VI. A COLÓNIA DE PEMBA

O comando da colónia foi nomeado a 5 de Janeiro do ano seguinte, 1858, quando o Governador de Cabo Delgado destaca os alferes Neutel Correia Mesquita para fiscal das Obras Públicas e João Guilherme para fiscal às ordens da colónia.

 

O fabrico local de alguns materiais de construção constitui prioridade começando-se por ensaiar a manufactura de tijolos e telha de argila com bons resultados e por isso aplicados às construções e residências que foram sendo feitas. É também construído um poço com excelente água potável do qual os navios igualmente se serviam para a sua aguada dado ser ali o único sítio com lagoas doces.

Foi depois aberta uma outra estrada que veio a ligar Pampira à ponta Miranembo para onde Jerónimo Romero havia transferido cerca de metade do contingente dos colonos e parte da força militar, por reco­nhecer a zona como propícia à agricultura mas, contudo, sem água potável.

Romero denominou esta parcela da "Colónia de Pemba” situada em Muguete de "Estabelecimento da Bahia de Pemba".

Miranembo era então desabitada e foi ali onde Romero tomou co­nhecimento das principais pontecialidades e riquezas da zona tais como o pau preto localmente conhecido pelo nome de “mepinga” (segundo o autor) bem como a aromática madeira de sândalo (“sapaua”), cafezeiro silvestre (“ngenre-ngenre”), a árvore do maná (suco resinoso bastante doce usado na alimentação em substituição do açúcar) e a raiz de um arbusto com a designação de “namaoere” com proprie­dades medicinais. Dessa raiz diz o Governador de Cabo Delgado:

“... os indigenas esfregam sobre uma pedra molhada em agua doce para assim extrair uma goma com que fomentam o peito às mulheres, curando por desta forma as inflamações e as dores e promovendo abun­dância de leite." (11)

Uma outra planta foi também identificada em Miranembo com o nome namonge de onde os naturais extraiam uma fibra muito usada na fabricação de redes e linhas de pesca.

A finais de 1858, cerca de ano após a formação da colónia reconhece o fundador desta a necessidade de fortificar as duas pontas à entrada da baía de Pemba.

A primeira e, no entanto a única, a ser construída foi a ponta Miranembo, edificando-se com pedra e cal locais, um fortim que mais tarde passou a designar-se de “Jerónimo Romero” em sua homenagem.

Os campos mostraram-se férteis em Muaguide e as sementes de hortaliça, legumes e cevada que tinham sido cultivados logo no primeiro ano deram prova disso.

Um destacado autor da época de nome Maria Bordalo considerava urgente a colonização efectiva daquele novo e pequeno estabeleci­mento para não correr o risco de "definhar como as demais feitorias da costa, e ter-se-á gasto muito dinheiro".

O mesmo se pode dizer do Estabelecimento de Miranembo na Baía de Pemba que em progresso conseguiu competir com a sua congénere em Muaguide.

No entanto, a grossa invernada que se verificou logo no primeiro ano, o incêndio que se registou no estabelecimento de Muguete, as crises de adaptção dos colonos ao clima tropical, as febres que mataram muitos deles, que nem enfermeiro tinham senão um curioso em primeiros socorros foram razões suficientes para grande quantidade de dissabores.

A fixação dos colonos à região tornava-se não um sonho mas ne­cessidade de sobrevivência, a “africanização” dos minhotos foi inevitável, estreitando aparentemente as relações com os régulos e os indígenas e em pouco tempo a colónia voltou a florescer.

Mas os revezes anteriores não tinham passado, quando uma campa­nha (segundo Romero) de calúnias é lançada com vista a denegri-lo, mesmo já fora do exercício das suas funções, pois havia sido exonerado a finais de 1858.

Desinteligências entre Jerónimo Romero e o Governador geral sem­pre as houveram. Refira-se o caso da retirada, quando havia apenas 3 meses da formação da colónia, da escuna Angra cedida por D. Pedro IV para o apoio exclusivo da colónia, por determinação do Governador Geral alegando a necessidade de a usar em tarefas de extrema importância.

Foi também o caso que até o levou inclusivamente ao tribunal da corte por ter aprisionado no Ibo um negreiro francês. Mas Romero saiu ileso do veredicto.

Enquanto isto, começam-se a quebrar as relações com os indígenas que possivelmente cansados da submissão e exploração lançam-se em hostilidades contra os colonos.

Estes e outros factores foram definhando cada vez mais a colónia até que o governador interino em exercício em Cabo Delgado decide extingui-la em 1862, fazendo-se recolher os colonos à ilha do Ibo.

Nada mais restou desta tentativa de colonização da zona senão o "Forte Romero", listado como monumento nacional por portaria de 3 de Abril de 1943.

 

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