Sou um dos poucos sobreviventes
que continua a tratar a FRELIMO como a teia do mal. Nunca conheci a sua fundação
e apenas apanhei a sua boleia durante uma década, na luta pela Independência
Nacional.
Pelo caminho e por todas as minhas acções, nunca tive qualquer
tipo de remorsos ou arrependimentos. Todavia, fui sim, um veterano de luta para
a independência do meu país, o que me orgulha bastante.
No entanto, nunca me
bati por esse caminho errado tomado pela FRELIMO de hoje, pois sempre combati
por um Moçambique Independente e Democrático.
Muito novo, apenas com os meus
15 anos de idade incompletos, abandonei a minha terra natal e juntei-me ao
movimento auto-denominado de libertação, sem medir esforços nem olhar às
consequências que pudessem surgir.
Logo de início comecei por passar enormes
dificuldades e submeter-me a sacrifícios. Ora desde percorrer quilómetros e
quilómetros a pé, até atravessar desertos desprovido de alimentação e água,
ainda presenciei a morte por desidratação e por falta de alimentação de alguns
camaradas.
Pessoalmente, derramei o meu
sangue e trago ainda no corpo, como prova disso, as marcas de uma bala, que me
entrou pelas costas e saiu pelo ombro. Atravessei vários rios a nadar com águas
com correntes e fundas e presenciei o arrastamento de camaradas nessas correntes
até desaparecerem definitivamente nas suas profundezas, tendo alguns sido
devorados por crocodilos, outros engolidos vivos por jibóias ou mordidos por
serpentes venenosas.
Neste meu percurso cruzei-me com
leões, leopardos e hienas, e assisti às mortes de companheiros devorados por
estes animais selvagens. Presenciei cenas horripilantes de camaradas
especializados em armadilhas e sabotagem. A mais pequena falha na colocação em
estradas e picadas de minas anti-tanque, tornava-se letal, explodindo as minas
nas suas próprias mãos e causando a projecção dos seus corpos despedaçados a
grandes distâncias. Uma cena horrível de se ver, inclusivé porque muitas vezes
ficava a sua carne espalhada pelas árvores.
Escalei várias montanhas das
províncias da Zambézia e de Tete, correndo de um lado para o outro, procurando
um esconderijo dentro de um buraco onde nos mantinhamos por vários dias e
noites, com o intuito de escapar a perseguições de tropas inimigas, ou a
bombardeamentos diurnos e nocturnos de Fiats, e outros caças de guerra além dos
helicópteros da Força Aérea Portuguesa. Assisti a bombardeamentos maciços de
caças Rodesianos e Sul-africanos na era do Ian Smith e do Apartheid nas chamadas
áreas sob controlo da FRELIMO, vi camaradas sob meu comando tombarem nestes
mesmos bombardeamentos e em combates pela causa da Independência de Moçambique.
Tristemente, até hoje estes camaradas nunca foram
reconhecidos.