
A ARTE RUPESTRE - OS AMURALHADOS em MOÇAMBIQUE
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Pinturas rupestres da região de Samo, no Distrito de Tete
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A designação geral de arte rupestre dada a todas as inscrições pintadas ou gravadas na pedra parece
não corresponder ao seu exacto significado. Será que haja manifestação de arte no simples traçado de
linhas, que traduz, na sua enigmática expressividade, apenas símbolos de hábitos, costumes, religião,
et c. ?... Parece dever distinguir-se aquilo que é sem dúvida arte, do que representa apenas traços
picturais rupestres.
A nota dominante das regiões das pinturas rupestres ê a sua pouca acessibilidade
e a natureza caracterísadamente rochosa dos terrenos, onde se situam. Este aspecto estava de harmonia
com a intenção dos artistas de conservar perduráveis as pinturas, na escolha de telas de duração "eterna";
de utilizar tintas que se mantêm quase indefinidamente, e em aproveitar lugares protegidos do contacto
directo do Sol e da acção destruidora da humidade e da chuva. A imagem colhida nas proximidades no local
das Pinturas de Samo mostra como é a região. Os "cactos" que se vêem ao centro da Fig. l serviram de
orientação ao guia, como marcos do nosso itinerário.
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A caminho das Pinturas Rupestres de SAMO
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Chiuta e Casula são as sedes de dois Postos Administrativos, que têm estes nomes e se encontram
ligados por estrada, que percorremos, numa distância de trinta e nove quilómetros. Tomámos, seguidamente,
a estrada que segue para Vuende. Onze quilómetros após, deixámos a viatura para, em marcha de "corta-mato",
através de terreno acidentado e seguindo a direcção Oeste, atingirmos, ao fim de três quartos de hora,
a região de Samo, na área do Posto de Chiuta, onde se acham as pinturas rupestres. Um cipaio serviu-nos
de guia. Encontrámo-lo à nossa espera no entroncamento daquelas duas estradas, trazendo uma missiva do
administrador do posto, que lhe servia de identificação e que dizia: "Há-de aparecer europeu do Governo-Capitão
- que vai ver as pinturas que não prestam (rupestres) de Samo. Você vai acompanhar".
As Figs.
2 e 3 completam-se, constituindo a primeira, no seu aspecto geral, o que a segunda é em ampliação, correspondente
ao canto superior esquerdo daquela. São numerosos os desenhos que na Fig. 2 se observam, sem no entanto,
se repetirem. Parece haver analogia de significado nos traços verticais. Contam-se seis destes, dispostos
paralelamente e curvados superiormente como que a formar uma forquilha semelhante a um instrumento de
lavoura; e mais três, à direita, também dispostos paralelamente cujo sentido nos parece idêntico. Por
sobre estes traços há um círculo com nove radiais, e mais outro desenho, constituído por vá/ias circunferências,
feitas com traços finos, concêntricas, formando como que uma espiral. Ao conjunto de desenhos, situados
no canto superior, segue-se (centro da Fig. 2) uma linha sinusoidal, envolvida por um arco de circunferência,
formando como que urna série de dentes de diferentes dimensões. Inferiormente, do lado direito, aparecem
várias circunferências concêntricas, que a Fig. 6 assinala com maior nitidez.
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Conjunto de pinturas rupestres de maior interesse dentre as existentes na Região de Samo.
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Valores picturais, cujo significado exacto se desconhece.
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Completa a presente figura, em alguns dos seus pormenores, o que se descreveu na legenda da Fig.
2. Descobrem-se como que várias fitas, de traçado irregular, com cerca de um metro e sessenta centímetros
de comprimento. Duas naturezas de desenhos ressaltam à primeira observação, uma de traçado fino, regular,
traduzido por circunferências ou elipses concêntricas; outra, constituída por desenhos mais grosseiros
e carregados de tinta. A nitidez relativa das imagens fotográficas não evita que o exame se torne deveras
difícil. Numerosos traços mostram-se interrompidos, mal se adivinhando outros, por já se encontrarem
quase sumidos. Toda a interpretação terá necessariamente de se basear em hipóteses. Limitamo-nos a fazer
sucinta descrição dos traçados que parecem ter maior valor significativo. De quanto ficou patenteado
resulta a certeza de ausência de figuras humanas e de animais. Parece haver sobreposição de desenhos
de épocas diferentes.
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A designação "que não prestam" tem ajustado significado. Ë, aparentemente, expressão pejorativa
atribuída às pinturas, mas tem um propósito: o de criar no espírito do nativo a ideia de que se trata
de pinturas sem importância, levando-o, deste modo, a desinteressar-se por elas e a criar um ambiente
de protecção às pinturas. Assim, pelo menos, nos explicaram. A região está integrada num maciço rochoso.
As pinturas encontram-se num bloco de pedra que tem cerca de oito metros de altura. Numa superfície de
quatro metros de largura por dois e meio de altura descobre-se o primeiro conjunto das pinturas, representado
por desenhos de forma geométrica irregular, ressaltando entre eles, as linhas sinusoidais, as espirais,
os semi-círculos e círculos, a par de segmentos de recta paralelos, cruzados, etc. Não se encontram representações
de animais. Nada, pelo menos, o leva a crer. Nenhum animal, com efeito, se pode identificar, a menos
que se interpretem aquelas espirais ou os círculos com suas radiais, como espécimes marinhas, o que não
julgamos de aceitar. As pinturas são da cor de ocre. Os círculos, pintados a cheio com ou sem radiais,
lembram a imagem do Sol. Salientam-se, igualmente, os traços verticais que, nos seus conjuntos, podem
ser interpretados como utensílios de lavoura. A figuração pode também sugerir em alguns dos desenhos,
espécies de uma flora bizarra. Não obstante a dúvida, é grande o interesse que as pinturas despertam,
sem contudo revelarem qualquer valor artístico. Todo o enorme rochedo, pesando certamente muitas centenas
de toneladas, apresenta além daquelas, numerosas pinturas, que já mal se distinguem. Do lado do rochedo
voltado ao Sul, há um novo tipo de desenho (Figs. 7 e 8), semelhante a uma vazilha, cesta ou cabaça aberta
superiormente, com suas paredes, preenchidas a traços paralelos, que, na parte terminal, se curvam
ligeiramente, segundo o contorno exterior. Sobre esta pintura vê-se um traço que quase a envolve pelo
lado direito e que engrossa na extremidade, lembrando a cauda de um animal, sem, no entanto dever ter
tal interpretação. Não há uma orientação comum nos vários traçados, que nos permita tirar conclusões.
O fértil espírito de imaginação do artista ou artistas que os realizaram, parece não se deter sobre nenhum
tema em particular.
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Expressiva representação pictural do Painel de Samo.
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Traçados labirínticos, com predomínio de linhas curvas. Aspecto com valor decorativo, sem, no
entanto, parecer ser esse o propósito do artista. Há analogia das trajectórias dos traçados com os do
gretado da rocha. Traços grosseiros, sem prejuízo da harmonia do enigmático conjunto, particularmente
expressivo.
O tempo quase fez desaparecer muitas das imagens; no entanto, um exame atento consegue
revelá-las. Há círculos, circunferências concêntricas, grosso traçado de linhas que parece acompanhar
o gretado natural da rocha, a par de segmentos de recta horizontais,dispostos paralelamente, quer de
dimensões iguais ou diferentes.
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Expressiva representação pictural do Painel de Samo.
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Os círculos e as circunferências, bem como os traços verticais, oblíquos e horizontais, completam
os motivos principais destas imagens.
O desenho mais importante desta figura situa-se à esquerda
e não se repete em mais nenhuma outra das fotografias presentes. Dir--se-ia não fazer parte do painel.
As circunferências concêntricas, formando aparentemente uma espiral, igual às que observámos nas Figs.
2 e 3 mostram que, realmente, se integram nele. A interpretação daquele desenho pode basear-se na sua
aparente semelhança com um instrumento de lavoura.
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Pormenor das pinturas rupestres, visto do lado Oeste.
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Sobre a tela grandiosa da Natureza, a presença indelével do Homem.
Lado Sul do Painel do
Samo. Dois desenhos são claramente visíveis nesta imagem: o que representa algo de semelhante a uma vazilha
ou cabaça, e o que envolve esta, formado por um traço, cuja extremidade engrossa como se fora aparte
terminal da cauda de um animal. Este conjunto encontra-se do lado Sul do grande Rochedo de Samo, que
é o mais protegido do Sol e da chuva, pois possui na sua frente algumas rochas que servem de anteparo.
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O espírito humano assinala, expressivamente, por toda a parte, o voto de permanência eterna.
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A cavidade natural, que se vê na figura, está situada no lado Sul do maciço rochoso. É nesta cavidade
que se encontram, como vimos (fig 7), as pinturas rupestres ali descritas; na Fig. 8, encontram-se na
parte superior e ao centro. Também a grandeza do ambiente é susceptível de ser reconhecida pelo imponente
aspecto da rocha que constitui, apesar disso, uma parte mínima do grande maciço ou "Ilha".
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NOTA: - Click nas figuras para as ver ampliadas. Com o "back" do browser regresse a esta página.
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