AUGUSTO BAPTISTA DE CARVALHO

Os velhos colonos ainda hoje falam da praia Baptista de Carvalho. Já não existe. A muralha que se levantou para afastar e conter o mar e para se fazer o aterro da Machaquene apagou todos os seus vestígios. Só a memória já hesi­tante e cansada de alguns anciãos conserva algumas imagens ligadas ao local e a um ou outro acontecimento que jamais esqueceram.

— Olhe! Ficava ali em frente ao Almoxarifado.

As velhas casas do Almoxarifado faziam parte do estabelecimento de Baptista de Carvalho ; as que enfrentam a capitania mostram ainda o traçado primitivo. Nas marés vivas o mar quase que lhe batia à porta. As gravuras antigas mostram ainda a ponte de madeira para a carga e descarga de mercadorias, que ele man­dara fazer e era propriedade sua. A sua esquerda ficava a praia Albasini assina­lada numa planta topográfica de 1876 para além do muro que, por esse lado, fechava a povoação e onde se situava o baluarte nº 6.

O colono que deu o seu nome à praia encontramo-lo mencionado na acta da reunião dos principais comerciantes da cidade, que teve lugar no dia 28 de Janeiro de 1891, na casa de William & Companhia, com o fim de se deliberar a fundação de uma agremiação para a defesa dos seus interesses económicos. Nessa acta já se dá ao futuro organismo o nome de Associação Comercial. O comerciante Er­nesto Widmer propôs que fosse nomeado interinamente um presidente e um secretário para organizarem os estatutos e cumprirem as formalidades legais necessárias para a fundação da associação e propôs para o cargo de presidente Augusto Baptista de Carvalho por ser o mais antigo dos comerciantes portugueses presentes à reunião.

 

Baptista de Carvalho era, sem dúvida, um comerciante estabelecido há largos anos e o facto de ser nomeado para um cargo desta natureza faz-nos crer que era pessoa respeitada, bem conceituada e activa. Os seus esforços e os da comis­são, que se nomeou para o auxiliar na elaboração dos estatutos, foram coroados de êxito completo. Em 5 de Agosto desse ano fez-se a eleição, em assembleia geral, da primeira Direcção da Associação, de que ele fez parte como vogal efectivo.

O Anuário de Moçambique de 1894, de Joaquim da Graça Correia Lança, menciona a sua casa, que então girava sob a razão comercial de Baptista de Carvalho & Irmão, entre as seis casas mais importantes da praça nessa época. Comerciava em ferragens, cal e materiais de construção. Fretava barcos para o transporte da sua carga que importava do Reino. A sua actividade estendeu-se também à indústria gráfica ; fundou o jornal hebdomadário O Comércio de Lourenço Marques, de que foi proprietário e Pedro Xichorro seu director. Na es­quina da Rua da Lapa com a da Rua da Imprensa fez construir um edifício de dois pavimentos, que ainda hoje existe, para onde foi mudado o seu estabeleci­mento de ferragens e outros artigos.

Os últimos anos foram bastante penosos para Baptista de Carvalho. A única filha, ainda muito nova, que tivera do seu matrimónio, falecera com a peste bubónica. Ele contraíra a tuberculose. Veio a falecer na Ilha da Madeira, em 1901, aonde tinha ido para tratar-se.

O seu nome figura ainda hoje na rua onde teve o seu estabelecimento comer­cial e ficou ligado à antiga praia que os antigos recordam.

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