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uma grande parte trabalha em ocupações muitíssimo humildes: há artesãos brancos, pequenos lavradores,
mesmo operários brancos. A razão disto é o baixo nível educacional e a pobreza espalhada no próprio
Portugal. Muitos dos imigrantes das colónias eram pobres camponeses em Portugal; 50 por cento dos
imigrantes são analfabetos, e em maior proporção ainda não qualificados. Ao estudar o carácter do
colonialismo por- tuguês, Gilberto Freire* faz o elogio do que atrás fica dito, defendendo que,
em razão da sua pobreza e antecedentes rurais, os imigrantes portugueses misturavam-se melhor com
o povo das colónias e não tinham um sentido inato de su- perioridade. Isto não é, contudo, comprovado
pela experiência dos Africanos em Moçambique. Os colonos portugueses ultrapassaram muitas vezes
o Governo no que diz respeito a racismo. Em Tete, em 1948, por exemplo, quando pela primeira vez
as autoridades permitiram aos filhos dos não brancos que frequentassem a escola primaria local, os
colonatos brancos protestaram vigorosamente; e quando verificaram que os seus protestos não davam
resultado, teimaram em querer que duas filas de carteiras ficassem vazias para separar os seus filhos
das crianças de cor. Há pouco tempo, um colonato onde o Governo tinha instalado um ou dois africanos
juntamente com os brancos, os brancos implicavam constantemente com os africanos e, pelo menos
numa ocasião, bateram num deles, danificaram-lhe a casa e ameaçaram-lhe a mulher. Este e muitos casos
semelhantes presenciados ou conhecidos por mim podem ser incidentes isolados; mas o terreno para atritos
existe dentro do sistema. Mesmo quando os portugueses recém-chegados são ao princípio pouco mais
do que os africanos, as diferenças de salário, preferência nos empregos e assistência especial do
Governo na exploração agrícola não deixam de mudar-lhes rapidamente a situação e o ponto de vista.
Mas o camponês analfabeto pobre ganha muito melhor em Moçambique do que em Portugal. Além disso,
o facto de que muitos brancos têm
* Gilberto Freire, Integração Portuguesa nos Trópicos,
1958.
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falta de instrução e à chegada são pobres coloca-os em compe- tição directa com o Africano. Para eles,
o Africano é uma ameaça potencial; para o Africano, não há justificação para a situação superior
do branco. Como não existe democracia dentro do sistema fascista, mesmo para os cidadãos com
plenos direitos cívicos e voto, existem atritos entre os próprios brancos e as autoridades. Contudo,
como é o Governo que garante ao branco a sua posição privilegiada, poucos colonos têm apoiado o
desejo de independência dos Africanos. Nalguns casos, como já foi dito, os atritos entre colonos
provêm da exigência de medidas mais fortes contra os Africanos e maior grau de segregação racial.
Noutros, exigem simplesmente um maior grau de liber- dade para a sua minoria. Houve há algum tempo
em Moçam- bique um grupo de oposição liberal ao estabelecimento do estado fascista, tal como
existia em Portugal, mas actualmente este movimento está virtualmente silenciado. Há brancos, na maioria
intelectuais, cujas convicções antifascistas e oposição a Salazar são fundamentais; apoiam o movimento
de libertação; e alguns até se juntaram à resistência. Em certas áreas da luta actual, o Governo
achou necessário castigar os civis brancos quando estes não mostravam suficiente e activa oposição
aos guerrilheiros. Assim, mesmo a minoria branca não é um corpo homogéneo, identificado com o governo
colonial.
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