escolas missio-
nárias católicas subsidiadas pelo Governo.

Sistemas de ensino

   Há   duas  categorias no sistema  escolar dos territórios
portugueses: 1) as escolas das missões católicas romanas, cuja
principal função é ministrar aos africanos a instrução primária;
2) o sistema escolar oficial, mais sofisticado, destinado aos
brancos, asiáticos e assimilados.
   As escolas para africanos estão organizadas do  seguinte
modo:

   Ensino  rudimentar (chamado  ensino de adaptação depois de
1956, ou ensino missionário) - Segundo a Lei n.° 238, de 15 de
Maio de 1930, e a Concordata de 1940, a finalidade desta educa-
ção "rudimentar" é "conduzir gradualmente o indígena duma vida
de selvajaria a uma vida civilizada". Este programa é da inteira
responsabilidade das missões católicas, embora algumas missões
protestantes tenham autorização para também dirigir algumas
escolas. Os anos deste ensino são chamados: iniciação (jardim-
-de-infância), 1.ª classe (1.° grau) e 2.ª classe (2.° grau).
   Ensino primário - Este programa  destina-se aos alunos que
passaram  o ensino de adaptação. Compreende a 3.ª classe, 4.ª classe
e admissão (preparação para admissão ao liceu).
   As escolas para europeus, assimilados e outros são organi-
zadas do seguinte modo:
   Ensino primário, programa  de cinco classes (desde 1952,
em que foi acrescentada a 5.ª classe), das quais a última é obri-
gatória para entrada no liceu.
    Ensino liceal, que inclui o 1.º ciclo (dois anos), o 2.º ciclo
(três anos) e o 3.º ciclo (dois anos). O 3.° ciclo destina-se àqueles
que se preparam para entrar numa  Universidade Portuguesa.
   Até 1940, todos os programas para africanos eram planea-
dos pelo Departamento de Educação e Instrução no território;
os exames eram feitos pelo Estado, e os diplomas eram dados
unicamente pelo director da Educação. De  1940  a 1960, a
Igreja Católica encarregou-se de elaborar os programas, e os
exames e diplomas eram da sua responsabilidade.
   A  elaboração de programas está agora confiada ao Minis-
tério da Educação em Lisboa, dentro da linha de reorganização
das colónias africanas em provindas ultramarinas portuguesas,
e os inspectores da repartição territorial do director de Ins-
trução Pública fazem  visitas periódicas às escolas das missões.
Está, contudo, implicitamente entendido que nenhum inspec-
tor do Governo pode  visitar uma escola católica sem a licença
e cooperação das autoridades religiosas. A Secretaria do Arce-
bispo de Lourenço Marques  é o centro da autoridade educa-
cional de Moçambique, assim como o de Angola dirige as
escolas de Angola e S. Tomé. Em todas as escolas para africa-
nos em Angola, Moçambique e Guiné Portuguesa há unifor-
midade de  programas, exceptuando algumas variações locais.
   Praticamente, as  três fases de instrução -  rudimentar,
primária e secundária-  estão organizadas de modo a apre-
sentar uma  série de barreiras à criança africana que procura
educação superior.
   O  programa  do ensino de adaptação, equivalente ao jardim-
de-ínfância e aos dois primeiros graus  na maior  parte dos
outros territórios africanos, é designado, em teoria, para iniciar
as crianças africanas na língua portuguesa e nos rudimentos
de leitura, escrita e aritmética, trazendo-as ao nível da criança
portuguesa, no começo da escola primária. Todavia, em muitas
regiões, os filhos de mulatos e asiáticos foram obrigados a pas-
sar pelos três anos de ensino rudimentar, embora tivessem sido
criados num meio de língua portuguesa, e podiam ter começado
a escola primária ao mesmo nível que as crianças portuguesas;
enquanto que, em outras zonas, os filhos de asiáticos ou de pais
não europeus, que não nasceram num meio familiar de língua
portuguesa, são autorizados a entrar logo na escola primária
oficial. Sendo o ensino, desde o princípio, feito em português,
muitas crianças africanas são incapazes de passar os exames
de adaptação (que normalmente são feitos após três anos de
instrução), antes de atingirem 12 a 14 anos de idade. Sendo

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