"Uria Simango - Um homem, Uma causa" é um livro de história da história de
Moçambique. Um início do rescrever há muito esperado. A consistência das provas que o autor apresenta é de tal modo irrefutável, que não só a confirmam também alguns dos instrumentalizados de então, que hoje se dizem arrependidos, como mesmo os seus mandantes, bajuladores e cúmplices o fazem, quando, em depoimentos transcritos nesta obra de Barnabé, não negam os ignominiosos factos que lhes são imputados, limitando-se a hercúleos esforços visando rescrever agora a História desse período, para, em vão, a todo o custo se auto-justificarem!
Trata-se de uma obra apaixonada, onde o autor não esconde a simpatia que nutre pela figura do Rev. Uria Simango e pela causa da sua luta, o que, aos olhos de alguns, pode, de certa forma, ferir o princípio de imparcialidade exigido na pesquisa e relato de fenómenos sociais de natureza histórica. Contudo, nada retira à grandeza da obra. Barnabé Lucas Ncomo apresenta documentos inéditos ou no passado recente, por conveniência, escamoteados, a par de depoimentos de testemunhas credíveis, identificadas e presenciais, sobre a natureza, a evolução e o desfecho da crise que, em momento decisivo, se desenrolou na direcção da Luta Armada de Libertação Nacional de Moçambique. Penetra de forma impressionante nas amálgamas do processo da luta de um povo e da singular descolonização portuguesa; cruza factos de forma jamais vista em pesquisas sobre a história recente de Moçambique e, com segurança, conclui: Os moçambicanos vivem uma "longa mentira", que se perpetua a bem dos interesses de um certo grupo de indivíduos.
Grande é o mérito desta obra pela susceptibilidade de vir a espevitar a memória colectiva dos estudiosos da História Nacional do Moçambique mais recente, de modo a que, no caminho dos Acordos de Roma de 04 de Outubro de 1992, se marche para um genuíno processo de Paz e de Reconciliação Nacional, reconhecendo, sem mentiras nem ódios reacendidos, as páginas trágicas na gesta gloriosa dos Libertadores da Pátria moçambicana.
Benedito Marime