Abandonada a região de Pemba pelos portugueses, e mais tarde
praticamente pelos povos macuas da regedoria Muária, alguns baneanes e mouros
ocuparam-na nos finais da década de 1880 sob a chefia de um tal malgache
chamado “Muenhe Amade”, fundador da povoação do mesmo nome em Pampira.
Instituída a Companhia do Niassa esta manda, 4 anos mais tarde, ocupar a
baía, tomando em consideração o então notável desenvolvimento comercial
dos territórios a Sul de Quissanga bem como a necessidade de controlar o
comércio do sertão.
Por outro lado, porque o posto militar criado em Pemba há mais de um
ano havia permitido um clima de boas relações com os régulos e consideradas
garantidas as condições de segurança, é instituído o Concelho de Pemba com sede
na povoação de Pampira.
Assim o comandante do posto militar de Pemba é nomeado chefe do
Concelho em acumulação com as anteriores funções.
Projectara a companhia magestática a construção de uma linha férrea que ligasse Pemba ao Niassa no intuito de monopolizar o tráfico de Tanganica /Niassalândia:
"O caminho de ferro de Pemba ao Niassa chamará a meio caminho a mercadoria que for descendo pela boca de Chire, inclusive a que, por ventura proceda da própria bacia do Congo. Hoje que à nossa companhia foram concedidos os territórios, será praticada a ligação ferroviária do lago com a excelente baía de Pemba, realizando-se assim não só um desideratum da moderna civilização mas também o caminho que será o único e incontestado para o grande comércio da África" (12).
Esperava-se que Pemba pudesse ser o porto para o abastecimento do carvão do Medo e do Itule, bem como madeira, metais, nomeadamente o ferro e o cobre e ainda o marfim entre outros artigos originários de zonas do interior.
Para o lisonjeio de Coutinho (13):
"... a explêndida baia de Pemba - está entre aqueles dois empórios comerciais (Zanzibar e Moçambique) em excepcionais condições geográficas numas circunstâncias tais que aproveitadas convenientemente, lhe chamarão o que lhe pertence de direito, e pertence de facto o exclusivo do tráfico do Tanganica-Niassalândia”.
Por outro lado, Pemba a um dia das Comores poderia daí receber a borracha, a cera, a copal, a urzela, o marfim e peles.
É ainda a finais
do século passado, mais concretamente em 1899 que a companhia do Niassa
contrata Gilbom Spilsbury (delegado do Conselho da Administração da Companhia)
para uma expedição militar para avaliar as possibilidades de desenvolvimento
dos territórios de Cabo Delgado e Niassa mas o facto de se pretender atingir
zonas mais para o interior Pemba foi nesse projecto relevada para segundo
plano.
Porque se pretendia reabilitar o processo de desenvolvimento de Pemba
num momento em que a povoação estava ameaçada ao isolamento devido ao
internamento de comerciantes e indígenas no interior para fugir à alçada da
autoridade colonial (14) ela é inicialmente considerada terra de terceira ordem
e são dispensados de direitos e emolumentos de portos aos vapores que para ali
fazem carreiras regulares, nos primeiros anos do nosso século.
Também na primeira década de 1900 é criada em Porto Amélia no ano de
1908 uma escola de sexo masculino denominada "António Centeno” nome de um
Administrador de Companhia em Portugal, no qual logo se matricularam 14 alunos
dos quais 2 europeus, 1 branco natural, 6 mestiços e 5 negros. (15)
Dados estatísticos da população de Porto Amélia em 1908 indicam haver
nessa altura 18.604 habitantes, sendo 18.498 negros, 50 asiáticos, 26 europeus e 17 brancos naturais. (16)
Em 1909 é ocupado todo o concelho de Porto Amélia.
A finais de 1917 desembarca em Porto Amélia uma expedição militar
inglesa para colaborar com o exército português na luta contra os alemães no
decurso da primeira Guerra Mundial.
Foi esta expedição que, aproveitando as condições da lagoa existente na
planície de Natite, colocou uma bomba de água e um pequeno sistema de
abastecimento de água canalizado.
Como memória dos militares ingleses tombados durante a 1ª Guerra
Mundial, ainda hoje se pode ver no cemitério de Pemba uma zona com as suas
sepulturas que o governo de Sua Magestade Britânica mandava visitar
periodicamente, deslocando navios de guerra com oficiais que no local procediam
às cerimónias na presença do capelão do Navio. Este cemitério particular esteve
durante longos anos à responsabilidade de Carlos Delgado da Silva.
Pelo Decreto nº 16.757 de 20 de abril de 1929, foram retirados à Companhia do Niassa os poderes de administração dos territórios concedidos em 1894, tomando o Estado posse dos mesmos a 27 de Outubro do mesmo ano. Foi assim restabelecido o Distrito de Cabo Delgado, na Província do Niassa com sede em Porto Amélia, deixando assim esta povoação de estar agregada ao Distrito de Niassa.
Para o período a que nos referimos duas reclassificações sucessivas
para o terreno de Porto Amélia têm lugar na sequência da restruturação que se
inicia em 1930. A primeira verifica-se a 11 de Janeiro desse mesmo ano
classificando-a em 1ª ordem e a outra em Agosto seguinte descendo-a para 2ª
alegadamente por se encontrar tal como o Ibo criada à data da passagem dos
territórios para a administração portuguesa com aquela ordem.
Em 1936 é aprovada a planta de modificação da vila de "Porto
Amélia, Concelho e Distrito do mesmo nome, província do Niassa" (17),
constituída inicialmente por 232 talhões para em 1941 entrar em vigor uma
portaria delimitando a zona urbana e a suburbana.
Um bairro económico constituído por 16 blocos de aproximadamente 50/80
metros é criado no Cariacó em Porto Amélia no ano de 1943.
Ainda nesse mesmo ano e tomando em conta a necessidade de autonomizar o
município da vila e dotá-la de poderes mais amplos em vista do desenvolvimento
local é concedido o foral de Porto Amélia.
Em 1953 determinou o Secretário Provincial, Eng. Pinto Teixeira, em
nome do Governador Geral, comandante Gabriel Teixeira empreender a construção
de um cais acostável para navios de grande porte, obra que viria a ser
inaugurada a 26 de Janeiro de 1957 com a acostagem inaugural do paquete
"Angola".
Foi só com a materialização desta obra que Porto Amélia inicia a sua
arrancada ao desenvolvimento. Assim constata-se que o movimento de mercadorias
eleva-se de cerca de 40 mil para 48 mil toneladas aproximadamente.
A Vila de Porto Amélia é elevada à categoria de cidade a 18 de Outubro
de 1958.
Contudo o desenvolvimento esperado talvez nunca tenha passado de sonhos e pequenas iniciativas. Um jovem da cidade em 1971 desabafava numa entrevista a um jornal:
"... É pena Porto Amélia ser muitas vezes esquecida, pois se podia fazer mais por ela e só os seus verdadeiros habitantes é que a podem desenvolver e engrandecer, mas nenhum deles é Onassis ou Rockfeller” (18).
Pemba... A solidão
da sua simplicidade parece tão natural quanto a sua beleza e destino à sorte do
acaso...