O BEST-SELLER

Numa tentativa da reerguer o moral dos ex-combatentes portugueses lancei, com a ajuda do capitão Valdemar e o Alferes Esteves, o livro "Angola - Comandos Especiais contra os cubanos", com prefácio do coronel Santos e Castro, que descrevia a luta armada contra a venda das colónias de Portugal aos russos, embora omitindo muitos detalhes, pois o objetivo era propagandístico, político. Queria mostrar que um grupo de portugueses não se rendera e lutava ainda em várias partes de África. Por que não em Portugal, povoado de traidores que precisavam ser extirpados?

A Brigada Lusíada criava forma, os Comandos Especiais poderiam atuar na Europa.

O livro saltou logo entre os dez mais vendidos em Portugal e os exemplares de duas edições esgotaram em um mês, demonstrando que batera na tecla certa e o pequeno espinho mais incómodo se tornou para a esquerda e a direita corrupta, de onde, creio eu, partiu uma  “miniconspiração'' para me desacreditar.

Fui contatado pela FLEC - Frente de Libertação do Enclave de Cabinda - parte de Angola encravada no território do Zaire e moçambicanos em Lisboa vieram me sugerir outra frente de combate no norte, a partir de bases no Malawi. Aos poucos ia fazendo planos e conseguindo adeptos, homens que queriam realidade, não a verborreia dos pseudogrupos de reação.

            Quase toda noite encontrava-me com amigos na boate Gruta e foi ali que uma conhecida me revelou ser agente de Polícia Judiciária,  enviada para me observar. A P. J., que perdera seus bons agentes com a revolução era agora um clube de amadores. A missão da jovem era travar amizade comigo, o que conseguiu a bom tento, culminando com noites bem passadas no Sheraton Hotel.

Segundo ela, queriam saber de onde eu conseguia verbas para sobreviver e havia pessoas insistindo junto à P. J. em me relacionar com assaltos à mão armada, ocorridos em Lisboa, ainda sem solução, isto é, tentavam encaixar-me em vários crimes sem autores conhecidos, o que solucionaria os problemas de diferentes grupos, inclusive da P. J. Até "testemunhas" seriam encontradas...

Mas o meu círculo de operacionais abrangia também a P.J. e um de seus inspetores, na madrugada de 22 de Março de 1978, bateu na janela do apartamento térreo que estava ocupando, a três quarteirões do Cassino do Estoril, para onde me mudara à cerca de dois meses atrás.

- Abra a porta, rápido! Preciso falar contigo!