Água e Carros Eléctricos. A cidade cresce e moderniza-se

Em 1903 o fornecimento de água à cidade era feito por numerosos poços, de onde era extraída por bombas manuais, abertos na encosta e na parte baixa da cidade. A água era abundante e permitia que se fizessem hortas e jardins. A regularidade das chuvas permitia a recuperação dos poços, mas nos anos de seca chegava-se a passar privações que obrigavam a restrições severas. Nesse mesmo ano já se trabalhava no projecto do rio Umbelúzi.

Fez-se a concessão para a exploração de carros eléctricos a uma entidade portuguesa que a transformou numa sociedade anónima e por fim, em 1907, os carros eléctricos circulavam na cidade explorados pela Delagoa Bay Development Corporation. Esta Companhia fazia também o abastecimento de água captada no rio Umbelúzi de onde era trazida em tubos de aço numa extensão de dezoito milhas. Dizia um importante jornal da época — The Lourenço Marques Guardian — que a estação de captação e tratamento das águas no Umbelúzi, tubos, sistemas de filtros, distribuição e instalações era tudo da melhor qualidade e a obra realizara-se dentro dos mais modernos princípios da técnica. A estação fora preparada para um fornecimento diário de 2 500 000 galões de água.

For esta época ]á a cidade mostrava um progresso notável.

Com o aterro do enorme pântano que, limitando a cidade pelo ocidente, se estendia desde as margens do estuário do Espírito Santo até à encosta do Maé, recuperou-se a maior parte da área para a expansão da cidade baixa. Foi sem dúvida a obra de urbanização mais importante realizada até essa altura. Nele se ergue o Mercado Municipal, então o edifício mais imponente de que os habitantes se orgulhavam ; à sua direita fizera-se um campo de football e um outro para  corridas de cavalos. Seguiam-se as hortas exploradas por chineses em frente das quais se ergueram os armazéns do cais e as estâncias de madeiras que se pro­longavam por cerca de um quilómetro junto à linha férrea. As casas de habitação tendo já tomado a encosta estendem-se para o Alto-Maé, para a Ponta Vermelha e Polana. No ano seguinte (1908) iniciava-se a construção da nova estação do caminho de ferro que veio a ser inaugurada oficialmente em 19 de Março de 1910. Os canais da baía já estavam assinalados por bóias ; o Departamento Hidrográfico tinha feito publicar as cartas do porto e já se haviam começado os trabalhos da drenagem no canal da Polana.

        Podia dizer-se que a população se sentia satisfeita com o fornecimento da água, da luz, com os transportes eléctricos e telefones. A publicação das contas do exercício económico encerrado em Junho de 1907 revelava uma grande melhoria na situação das finanças pública ; o débito que em 1906 era de £ 237 762 estava agora reduzido a £ 85 298 tendo os cofres da tesouraria uma existência de £ 85 690. O redactor do mais importante jornal dessa época, The L.ourenço Mar­ques Guardian, analisando a situação financeira da Província punha em relevo a sua estabilidade considerando-a invejável em relação às colónias vizinhas.

O decreto de 23 de Maio de 1927 dando a Moçambique uma nova organização administrativa e instituições representativas, assinalava o progresso da nossa administração pública. Os nossos governantes estavam preparados para as pe­sadas responsabilidades que lhe foram atribuídas e confiavam na colaboração e no trabalho dos colonos.

Olhando-se para a planta topográfica da cidade, assinada pelo Major António José de Araújo, director das Obras Públicas, datada de Dezembro de 1887, nota-se que o seu limite oriental é representado pela Avenida Augusto Castilho. Para a direita, estendem-se as terras áridas da Machaquene e da Polana com algumas povoações de nativos já bastante afastadas ; ao fundo das dunas da encosta da Machaquene, no prolongamento da cidade para além, portanto, do traçado da­quela avenida, estende-se um grande pântano até ao sopé da escarpa da Ponta Vermelha que vem quase até ao mar, coberta de densa vegetação que a protege contra as enxurradas violentas e desordenadas que arrastam as suas terras pouco firmes e os pedregulhos soltos nos pontos desnudados, e contra os frios vendavais do sul que por vezes fustigam o porto fazendo crescer o mar em grandes vagas que ameaçam os navios ancorados e mal seguros nas suas amarras.

Trabalhava-se em 1915 no aterro desse pântano que as marés altas inundavam em grande parte. Os trabalhos, orçamentados em £ 100 000, compreenderam ainda a conquista de toda a praia levantando para isso uma alta e grossa muralha até à doca dos pescadores. Em 1919 viam-se ainda passar os vagões carregados de terra arrancada à encosta do quilómetro um, puxados por uma velha máquina dos caminhos de ferro. O aterro ficou completado dois ou três anos depois. Não se tendo feito a drenagem do pântano plantaram-se casuarinas e eucaliptos, que ainda hoje se vêem na desordem e abandono em que cresceram, para enxugar as terras.

A partir de então a cidade cresceu para muito além dos limites daquela planta topográfica assenhoreando-se das áreas adjacentes às terras altas da Machaquene, Munhuana e Polana. Há mais de vinte anos que se trabalha num ambicioso plano de urbanização que deverá corresponder à expansão da cidade durante os próximos trinta anos. As construções têm-se mantido num ritmo cres­cente, havendo uma marcada tendência para os prédios de rendimento superiores a quatro pavimentos.

A sua população, multirracial, segundo o censo provisório de 1960, é de 367 596 indivíduos. As construções continuam a fazer-se num ritmo lento mas constante. Os grandes blocos de apartamentos de seis, oito, doze e mais andares erguem a sua massa rectangular, maciça e uniforme por toda a parte acima do antigo casario da cidade transformando radicalmente a sua imagem de há qua­renta anos. A área da cidade alargou-se desmesuradamente embora haja, dentro dos próprios limites da planta de 1892 ou 93, grandes espaços vazios. Apesar de isso, como se houvesse falta de espaço, faz-se a demolição de prédios construídos há vinte anos ou pouco mais para substituí-los por edifícios de rendimento. A casa de um só fogo, isolada, com o seu jardim e quintal, e a característica varanda a protegê-la do sol e das intempéries, com ar independente, acolhedor e tranquilo, a denotar confiança, conforto e estabilidade tende a desaparecer com razões pura­mente económicas entre as quais se conta o elevado preço dos terrenos. Desta maneira já a cidade perdeu o ar rural e sossegado nos seus subúrbios mais antigos, com a aceleração do movimento das suas ruas e abertura de novos estabeleci­mentos comerciais e fabris. Contudo o problema habitacional não se considera resolvido. Admite-se que a sua população tenha aumentado consideravelmente nestes últimos anos.

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