NOS COMANDOS

Os Flechas começam a se aproximar e um dia avisam que o "patrão" (Alves Cardoso) quer falar comigo.

Nos arborizados jardins atrás do Monomatapa Hotel será o encontro. Enquanto converso com o segundo em comando, o Major entrevista outro indivíduo contatado. Despedem-se e saem em sentido contrário, o Flecha manda-me segui-lo.

Encontro-o mais à frente num banco e me apresento.

Pede minha opinião sobre a Organização em que eu estava (que muitos diziam ser ele o verdadeiro chefe) e não tenho pejo de  criticá-la como inoperante e ridícula; é sua opinião também e categoricamente avisa que nada haverá em Moçambique. São apenas boatos e bravatas, os recursos foram desperdiçados irresponsavelmente.

Seu grupo, o único realmente operacional fará a contra-revolução, não diz onde nem quando e eu lhe interesso como piloto.

Sem qualquer dúvida acredito no homem que é o militar mais condecorado em combate do Exército Português; não se trata de outro nebuloso' 'Capitão Gravata'' e ao contrário dos outros grupos, tem realmente o apoio da Rhodésia, através do Special Branch (Serviço Secreto).

Mudo para um apartamento da Gail Flats, na Jameson, a avenida principal e ali tenho a função de captar e anotar toda a transmissão referente aos combates entre os grupos rivais angolanos. Nada é certo, mas começa a ficar claro que nosso objetivo será Angola.

Aceleram-se as entrevistas e realmente uma seleção rigorosa é feita. Somos avisados que iremos contribuir para uma independência, não como mercenários - nada receberemos - mas sim como futuros membros das forças armadas em formação.

Um visto de entrada turística me é dado para preencher. País: Zaire, ex-Congo Belga; endereço: Delegação da FNLA, Frente Nacional de Libertação de Angola, de Holden Roberto, o líder pró-ocidental.

Alves Cardoso fora contratado pela FNLA, com o intuito de treinar e enquadrar os novos comandos do ELNA, o exército de Holden, que se preparava para uma batalha pelo poder contra seu rival Agostinho Neto, marxista e seu movimento fantoche dos russos, o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola).

Este último recebia ajuda dos cubanos e da Brigada Internacional, constituída de alemães orientais, checos, etc. e Holden tinha que se precaver ou seria esmagado.

Em julho de 1975, embarquei num Boeing 737 da Rhodesian Airways com destino a Johanesburg, juntamente com Simões, um Flecha de quase dois metros de altura.

Lá, no próprio aeroporto Jan Smuts, orientados pelas instruções recebidas, encontramo-nos com o Major Alves Cardoso e juntos partimos em um voo da Sabena para Bruxelas que escalará Kinshasa, ex-Leopoldville, a capital zairense.