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DOCUMENTOS DO IMPÉRIO


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EDUARDO MONDLANE

1968


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movimento nacionalista. Todavia a sua posição privilegiada
em  relação ao Africano prejudicou a sua actividade, e mesmo
o seu pensamento político. Eles podem ter querido ser porta-
-vozes do protesto da massa da população, mas  estão longe
dela. Porque há entre eles um abismo mais profundo do que
aquele que  habitualmente separa o intelectual politizado do
proletariado sobre o qual ele discorre. Muitas vezes nem sequer
talam a mesma língua. Eles têm tentado regressar pela via
emocional às suas origens africanas, ao lado africano da sua
cultura. Este facto verifica-se nalguns temas comuns da poesia
de Craveirinha, de Noémia de Sousa, e nos primeiros trabalhos
de Marcelino  dos Santos: a negra figura maternal, represen-
tante da sua própria mãe africana; a própria África, a mãe-
-pátria; a uma fusão poética entre as duas ideias. Noémia de
Sousa, por exemplo, escreve num poema chamado "Sangue
negro":

   Ó  minha África misteriosa, natural !
    minha virgem violentada !
            Minha Mãe!...

    Como  eu andava há tanto desterrada
    de ti, alheada distante e egocêntrica
    por estas ruas da cidade engravidadas de estrangeiros
           Minha  Mãe ! perdoa !
.............................................................
   Mãe ! minha mãe África,
   das canções escravas ao luar,
   Não  posso, NÃO POSSO, renegar
   o  Sangue negro, o sangue bárbaro
   que me  legaste...
   Porque em mim, em minha alma, em meus nervos,
                           [ele é mais forte que tudo !

   Eu vivo, eu sofro, eu rio,
   através dele.
             Mãe!...

   Esta atitude de espirito exprime o dilema em que se en-
contra o mulato. Por um lado, pode obter uma posição de
relevo dentro  das estruturas portuguesas; muitos dos  mais
conhecidos intelectuais moçambicanos são mulatos, e a vida
artística do país, em particular, é dominada por personalidades
como José Craveirinha. Por outro lado, quando atingem certo
nível profissional, fecham-se-lhes na cara as portas da pro-
moção;  se protestam, ou se começam  a mostrar interesse
activo nos assuntos políticos do seu país, vêem-se desacreditados
e sujeitos à repressão sob qualquer forma. Bem cedo come-
çaram a pensar em termos de revolta nacionalista, mas o seu
afastamento da população africana genuína deixou-os sem base
para transformarem esses ideais em acção.

Asiáticos e Europeus

   A  restante minoria não branca de certa importância é o
Asiático, especialmente indianos juntamente com alguns paquis-
taneses. A população  árabe originaria da região costeira inte-
grou-se na   população africana, e aqueles que conservaram
características distintas pertencem a um grupo periférico de
comércio, muito semelhante a uma parte da comunidade indiana.
Há, de facto, uma divisão importante na comunidade indiana,
que a separa em dois grupos  com características e funções
sociais diferentes.
   Primeiro, os Indianos ou Paquistaneses do subcontinente
tradicional. São, na maioria dos casos, de religião hindu ou
muçulmana,  têm habitualmente pequenos estabelecimentos
comerciais - cantinas no mato, pequenas lojas nas cidades -
e constituem uma comunidade relativamente fechada, com
poucos contactos com os Africanos, Europeus, ou ainda com
os membros  de outras comunidades indianas. Em geral, são
muito semelhantes aos outros grupos asiáticos doutros pontos
da África oriental, e estão também na periferia da vida política
do país. O segundo grupo de asiáticos são os Goeses. No século
XIX, Portugal não conseguiu fixar muitos europeus em Mo-
çambique, mas persuadiu os Goeses a imigrarem para aquele
território. A pequena colónia de Goa tinha sofrido muito
mais a influência portuguesa do que qualquer território africano,
e estes imigrantes eram muitas vezes mais portugueses do que
indianos: sabiam português e, em alguns casos, tinham mesmo
adoptado  a língua e falavam português entre si; eram princi-
palmente  católicos. Eram portanto considerados "agentes civi-
lizadores úteis" pelos Portugueses, e muitos deles eram recru-
tados para o funcionalismo público. Actualmente ainda há
grande  número  de goeses na administração e bastantes nas
várias profissões, particularmente medicina e advocacia. Teori-
camente, como no  caso dos mulatos, todos os asiáticos porta-
dores de passaporte português têm os mesmos direitos e opor-
tunidades que  os cidadãos portugueses europeus;  mas, na
prática, existem iguais limitações na "igualdade". Todavia, há,
de modo geral, menos atritos, em parte porque a situação
familiar dos Goeses é mais estável, e também porque é imenso
o poder da Igreja Católica na comunidade goesa. Isto significa
que todos aqueles que reagiram contra os Portugueses - e
muitos  intelectuais goeses deram vigoroso apoio aos movi-
mentos  nacionalistas -  vão  encontrar-se muitas  vezes em
confronto não só com os Portugueses, mas também com a
sua própria comunidade e mesmo com as suas próprias famílias.
   A própria minoria branca é composta, por um lado, por fun-
cionários, administradores e pessoal militar enviados de Portu-
gal por algum tempo, especificamente para servir o Governo;
por outro lado, por colonos permanentes, na maioria portu-
gueses de origem, mas com  uns salpicos de gregos, italianos,
sul-africanos e de outras nacionalidades. É política do Governo
incitar os membros do primeiro grupo, em especial os soldados,
a ficar na colónia, oferecendo-lhes concessões de terras, e por
isso alguns deles se tornam colonos quando acabam o tempo
de serviço. O  segundo  grupo é bastante diferente de outras
pequenas minorias brancas comparáveis de outros pontos da
África, porque, embora alguns membros monopolizem quase
todos os lugares importantes no comércio e nas profissões,

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