A ARTE RUPESTRE - OS AMURALHADOS em MOÇAMBIQUE
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Arte Rupestre no Monte Namelépia da Circunscrição de Monapo
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Fotografia do sopé da Rocha no Monte Namelépia, onde se vêem pinturas e gravuras de animais e outros
símbolos, cujas dimensões podem ser comparadas com a da figura humana que se encontra no primeiro plano.
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Entre as pinturas e gravuras rupestres descobertas na Província de Moçambique figuram as existentes
no Monte Namelépia, que faz parte da Circunscrição de Monapo. São pinturas e desenhos de figuras humanas,
de animais e outros símbolos, cuja interpretação por eruditos ainda não foi feita. Não obstante, dado
o grande interesse de que se revestem,obtivemos do antigo Administrador desta Ciscunscrição, Vergílio
Santos Alberto, as respostas a um questionário deveras ilucidativo. As fotografias que se reproduzem,
são originais, e cedidas para um melhor esclarecimento do depoimento feito por aquele Administrador.
O inquérito, a que procedeu, não permite conclusões generalizadas, pois limita-se ao caso particular
das pinturas e gravuras do local observado. Não obstante, traz, com as necessárias reservas, informações
que descobrem perspectivas de bastante interesse. A narrativa que se segue não se apresenta sistematizada.
Só a visita ao lugar, que as fotografias mostram, poderá completar, eficazmente, o seu estudo etnográfico,
no plano de investigação séria e satisfatória que todo o cientista procura realizar. A palavra
"namelépia" significa "coisa escrita", ou melhor "um escrito". Deriva do verbo "olepa" (ku-lepa), que
significa escrever. Os desenhos ou figuras estão pintados a branco, mas também há alguns, embora poucos,
pintados a preto. A tinta não sai; foi aplicada directamente sobre a rocha. O Chefe Namelépia não
crê que tenham sido pessoas que fizeram os desenhos. Atribui-os a um ente sobrenatural - Deus: "muluko".
Os seus antepassados deviam ter vindo de Muecate, que é uma serra próxima, denominada "Mócóni". Não havia
outrora ali ninguém, tudo era mato. O monte é pelos nativos considerado sagrado. As cerimónias
que se realizam no local são colectivas ou individuais, sempre orientadas pelo Chefe Namelépia. As colectivas
destinam-se a alcançar o bom êxito das culturas e caçadas, a cura de doenças, ou a protecção contra as
feras. As individuais têm lugar com o fim de obter que as mulheres engravidem ou para os homens e mulheres
conseguirem arranjar casamento. Nas cerimónias colectivas e individuais tem que estar sempre presente
o Chefe Namelépia para fazer a transmissão dos pedidos. É por isso que o caso individual implica também
uma cerimónia. Suponhamos o caso da falta de chuvas. O Chefe Namelépia, se julgar conveniente, vai
dizer ao régulo que é bom fazer-se uma prece para acabar com tal mal. O régulo reúne a sua gente e no
dia combinado todos vão até ao monte. Cada um leva o que pode, em géneros alimentícios: farinha de milho,
de mandioca, etc.. Se não puder levar nada, nem por isso fica impedido de estar presente à cerimónia.
Vão vestidos, como habitualmente. Só o Chefe Namelépia tem que usar, durante a cerimónia, em volta da
cintura, um pano branco (pano cru). Chegados ao local, o Chefe Namelépia manda que coloquem a comida
em determinado sítio; - não há lugar especial -, que é geralmente a base do painel, onde se encontram
as figuras. Os circunstantes podem estar ou não de frente para as pinturas, mas têm de estar sentados
no chão. Na cerimónia figura uma bandeira (onthokasera chuka, que quer dizer "amarrar ali pano cru"),
a qual é um símbolo de respeito pelos antepassados. A bandeira é simples: um bocado de pano cru amarrado
na extremidade a um pau vulgar. Esta bandeira está segura, em posição vertical, em cima da rocha, onde
se encontra o painel, e constitui simbolicamente o altar para a cerimónia. O Chefe Namelépia põe um
pouco de incenso sobre o carvão, que está em braza, e faz o pedido, que há-de ser transmitido por intermédio
do "Mueréria". Este termo, que vem de "muero", significa: "metro" em émakua antigo, que já hoje não é
usado, por terem adoptado a palavra "metro". Portanto "Mueréria" quer dizer: pessoa que mede. O
Chefe Namelépia, declara o mesmo Administrador, não foi capaz de nos dar uma explicação cabal ou mesmo
aproximada da divindade "Mueréria". Diz que é um homem muito antigo, que morreu há muito tempo. Quererá
significar o indivíduo que "mede", isto é, o indivíduo justo, que sabe tratar com equidade todas as coisas?
Daí os pedidos que lhe são feitos. De qualquer maneira, parece não merecer dúvida que é o espírito dos
antepassados que é invocado. Seguidamente, os presentes vão, um de cada vez, até junto do Chefe Namelépia
e põem uma pitada de incenso (em émakua: senço) no carvão que está em braza, e repetem o pedido já antes
feito pelo Namelépia. O carvão arde num pequeno buraco da rocha, que forma a base do altar. Perto do
local, onde está o incenso (também na rocha), arde, durante a cerimónia, uma vela vulgar. Esta é mais
um símbolo do respeito que é devido aos antepassados. As "coisas de comer" que trouxeram, ficam
no local sagrado. O Namelépia diz que se forem lá no dia seguinte já nada encontrarão porque os antepassados
as terão levado. O Chefe Namelépia não é "cuchecuche" ou "éhaco". isto é, feiticeiro. Também não é islamizado.
A sua religião é o Manismo ou "culto dos antepassados". Os nativos da região também não são maometanos.
Nas preces individuais costumam em regra oferecer dinheiro, para pagamento da promessa ou petição. Ao
dinheiro acontece o mesmo que à comida: desaparece.
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Os indianos nunca ali vão para fazer quaisquer preces.
O aparecimento destas pinturas não
remonta a muitos anos, dado que Namelépia diz que já ali se encontravam brancos quando foram descobertas.
O actual chefe sucedeu a um seu irmão, que oficiava também naquelas cerimónias.
Da descrição resultam
as seguintes conclusões:
1 - Ignorância dos nativos acerca da origem destas gravuras e pinturas;
2 - Atribuição de toda a sua autoria a um ser sobrenatural! 3 - Crendice infantil nas virtudes de
tais símbolos, que é certamente aproveitada pelo Chefe Namelépia.
Não obstante, é grande o interesse
destas pinturas por constituírem valores picturais da arte primitiva de Moçambique.
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Pinturas Murais do Monte Namelépia, Circunscrição de Monapo. Pormenor significativo de arte rupestre.
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NOTA: - Click nas figuras para as ver ampliadas. Com o "back" do browser regresse a esta página.
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