INÍCIO DA COLONIZAÇÃO CUBANA
Com a saída da FNLA e da UNITA de Luanda,
Angola separava-se em três áreas
claramente definidas: o primeiro daqueles movimentos ocupou o Norte; o
segundo, Nova Lisboa, o Sul, excepto o Luso — onde o MPLA
se conservou — e o Leste. O MPLA mal se atrevia a
aventurar-se
para longe dos limites da capital.
No Ambriz, Gilberto Santos e Castro dividia o comanda
das forças da FNLA com um general zairense. Com o coronel estavam o
major Cardoso e outros camaradas de várias patentes.
Ainda sem a colaboração dos
oficiais portugueses, a FNLA lançara, como disse anteriormente, a
sua primeira grande ofensiva até ao Caxito, onde foi detida, porque o MPLA destruirá as pontes sobre o Dande e o material para as reconstruir
vinha do longínquo Zaire. A FNLA cominava
todo o Norte e as regiões que desciam até aos Dembos, embora sem ocupar o Piri e o Úcua.
O MPLA aproveitou a paragem da FNLA para um contra-ataque
que obrigou o inimigo a refugiar-se no Ambriz, com
pesadas baixas.
Já com Santos e Castro, a FNLA
retomou a iniciativa, avançou até ao Morro da Cal, enquanto o MPLA se entrincheirava nas
pedreiras do Cacuaco, e bombardeou Qui-fangongo, causando estragos na Estação de Tratamento de Água. Luanda
ficou, por dias, sem luz e sem água.
Teria a FNLA chegado à capital angolana, não fora a aliança das forças Armadas
portuguesas com o M P L A. Chaimites e
homens rechaçaram as tropas da FNLA, reconquistaram
o Caxito e regressaram a Luanda, desfilando, triunfantes, pelas ruas da cidade.
Foi a vez dos cubanos fazerem a sua
aparição pelo mar ou transportados em aviões russos. Sem grandes alardes. Não se viam na cidade, mas cerca
de seiscentos soldados instalaram-se na Cerâmica Imperial,
de Coelho da Silva. Outros dispersaram-se pela zona do Cacuaco. Outros, ainda,
rondando os três mil, guarneceram Cabinda.
Reputo em quatro mil, o total dos efectivos cubanos. Em 13 de Agosto, numa
conferência de Imprensa, Lúcio Lara tinha
anunciado o encerramento da luta armada em Luanda, revelando que "um país amigo" estaria ao lado do MPLA, a fim de contribuir
para a sua total implantação e a sua hegemonia em Angola.
Não indicou, porém, qual era o
"país amigo". Só o soubemos em
Outubro, quando os soldados de Fidel Castro enfileiraram com as FAPLA.
Garantia-se, à boca pequena, que Luanda
constituía muralha impenetrável, pois as
defesas tinham recebido o reforço de mísseis, descarregados de navios
russos. Sem que as tais minas explodissem.
Um episódio que ainda há--de ser contado...
O dia da independência aproximava-se.
Restringiu-se o movimento no porto da capital. Os cubanos chamaram a si o policiamento.
Em 9 de Novembro, a FNLA desencadeou violentíssimo ataque. Travou-se um ciclópico duelo de artilharia. Os combates prolongaram-se desde
madrugada até às cinco da tarde.
As granadas choveram em redor da fábrica de pólvora de Luanda, sem a atingir. Faltaram, pela segunda
vez, a água e a luz. Os géneros alimentícios desapareceram das prateleiras das lojas. Não havia pão. Um quilo de batatas, das
poucas que restavam, custava duzentos escudos. A fome e a anarquia empolgaram
os habitantes.
Às cinco da tarde, fez-se silêncio. Um silêncio mais aterrador que o estrondear das granadas, do que a
fuzilaria das armas ligeiras. O MPLA derrotara os atacantes, comandados pelo
general zairense, porque Santos e Castro se afastara ou fora afastado. Nunca se
soube qual das hipóteses é a verdadeira e os porquês das modificações operadas no comando da FNLA.
Os cubanos actuaram com crueldade, não poupando, sequer, os soldados das FAPLA, seus
companheiros de luta. Obrigavam-nos a ir para a frente, sem comer ou beber,
alvejando-lhes as pernas a tiro.
Noites antes, uma avioneta de Holden Roberto sobrevoara
Luanda, disseminando manifestos dirigidos à população angolana e aos portugueses, em que afiançava que não destruiria a cidade, nem maltrataria
os habitantes. Pedia que todos se mantivessem calmos durante o ataque; que
ninguém se expusesse, que não servisse de
anteparo ao MPLA. O seu objectivo — acrescentava — era exterminar o
"poder popular", a OMA (Organização das
Mulheres Angolanas), as FAPLA e os comunistas.
Perdeu a batalha e, com ela, a sua derradeira oportunidade.
No dia 11 de Novembro, Angola festejou a independência.