II. A BAIA DE PEMBA
A baía de Pemba, a 13o
00’ Sul e 40o 30’ Este da costa de África, é vulgarmente considerada
a terceira maior do mundo, sendo a primeira a de Guanabara no Brasil seguida da
de Sidney na Austrália.
As suas águas
ondeando tons, ora azuis ora verdes, apresentam-se mansas em dias de bom sol e
agradável tempo mas também escarpadas, rugindo de encontro aos rochedos ou
regalando pela areia quando os ventos sopram furiosos do Sul.
Este ventos mais conhecidos
na região por “kussi” originam, não raras vezes centros depressionários
bastante fortes do tipo tropical que arrasam quase por completo a cidade.
O mais antigo
temporal que a documentação disponível nos pôde recordar data de 18 de Dezembro
de 1904 que causou vários danos assim como levou ao afundamento um pequeno
vapor e um iate. É feita referência nessa altura à falta de faróis ao largo da
baía, sendo o único o da ponta Said Ali que, para além de ter somente 6 milhas
de alcance e não 9 como indicavam as cartas de então, não era aconselhável aos
navios que passassem no alto mar.
Outro grande temporal devasta Pemba em 1914, destruindo praticamente
todas as habitações e provocando grandes embaraços aos serviços da Companhia.
(1)
Estes ciclones assolam de tempos a tempos a região de Pemba, tendo o
mais recente ocorrido em 1987.
Em sua extensão a baía de Pemba atinge os valores de 9 milhas de Norte
a Sul e 6 de Leste a Oeste, perfazendo um perímetro de 28 a 30 milhas.
Mas não só por isso ela goza de tal fama como também pela profundidade
do canal de acesso e do porto, com sondas que variam entre 60-70 metros na
entrada e 10-40 na parte média, para atingir os 25 metros no fundeadouro junto
ao cais diminuindo em direcção á costa.
A sua entrada é, pois, franca a qualquer tempo e hora, podendo nela
penetrar à vontade navios até cerca de 6 metros de calado. No entanto, devido a
alguns perigos isolados formados por rochas e bancos de coral, é necessária a
pilotagem para os navios de alto mar.
A boca de entrada a partir da qual é feita a pilotagem é delimitada a
Norte pela ponta Said Ali e a Sul pela ponta Romero, havendo actualmente
farolins em ambos os lados.
Desaguam na baía alguns pequenos rios sendo o maior o Meridi cuja foz
desemboca nas proximidades do baixo Mueve.
A baía de Pemba constitui, sem dúvida, um porto natural bastante seguro
e, apesar de tudo, abrigado dos temporais regionais, tendo sido qualificado por Elton
- Cônsul britânico em Moçambique a finais de 1890 - como "O melhor desde
Lourenço Marques a Zanzibar”.
Alguns autores supõem que a baía de Pemba possa ter tido uma origem
vulcânica, baseando-se no facto de ali se encontrar com abundância a
"pedra pomes" própria de rocha vulcanizada. Mas a sua constituição calcária
e não basáltica vem a contradizer tal suposição.
Das origens do nome pouco mais se sabe do que as escassas informações
recolhidas da tradição oral, algumas das quais baseadas em lendas, e deve
tomar-se em consideração que a designação de Pemba para nome da região não foi
a única ao longo dos tempos.
Em anos muito recuados da nossa história a baía de Pemba era
frequentada apenas por alguns pescadores malgaches e swahilis que em suas
pequenas lanchas e pangaios arrecadavam o alimento sem nunca ali se fixarem.
Conta então uma antiga lenda que por essa altura uma de tais
embarcações apanhadas por um temporal naufragou tendo como sobrevivente uma
mulher que se viu obrigada a procurar algum refúgio nas proximidades da baía.
A mulher importante (“nuno” em língua local ) conseguiu sobreviver e
montar ali a sua guarita. Naturalmente conotada a "Nuno" pelos
pescadores como "mensageira divina" demonstrando que a zona poderia
ser perfeitamente habitada, ela fê-los seguir o seu exemplo.
Nasce a zona de Nuno pelo qual foi conhecido por longos anos o actual
bairro do Paquitequete. Mais tarde viria a anexar-se a esta designação a
expressão “pampira” (no sitio da borracha) em virtude da grande quantidade da
árvore da borracha que no local nascia espontaneamente.
A região servida pela baía de Pemba foi também já conhecida por Mambe
expressão que pode simultaneamente significar quantidade e longitude.
Embora certos
autores relacionem “mambe” à baía de Pemba, a região a que a administração
colonial designa por esse nome se situa mais a norte, no distrito de Macomia.
Uma outra tradição oral refere que um europeu, em data também não
precisa, proveniente de Zanzibar faz desembarcar na baía os indígenas que o
acompanhavam e, estes, vendo-se assaltados por grandes enxames de moscas
gritavam dizendo “pembe” que em swahhili significa mosca.
Teria sido mambe, pembe ou outra a origem da expressão
"Pemba" no território moçambicano (2), certo é que ela figura nas
primeiras cartas inglesas como "Pembe Bay”.