PIOR QUE A MORTE
11.1 — Uma passagem para Lisboa...
Corri repetidas vezes a longa via-sacra das agências de viagens. Em todas recebo agora o mesmo conselho:
— Vá imediatamente para o Aeroporto e aguarde lá a primeira oportunidade de embarque. Já não há mais nada a fazer. Acredite que não há...
Em desespero de causa, e lembrado da cordialidade daquele comandante da U.T.A., que me deu a ler a mensagem do presidente Giscard d'Estang, fui hoje ao Consulado da França. Venho agora de lá.
Receberam-me muito bem e o encarregado das Relações Públicas, que fala correctamente o português, declarou-me com evidente sinceridade que compreendia perfeitamente a minha aflição.
— Mas há milhares de casos idênticos, ou ainda mais confrangedores — declarou. — E nós não temos qualquer interferência na ordem de embarque. Dizem-nos que este se processa segundo a cronologia da chegada à aerogare, sob a fiscalização de delegados especiais do alto comissário...
— Quer isso dizer que temos de ir quanto antes para o Aeroporto e aguardar na bicha vários dias?
— Foi o que nos informaram. Mas nem sequer sabemos se acontecerá sempre assim. É uma zona fora da nossa alçada. Aceitamos os passageiros que nos encaminham para os nossos aviões até aos limites extremos da capacidade de transporte. Mais nada!...
— E sabe como vive aquela pobre gente no Aeroporto, durante os dias de espera?
— Tenho passado noites sem dormir, depois de assistir a cenas que nunca mais esquecerei. Mas falou-me na sua noiva e em mais duas senhoras. Para elas, cá fora pode ser pior...
11.2 — Um velho que não quer partir
De volta a casa, deparei com uma dificuldade imprevista: meu pai não quer partir.
— Acho que o homem do Consulado Francês está cheio de razão
— disse ele. — Vocês devem ir já para o Aeroporto...
— Nós devemos ir já para o Aeroporto — rectifiquei sem demora.
— Eu fico — declarou como se afirmasse a coisa mais natural deste mundo.
— Luanda talvez venha a tornar-se inabítável — insinuei.
— Por enquanto ainda cá vive muita gente.
— Quer dizer que julga cobardes os que partem?
— Longe disso. Considero que são sensatos. E as mulheres brancas portuguesas, essas têm obrigação moral de fugir da canalha que anda à solta nesta cidade. Eu fico apenas por um motivo: vivo nesta terra desde que me conheço e já estou velho demais para aventuras de emigração.
— Isso não o vacina contra o perigo...
— Que perigo?! — fez ele com certa amargura. — A quem interessa matar um velho como eu?
— Mataram ontem, em plena Avenida Marginal, o Cruz Salvarinho, que já passava dos setenta anos e gastou a vida inteira a ajudar toda a gente...
— Não insistas, meu filho! — decidiu meu pai em jeito de sentença sem apelação. — Tu, a tua tia, a tua noiva e os teus futuros sogros devem ir ainda hoje para o Aeroporto...
— E o pai fica sozinho?
— Fico com as vossas boas recordações. E não te aflijas que não vou morrer de fome. Conheço os cantos da casa e até me ajeito bem a cozinhar uns petiscos...
— Não brinque comigo, pai! — disparei, de repente, com uma certa irritação. — Não pode considerar-me capaz de o deixar sozinho, em vésperas do que pode ser um banho de sangue em Luanda.
— Menos podes tu mandar na minha vontade.
— Nem pretendo mandar. Mas tenho uma contra-proposta a fazer: vamos pôr as mulheres a salvo e ficamos nós. O pai Calabriz acompanhá-las e eu me encarregarei de lhes enviar tudo o que for possível, de barco ou de avião.
— Entendo que tu também deves partir, até para regularizar a parte civil do teu casamento, em Lisboa.
— Desde que estejamos casados pela Igreja, o oficial do registo civil pode esperar. Só tenho um receio...
— Qual?
— E se a tia Isaura não quiser embarcar sem nós?
— Bem capaz disso é ela — concordou meu pai. E, num tom resoluto, acrescentou:
— Mas ainda sou eu quem manda nesta casa. Vamos falar ao sr. Calabriz!
11.3 — Em casa da Mariluz
Estava toda a gente em casa, mais uma visita: o sr. padre Freitas.
— Ainda bem que o encontro aqui — disse-lhe eu, logo após os cumprimentos. — Quando é que o Senhor Padre nos pode casar?
— Quando quiserem. Nestas circunstâncias, o sr. arcebispo já me disse que dispensa todas as formalidades, uma vez que eu, que os conheço bem a ambos, lhe garanto que não há impedimentos dirimentes. Já conseguiu as passagens para Lisboa?
— Não — respondi eu. — E é mesmo por isso que estamos aqui. Vínhamos dizer ao sr. Calabriz que não existe qualquer possibilidade de seguir para Lisboa sem ser integrado na Ponte Aérea. E, para tanto, é indispensável ir para o Aeroporto, enquanto é tempo, e aguardar lá a nossa vez...
— Nesse caso, vamos! — concordou o dono da casa. — Aqui já se não pode viver. Para além de tudo o mais, há essa malandragem que assalta as casas em pleno dia, para roubar, para matar...
— E para pior... — acrescentou o sr. padre Freitas.
— Pois é desse «pior» que eu tenho mais medo — declarou meu futuro sogro. — Vamos embora para o Aeroporto! Formamos o nosso grupinho, acampamos em qualquer canto e aguardamos...
— Eu e meu pai ficamos.
— Tu ficas?! — reagiu logo a Mariluz.
Menti, explicando que ficava apenas mais uns dias, por exigência do jornal.
— Tenho de fazer a reportagem da independência — balbuciei com um risinho difícil.
— O teu jornal nem sequer está a sair — argumentou a Mariluz.
— Vai sair em 11 de Novembro, todo remodelado e até com um nome diferente...
— Bem — interveio o pai Calabriz, esfregando freneticamente o lóbulo da orelha direita — e o sr. (disse o nome de meu pai, que não escrevo porque já disse que não quero identificar-me neste livro), o senhor também fica para escrever alguma reportagem?...
— Eu fico porque não sei viver fora de Angola — declarou meu pai rudemente. — E meu filho não me quer deixar sozinho. Se o convencerem a ir também, fazem-me um grande favor.
— Pronto! — concluiu o pai Calabriz. — Está o meu futuro genro vergonhosamente apanhado em mentira. Mas eu compreendo a boa intenção... eu compreendo... Bem! Vamos lá definir a situação em termos de gente! O mais importante é pôr as senhoras longe destes bêbedos e drogados, que são agora os donos de Luanda, por obra e graça da cobardia dos capitãezinhos de Abril. Feito isso, a minha opinião é muito clara: somos três homens neste grupo; ou vamos todos ou não vai ninguém!
— Se você põe a questão nestes termos — disse meu pai — está a atirar uma terrível responsabilidade para cima de mim, na hipótese de lhes acontecer algo de mau em Luanda. E, ainda por cima, não está a ser razoável. Convém que alguém acompanhe as senhoras...
— Eu não saio daqui sem o meu marido — interveio a senhora dona Etelvina, que era este o nome da minha futura sogra.
— E eu também não embarco sem o meu noivo — acrescentou a Mariluz.
— Ambas têm carradas de razão — sentenciou meu pai. — Meu filho é que não tem um miligrama dela. Até esqueceu aquelas palavras da Bíblia: «deixarás teu pai e tua mãe...»
— Há que atender às circunstâncias — lembrei eu. — E as circunstâncias...
— As circunstâncias estão a criar nesta cidade um ambiente muito dramático — interrompeu o sr. padre Freitas que, até então, se conservara calado. — Embora não deva aumentar as vossas preocupações, posso informar que esta manhã foram desfloradas por uma turba de pretos drogados, as crianças que saíam de uma escola de primeiro ciclo. O Lar das Irmãs Beneditinas, na rua D. António Barroso, já fechou. Como a Mariluz informou, antes de os senhores chegarem, a Universidade suspendeu as aulas. Isto está cada vez pior para toda a gente. Mas, para as senhoras, as perspectivas são simplesmente horríveis. De momento, o lugar de Luanda mais seguro para elas é o aeroporto. Eu aconselharia a que fossem imediatamente para lá!
— Eu não vou sem o meu marido! — teimou a sr.a d. Etelvina.
— Eu não vou sem o meu noivo! — repetiu a Mariluz.
— E eu não posso deixar meu pai sozinho em Luanda numa ocasião destas — declarei eu, seguro da minha razão.
— Portanto, meu caro senhor — concluiu o sacerdote, dirigindo-se a meu pai —, está nas suas mãos a chave do problema. Até porque talvez também a sua irmã se recuse a deixá-lo sozinho em casa. Assume, pois, uma enorme responsabilidade. E porquê? Porque lhe custa deixar a terra de Angola? A quem não custará?... Meu caro senhor, desde há muito que o conheço e respeito, para não estranhar agora esta espécie de birra...
— Amar esta terra de Angola será uma birra? — defendeu-se meu pai, embora mais quebrado.
— Receio bem que esta Angola já não seja aquela que todos nós amamos — ponderou gravemente o padre Freitas. — Agora parece a pátria do ódio...
— Que vou eu fazer para Lisboa?!...
— Acompanhar a sua família, animar um novo casal nas dificuldades que certamente terá de enfrentar, aguardar o divino sorriso dos seus futuros netos. Não será bastante?...
Caiu entre nós um silêncio difícil. Meu pai permanecia de olhos no chão, com vincos duros no rosto cansado. Mas, finalmente, ergueu a cabeça e disse:
— Por mim, podemos ir para o aeroporto quando quiserem. E assim se decidiu que, no dia seguinte, logo a seguir ao almoço, iríamos todos para o aeroporto.
— Mas creio que há qualquer coisa muito importante, que deve ser feita antes — lembrou a Mariluz.
— Bem sei — fiz eu — o nosso casamento.
— O vosso casamento pode ser também amanhã — afirmou o padre Freitas. — Logo a seguir à missa das oito, na Igreja da Sagrada Família. Combinado?
Eu e a Mariluz fizemos apenas um gesto de assentimento.
11.4 — A cena hedionda
A família Calabriz começou logo a arranjar as malas, enquanto eu e meu pai regressávamos a casa, para fazer o mesmo.
Para todos nós — meu pai, minha tia e eu — havia muita tristeza nessa faina de seleccionar as coisas a levar connosco, ao deixar Angola talvez para sempre. Pela minha parte, sentia-me com mais coragem. Tínhamos tomado uma resolução. Mas que sentiria meu pai?
— Ao menos, não sofrerá o desgosto de ver arriar aqui a Bandeira Portuguesa... — insinuei com os cuidados de cirurgião que aproxima o bisturi de um ponto vital.
— A Bandeira Portuguesa? Caiu em mãos de traidores que a estão a encher de lama... Faz-me um favor, meu filho: não me fales agora em Pátria, Bandeira e coisas assim. Somos apenas gente que foge, para salvar a vida, não é verdade? E desde há muito que eu ouço dobrar a finados por uma Pátria que foi grande, corajosa e original...
— Quantos quilos de bagagem podemos levar no avião? — veio perguntar a tia Isaura. — Não poderíamos levar também alguns móveis?
— Creio bem que não, tia — respondi eu, apiedado da boa mulher, tão ciosa da sua casa. — De resto, não haveria tempo...
— Vê se não te esqueces do meu velho sobretudo — pediu meu pai. — Vai fazer falta no frio da Metrópole.
— Para já — fiz eu contra a melancolia daquela cena — parece que, em Lisboa, estão a alojar os refugiados em bons hotéis...
— Para já... — repetiu meu pai — e depois?...
— Depois, não vamos morrer de fome. Ainda sabemos trabalhar... Mas foi precisamente neste momento que o Santos Gouveia nos entrou pela porta dentro, com um ar de alucinado:
— Anda daí, pá! Vem depressa, que estão a assaltar as casas do bairro onde mora a tua noiva!
Saí de roldão, sem querer ouvir mais nada. Corremos ambos, rua adiante, metemo-nos no primeiro táxi que encontrámos livre e mandámo-lo seguir para o Miramar.
— O mais depressa que possa! — pedi, numa tremenda ansiedade.
À porta da vivenda da família Calabriz, estacionava um jipe militar com um soldado ao volante. E, já dentro do jardim, alguns pretos armados soltavam gargalhadas de grossa malícia, por entre comentários de uma obscenidade primitiva.
— Pronto! — dizia um deles, exibindo a pistola-metralhadora com a sua vaidade de garoto de quinze anos. — A porta já foi dentro. Agora também vão dentro os tampos daquela branca bonita. E, a seguir aos camaradas oficiais, nós também vai gozar...
A frase horrível queimou-me todo por dentro, como se me entrasse pela boca, moldada em ferro em brasa. Ultrapassei o Santos Gouveia, furei através dos pretos e, em dois saltos rápidos, já estava no livíng tão meu conhecido, a olhar, pasmado, para aquela cena hedionda...
Caídos para debaixo da mesa das refeições, jaziam os cadáveres do pai Calabriz e de sua mulher, com
o sangue ainda a borbulhar dos buracos de bala na testa. E sobre o tapete da
sala, donde tinham afastado a mesa redonda, dois militares fardados de
camuflado seguravam rijamente, um de cada lado, a Mariluz, abrindo-lhe
amplamente os braços e as pernas. Seguravam-na assim, em posição de poder ser comodamente violada, apenas
por medida cautelar, já que a moça, com os olhos fechados e as faces pálidas todas molhadas de lágrimas, parecia desfalecida.
Sobre ela, um negro
enorme, completamente nu, com uma espuma lúbrica a ressumar dos beiços grossos, acelerava brutalmente a sua
cópula unilateral de selvagem, urrando que havia de chegar até à quinta vez. E,
já ele estrebuchava nos paroxismos do espasmo, relinchando de prazer, quando eu lhe atei as mãos ao pescoço e
apertei com a raiva toda.
Mas um dos camaradas que se tinha
aproximado por trás de mim, brandiu-me terrível
coronhada na cabeça e desmaiei...
Quando recobrei os sentidos, senti que me
davam uma injecção e adormeci profundamente, num sono que ainda não sei quanto
tempo durou. Só sei que acordei no Aeroporto de Luanda,
deitado num colchão de vento, desses que se usam nas
praias.
Abri os olhos e vi que o dr. Baptista,
velho médico da família, me contava atentamente as pulsações. E, do outro lado,
o vulto curvado, as mãos nervosas, os olhos
inquietos de meu pai...
Decorreu talvez todo um longo minuto,
antes que eu me apercebesse da realidade
envolvente. Depois surgiu no meu espírito o quadro horrível daquela imunda
violação. E soltei um grito estrangulado, em forma
de pergunta:
— A Mariluz?
E reparei (só então...) que também estava
o Santos Gouveia e era ele quem respondia:
— Fizeram daquele
corpo virgem um
campo de competição sexual — contou
ele. — Quando os três militares
que tu viste ficaram completamente
esgotados, chamaram os camaradas que aguardavam no jardim. E a orgia continuou numa incrível sucessão de
crueldades e depravações. Sujeitaram a pobre moça a sevícias
indescritíveis. Houve um que lhe arrancou o bico de um seio à dentada...
— Não podes poupar-me a esses pormenores?!
— berrei para ele, numa indizível angústia.
— Desculpa! — fez ele, compreendendo. —Também ando atordoado.
Já nem
sei o que faço... ,
— E como
soubeste isso tudo que contaste?
— Obrigaram-me a
assistir, amarrado e amordaçado. Nunca imaginei que houvesse homens tão depravados...
— Onde está agora a Mariluz? — atalhei com impaciência.
— No
cemitério do Alto das Cruzes, sepultada ao pé de seus pais.
— No cemitério?!
— Exactamente — confirmou o Santos Gouveia. — Naquela tarde maldita, o último soldado que a possuiu já violou um cadáver. E foi melhor para ela...
— Porque dizes isso?! — bradei com a voz de quem insulta um inimigo.
— Ele tem razão, meu filho — interveio meu pai, quebrando o seu doloroso silêncio. — Como poderia viver a Mariluz, depois de tudo aquilo, talvez grávida de algum dos assassinos de seus pais?...
— Casava comigo! — sentenciei em definitivo.
— Bem sei que tu continuarias disposto a casar com ela — concordou meu pai. — Mas ela é que já não consentiria em ser tua mulher. Talvez caísse na tentação do suicídio; talvez se finasse de puro desgosto ou decidisse entrar para um convento. Mas ou eu não cheguei a conhecê-la bem, ou havia de se considerar para sempre aviltada, profanada, indigna de ser tua mulher... Duvidas?
— Sei lá, pai! Sei lá...
E, voltando-me para o dr. Baptista, pedi humildemente:
— Dê-me qualquer coisa para dormir, senhor doutor...
11.5 — A procura de nada...
Não me lembro de mais nada daquela hora do reencontro com a minha incrível tragédia.
Vagueio agora pelas ruas e praças de Lisboa, desempregado, pre-cocemente envelhecido, apático, inútil.
Comecei a escrever este livro num dealbar de esperança, com a firme intenção de contar imparcialmente os actos preliminares da independência de uma terra amada e declarando ser apenas um homem.
Mas toda a minha esperança morreu, os factos constituiram-se em brutais desmentidos das belas palavras, todas as raízes da minha vida secaram. Que faço eu neste mundo? Ainda serei ao menos um Homem?...
O Santos Gouveia, que arranjou emprego no Diário de Notícias, veio ver-me há dias e trouxe-me alguns apontamentos sobre casos com que deparou, nesta jangada de náufragos, que é agora aquilo que foi a Metrópole de uma grande Nação. Insistiu em que os aproveitasse para uma série de narrativas literárias de episódios da grande tragédia.
O Santos Gouveia deve estar mais louco do que eu, visto que ainda me considera capaz de escrever seja o que for com justo título literário, eu que já não consigo ir além destas lamentações piegas e chatas...
Vou sair de novo, à procura de nada... Mas o pai e a tia Isaura que não se aflijam, se eu tardar bastante a voltar. Coisa ruim não tem perigo. E ainda que me deitasse da ponte do Tejo abaixo, era capaz de não me saber afogar. Nem há automóvel que me atropele. E é pena...
11.6 — Adeus, Angola!
Esta noite não consegui adormecer.
Com os olhos fechados, eu via constantemente, em imagens de uma nitidez cruel, a cena tristíssima do arriar da Bandeira de Portugal, no Palácio dos Governadores Gerais, em Luanda. E pensava em meu pai... Meu pai, que me trata como se eu tivesse voltado a ser o seu menino pequenino... Tudo agora é pequenino, nesta capital de um império abandonado...
Amanhece o dia 11 de Novembro de 1975. Vou optar pela nacionalidade Portuguesa.
Adeus, Angola!...
Lisboa, Novembro de 1975