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perto de Lourenço Marques, que terá capacidade de 170 000 toneladas e necessitará de um investimento
de 250 milhões de escudos. Todos estes desenvolvimentos da indústria extractiva e transformadora
trazem para Moçambique grandes quantidades de capital estrangeiro e aumentarão certamente o rendimento
nacional total do país. A expansão económica atribuída a estes investimentos é, contudo, extremamente
superficial; não está a realizar, nem mesmo é provável que realize a longo prazo, muito efeito
no baixíssimo nível de vida geral do país. Porque, essencialmente, a natureza dos projectos tem sido
ditada pelos interesses dos investidores e do Governo Português, não pelas necessidades de Moçambique.
Há três importantes factores que impedem este tipo de desenvolvimento de dar à maioria da população
quaisquer benefícios substanciais. Primeiro, porque a maioria das novas unidades fabris estão
situadas nos dois maiores centros urbanos, Beira e Lou- renço Marques, e qualquer melhoria de salários
e condições industriais que possa resultar da sua presença (nenhum melho- ramento importante é
ainda evidente) seria extremamente loca- lizada nos seus efeitos. Menos de 4% dos africanos vivem
nestas duas cidades, e mesmo a actual taxa de industrialização é apenas suficiente para absorver o
actual e gradual aumento na força de trabalho urbana. A crescente prosperidade nestas cidades poderia
afectar as regiões rurais do interior; mas num grande país como Moçambique, com a sua fraca rede de
comu- nicações, não resultará em melhores condições para a grande maioria da população rural. A
indústria de extracção de petróleo, embora situada nas regiões rurais e espalhada numa vasta área,
também não pode beneficiar muita da população, porque neces- sita essencialmente de muito pouca mão-de-obra
local. O segundo factor está relacionado com a utilização do rendimento da nova indústria.
Pode-se opor o argumento de que a concentração do grande capital, a indústria que exige pouca mão-de-obra,
virão ainda assim a beneficiar todo o país pelo aumento de rendimento para o Governo. Em Moçambique,
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porém, a quota-parte do Governo no rendimento não é cana- lizada pata os serviços sociais tão necessários,
mas para a guerra: em 1967, a parte de contribuição de Moçambique para a manutenção das forças
armadas portuguesas foi fixada em 838 milhões de escudos, obtidos do rendimento local. A fim de
fazer face a esta despesa, os outros investimentos do Governo tinham de ser cortados. Assim, enquanto
em 1967 o investi- mento na despesa aumentou 20%, as verbas para a agricultura e para o repovoamento
florestal eram reduzidas em 30%, e as verbas de obras públicas, em 50%*. Em terceiro lugar,
o Governo está a conceder termos tão favoráveis para atrair o investimento que está a sacrificar muito
do seu rendimento potencial, concedendo longos períodos de trabalho isentos de impostos e a total
exportação dos lucros. Em 1963, por exemplo, quando se fundou a Câmara de Comércio Luso-Sul-Africana,
em Joanesburgo, para financiar o desenvol- vimento em Moçambique, o Governador-Geral acedeu, entre
outras coisas, a conceder às companhias estrangeiras um período de dez anos de isenção de impostos.
Em 1967, um relatório do Handelsinstitut sul-africano salientou a necessidade de garantias para
que fossem repatriados o capital e os lucros, e recomendava vantagens fiscais para as novas indústrias.
Os termos de inves- timento concedidos são muitas vezes tão favoráveis aos inves- tidores, e oferecem
à administração de Moçambique tão pouco lucro financeiro, que parece evidente que as concessões ao
capital estrangeiro se destinam mais a assegurar vantagens políticas do que a abrir o caminho a um
progresso económico real.
Cabora Bassa e o vale do Zambeze
O esquema do vale
do Zambeze é a pedra angular dos planos de Portugal para o desenvolvimento de Moçambique. O próprio
vale do Zambeze em si é já uma das mais ricas áreas
* Assembleia Geral das Nações Unidas,
23.ª sessão, A/7200/Add3
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agrícolas, e recentemente ali se descobriram quantidades de minerais importantes. Em 1962 o Diário
de Lisboa anunciou que estavam prontos os planos de extracção de titânio, magne- tite e flúor.
O carvão e o ferro estavam já a ser extraídos em modestas quantidades, mas previa-se que a exportação
do ferro, só por si, podia trazer um total anual de 25 milhões de libras. A parte mais importante
do plano, porém, é a construção duma gigantesca barragem em Cabora Bassa. Esta é considerada projecto
em conjunto com a África do Sul, e haverá substancial apoio da Europa Ocidental e dos Estados Unidos.
Cinco grupos internacionais entraram no concurso para construção da barragem, e em Julho de 1968
a obra foi adju- dicada à Zamco, consórcio organizado pela Anglo American Corporation of South
Africa, com a participação de firmas francesas, alemãs ocidentais e suecas. Vem apoio financeiro do
Banque de Paris et dês Pays-Bas, da Union Acceptances de Johanesburg, do Deutsch Bank e da Banca Comercial
Italiana. Al- guns projectos associados serão também apoiados pelo Bank of America e por bancos
portugueses. A barragem será a maior da África, inundará uma área de 1000 milhas quadradas
e produzirá 17 biliões de kilowatts- -hora de energia hidroeléctrica, para servir um raio de 900
milhas. Está planeado o seu acabamento para 1974, e está orçamentada em 130 milhões de libras.
Este grande esquema entra em linha com os outros pro- jectos comerciais recentes em Moçambique;
pouca da riqueza que poderia criar, sob os acordos presentes, seria filtrada para a população africana
de Moçambique. O vale do Zambeze é já uma área de colonos, onde grandes superfícies de terra estão
na mão de lavradores brancos ou donos de plantações e onde os Portugueses anunciaram planos para a
instalação de mais l milhão de imigrantes portugueses ao longo do rio (conside- rando que a população
de Portugal é de cerca de 9 milhões, este número só deve ser tomado a sério se grandes migrações de
brancos não portugueses foram igualmente previstas). Em 1967 o Instituto do Algodão de Moçambique
anunciou planos
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