Caminho de Ferro da Suazilândia

 

Surgira o momento de dar realização a um projecto que se acalentava há muitos anos ; de que por vezes se falava com entusiasmo e que acabava por ser posto sempre de parte por falta de dinheiro, por deficiência de estudos e por dificuldades diplomáticas: — era a construção do caminho de ferro da Suazilândia. Os estudos e levantamentos de 1879 foram postos de parte por se terem levantado divergências sobre o percurso a seguir ; na opinião de alguns técnicos seria preferível o da margem direita do rio Umbelúzi em vez do que havia sido traçado pela margem esquerda. Estamos em 1904. Alguns anos antes haviam-se concluído novos estudos preliminares pêlos engenheiros Joaquim Machado, Farrell e Hal. Os projectos foram, por fim, completados e enviados para o Ministério do Ul­tramar. Havia urgência de uma decisão final;  o Transvaal sofria os efeitos de uma grande depressão económica e temia-se que isso viesse a protelar a sua construção. Aguardava-se que o Transvaal concordasse com a continuação da linha quando chegasse à portela dos Libombos, junto a Goba — acordo, aliás, que nunca se obteve. O que se opunha a que passasse a fronteira da Suazilândia e atravessasse para o Transvaal, para se ligar em Bryton à linha de Joanesburgo, era o facto do território dos Suazis não estar integrado no Transvaal. A Grã--Bretanha opôs-se sempre tenazmente a essa integração. Nós, com os olhos fitos na possível exploração dos ricos jazigos carboníferos da Suazilândia e dos seus depósitos de minérios de ferro, esperançados em que o acordo se realizaria, dei­támos mãos à obra e assim é que em 1909 a linha férrea já estava construída, tendo parado apenas a três milhas de distância da fronteira.

A construção deste caminho de ferro para Goba deu aos críticos, durante mais de meio século, o diapasão para injustas e acerbas injúrias contra a adminis­tração moçambicana e os seus homens mais representativos que as gerações de agora aprendem a admirar e a venerar desde os bancos da escola. A Suazilândia acabou, finalmente, por fazer o seu caminho de ferro.

Em 25 de Março de 1963 iniciou a sua construção e em 8 de Setembro de 1964 dava-se por concluído. No dia primeiro deste mês tinha sido aberto provisoriamente à exploração mas a sua inauguração oficial só se realizou no dia 5 de Novembro.

Desde o início da sua exploração até 31 de Dezembro de 1965, transporta­ram-se pelo Caminho de Ferro da Suazilândia, de e para o nosso porto, 1470 194 toneladas de mil quilogramas :

Mercadorias:

                                                                                    Toneladas

a) Trânsito   e   fornecimento   de   Lourenço   Marques   para a Suazilândia .....................................................  52 221

b)  Da Suazilândia para Lourenço Marques:

Minérios de ferro .........................................................................................................          1 225 369

                                      Mercadorias diversas ....................................................................................................         192 604

                                                                      Soma ..........................................................................................................................         1 470 194

 

O movimento ascendente e descendente no último quadrimestre de 1964 foi de 146 582 toneladas, com uma média mensal de 36 645,5 toneladas. A carga trans­portada em 1965 foi de 1 323 612 toneladas, tendo-se elevada aquela média para 110 301 toneladas. O movimento de Dezembro é representado por 185 826 to­neladas.

Com a exploração das minas de ferro de Bonvu Ridge e das suas imensas florestas e com a irrigação das terras baixas alargaram-se os horizontes das possibilidades económicas do Território; as suas fábricas de polpa mantêm uma produção constante e progressiva;  a cultura da cana cobre já extensas áreas, que se alargam de ano para ano e as suas fábricas de açúcar têm o futuro assegurado não só pelo consumo interno como pelas possibilidades do açúcar vir a figurar no seu intercâmbio comercial com a África do Sul; as fábricas de fruta em calda estão em plena laboração e parte da sua produção já se enca­minha para os mercados exteriores.

A principal exportação consiste em minérios de ferro para o Japão; num futuro próximo não deixará de compreender o açúcar e possivelmente o carvão e as citrinas.

Do porto de Lourenço Marques recebe o petróleo e seus derivados, combus­tíveis e lubrificantes. A maior parte das suas importações vem-lhe da África do Sul que é, naturalmente, pela vizinhança e graças ao seu grande progresso industrial o seu principal fornecedor.

A Suazilândia é um mercado que o seu vizinho tem assegurado;  a sua impor­tância faz reviver agora o antigo projecto da construção de uma linha férrea do Traansval, através da Suazilândia, para Lourenço Marques, que partiria de Breyton ao longo do vale de Usuta para Sipofaneni. Mas não se vê possibilidade, na Suazilândia, para a sua construção a não ser que venha a encontrar na África do Sul mercado para o seu minério de ferro (de que aliás este país não precisa) que justifique a sua construção e lhe assegure uma exploração lucrativa.

Isto representa o começo. Os territórios dos Suazis estão a passar por um grande desenvolvimento económico;  grandes áreas do seu solo estão cobertas por densas florestas e por grandes plantações; a pecuária está a merecer os maiores desvelos dos seus governantes ; no sub-solo há riquezas em que ainda mal se tocou: carvão, minérios de ferro e de outros melais ; os novos edifícios que surgem nas vilas, cidades e nas próprias propriedades agrícolas revelam o esforço dos homens que encaram o futuro com confiança. E na verdade, este jovem país, tem um grande futuro à sua frente assegurado pelas suas riquezas naturais e pelos serviços do nosso porto.

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