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movimento nacionalista. Todavia a sua posição privilegiada em relação ao Africano prejudicou a sua
actividade, e mesmo o seu pensamento político. Eles podem ter querido ser porta- -vozes do protesto
da massa da população, mas estão longe dela. Porque há entre eles um abismo mais profundo do que
aquele que habitualmente separa o intelectual politizado do proletariado sobre o qual ele discorre.
Muitas vezes nem sequer talam a mesma língua. Eles têm tentado regressar pela via emocional às
suas origens africanas, ao lado africano da sua cultura. Este facto verifica-se nalguns temas comuns
da poesia de Craveirinha, de Noémia de Sousa, e nos primeiros trabalhos de Marcelino dos Santos:
a negra figura maternal, represen- tante da sua própria mãe africana; a própria África, a mãe- -pátria;
a uma fusão poética entre as duas ideias. Noémia de Sousa, por exemplo, escreve num poema chamado
"Sangue negro":
Ó minha África misteriosa, natural ! minha virgem violentada
! Minha Mãe!...
Como eu andava há tanto desterrada de ti, alheada
distante e egocêntrica por estas ruas da cidade engravidadas de estrangeiros Minha
Mãe ! perdoa ! ............................................................. Mãe ! minha mãe
África, das canções escravas ao luar, Não posso, NÃO POSSO, renegar o Sangue negro,
o sangue bárbaro que me legaste... Porque em mim, em minha alma, em meus nervos,
[ele é mais forte que tudo !
Eu vivo, eu sofro, eu rio, através
dele. Mãe!...
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Esta atitude de espirito exprime o dilema em que se en- contra o mulato. Por um lado, pode obter
uma posição de relevo dentro das estruturas portuguesas; muitos dos mais conhecidos intelectuais
moçambicanos são mulatos, e a vida artística do país, em particular, é dominada por personalidades
como José Craveirinha. Por outro lado, quando atingem certo nível profissional, fecham-se-lhes na
cara as portas da pro- moção; se protestam, ou se começam a mostrar interesse activo nos assuntos
políticos do seu país, vêem-se desacreditados e sujeitos à repressão sob qualquer forma. Bem cedo
come- çaram a pensar em termos de revolta nacionalista, mas o seu afastamento da população africana
genuína deixou-os sem base para transformarem esses ideais em acção.
Asiáticos e Europeus
A restante minoria não branca de certa importância é o Asiático, especialmente indianos juntamente
com alguns paquis- taneses. A população árabe originaria da região costeira inte- grou-se na
população africana, e aqueles que conservaram características distintas pertencem a um grupo periférico
de comércio, muito semelhante a uma parte da comunidade indiana. Há, de facto, uma divisão importante
na comunidade indiana, que a separa em dois grupos com características e funções sociais diferentes.
Primeiro, os Indianos ou Paquistaneses do subcontinente tradicional. São, na maioria dos casos,
de religião hindu ou muçulmana, têm habitualmente pequenos estabelecimentos comerciais - cantinas
no mato, pequenas lojas nas cidades - e constituem uma comunidade relativamente fechada, com poucos
contactos com os Africanos, Europeus, ou ainda com os membros de outras comunidades indianas. Em
geral, são muito semelhantes aos outros grupos asiáticos doutros pontos da África oriental, e estão
também na periferia da vida política do país. O segundo grupo de asiáticos são os Goeses. No século
XIX, Portugal não conseguiu fixar muitos europeus em Mo-
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çambique, mas persuadiu os Goeses a imigrarem para aquele território. A pequena colónia de Goa tinha
sofrido muito mais a influência portuguesa do que qualquer território africano, e estes imigrantes
eram muitas vezes mais portugueses do que indianos: sabiam português e, em alguns casos, tinham mesmo
adoptado a língua e falavam português entre si; eram princi- palmente católicos. Eram portanto considerados
"agentes civi- lizadores úteis" pelos Portugueses, e muitos deles eram recru- tados para o funcionalismo
público. Actualmente ainda há grande número de goeses na administração e bastantes nas várias
profissões, particularmente medicina e advocacia. Teori- camente, como no caso dos mulatos, todos
os asiáticos porta- dores de passaporte português têm os mesmos direitos e opor- tunidades que
os cidadãos portugueses europeus; mas, na prática, existem iguais limitações na "igualdade". Todavia,
há, de modo geral, menos atritos, em parte porque a situação familiar dos Goeses é mais estável,
e também porque é imenso o poder da Igreja Católica na comunidade goesa. Isto significa que todos
aqueles que reagiram contra os Portugueses - e muitos intelectuais goeses deram vigoroso apoio aos
movi- mentos nacionalistas - vão encontrar-se muitas vezes em confronto não só com os Portugueses,
mas também com a sua própria comunidade e mesmo com as suas próprias famílias. A própria minoria
branca é composta, por um lado, por fun- cionários, administradores e pessoal militar enviados de
Portu- gal por algum tempo, especificamente para servir o Governo; por outro lado, por colonos
permanentes, na maioria portu- gueses de origem, mas com uns salpicos de gregos, italianos, sul-africanos
e de outras nacionalidades. É política do Governo incitar os membros do primeiro grupo, em especial
os soldados, a ficar na colónia, oferecendo-lhes concessões de terras, e por isso alguns deles
se tornam colonos quando acabam o tempo de serviço. O segundo grupo é bastante diferente de outras
pequenas minorias brancas comparáveis de outros pontos da África, porque, embora alguns membros monopolizem
quase todos os lugares importantes no comércio e nas profissões,
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