Jornal
Zambeze, coluna «Diagnosticando Moçambique» – por Yá-qub Sibindy*
26.02.2004
A ESTRATÉGIA OCULTA DE JOAQUIM CHISSANO
As fábricas, universidade, hospitais eram geridos a
partir de conhecimentos científicos adquiridos nas zonas libertadas, Nachingweia
e nas famosas experiências dos dez anos de guerra contra o colonialismo
português. Aconselharam a Samora Machel a tomar decisões que chamaram de «salto
qualitativo», quer dizer, da economia colonial devia saltar para economia
socialista. O socialismo científico é a consequência da evolução da economia
capitalista. Como um grupo sério e fiel ao seu chefe aconselha-o a tomar tais
decisões tão absurdas e descabidas?
Depois da morte de Samora Machel, quase todos os
membros do bureau político da Frelimo da era comunista e velhos colegas de
Samora, assaltaram os bancos, espoliaram as empresas do Estado, tomando-as para
si e seus parentes, implantando no País um capitalismo selvagem onde apenas
eles aparecem como empresários de sucesso, formando-se à custa da influência do
poder político que detêm, assim nasce
uma classe de ricos com muito dinheiro de um lado e de outro está o povo que vive na mais
absoluta miséria.
Esses ricos nascem das gritantes fraudes económicas
como é o caso do ex-BCM e que indivíduos bem determinados, ligados ao poder,
simularam roubo e o estado, apressadamente, o repõe e mais tarde aparecem
engalanados com um novo banco-BIM e seus executores em vez de serem
penalizados, foram, escandalosamente promovidos! Conhecemos os devedores do Banco
Austral que com o dinheiro retirado em forma de dívida construíram mansões,
compraram carros de luxo, fizeram empresas e a tentativa de cobrança custou a
vida a António Siba-Siba Macuácua.
Porém, os mesmos espoliadores do erário público
declaram, publicamente, que se enriqueceram à base de uma criação de patos e de
boca cheia vangloriam-se da sua imaginação e apelam aos pobres para não terem
medo de ficarem ricos e seguir-lhes o exemplo da criação das aves para também
se tornarem ricos como eles hoje o são. Se a teoria da criação de patos fosse
verdadeira a maior parte dos moçambicanos será rica e ninguém estaria hoje a
viver debaixo da linha limite da pobreza absoluta e nem precisaríamos do
famigerado programa PARPA, que não passa de uma mentira e diversão dos pobres.
O grupo de Chissano aconselhou Samora Machel a adoptar
o socialismo, a criar aldeias comunais, a instituir lojas do povo, forçar as
pessoas a trabalharem em machambas do povo, a introduzir guias de marcha para
as pessoas poderem se movimentar, a sonhar com a construção da suposta cidade
de Unango. Foram eles mesmos que conceberam e levaram a acabo a famigerada
«operação produção» que desterrou muitos cidadãos deste país.
A grande parte dos desterrados nunca mais voltou para
os seus lugares de origem, tendo acabado nas bocas dos leões e outros animais
ferozes. Outros ainda sucumbiram de fome nas extensas matas do Niassa, Cabo
delgado e Nampula. O cérebro desta macabra operação, Armando Guebuza, hoje
apresenta-se às suas vítimas como candidato a presidente da República,
pedindo-lhes votos e prometendo-lhes um futuro melhor que ele próprio
pontapeou, esmagou, desprezou e escangalhou.
Em Dezembro de 1975, rebentou a primeira tentativa de
golpe do estado contra a Samora Machel, partindo do quartel de Boane, devido ao
desprezo que vinham praticando em
relação aos combatentes da luta de libertação nacional, chamando-os javalis.
Alberto Chipande, então ministro da Defesa, traiu os
revoltosos, pois que após esses terem tomado os paióis, simulou também ser
revoltoso, apelando a tréguas para permitir aproximar-se, acompanhado de forças
fiéis a Samora Machel, fim de desferirem
um golpe fatal contra ao regime. Isso dito em língua makonde, inspirou
confiança nos revoltosos. Aproximou-se junto deles, desarmando, capturando-os e
conduzidos à prisão onde continuam sem julgamento. Muitos deles de lá
desapareceram para sempre sem nunca terem sido julgados por nenhum tribunal
instituído.
Francisco Langa, então chefe do departamento de
transportes no Ministério de defesa Nacional e membro do CC da Frelimo, foi
vítimas de falsas acusações e de torturas psicológicas, acabando por
suicidar-se por meio de uma pistola, na sua própria residência.
Fernandes Baptista, com patente de coronel e chefe da
direcção de reconhecimento no estado Maior General das Forças Armadas, agente
de segurança pessoal do presidente Samora Machel desde longa data, foi acusado,
secretamente, pelos extremistas de ser um indivíduo perigoso para a nação. Foi
preso juntamente com o coronel Jossias Rensamo Dhlakama, chefe da direcção dos auto blindados, acusado, em comício popular, de instruir
motoristas militares para acidentarem carros civis. Ambos desapareceram para
sempre, sem deixar nenhum rasto nas cadeias da Frelimo.
Hoje, Armando Guebuza, pede aos familiares das suas
vítimas que votem nele antes de a Frelimo indicar onde os seus entes foram
enterrados para poderem realizar um funeral condigno, dentro do espírito de
reconciliação nacional de que tanto andam a falar.
O signatário deste artigo foi chefe do departamento de
contabilidade do Ministério da Defesa nacional, com outros chefes que o
antecederam forma presos e desafectados do exército, acusados de corrupção sem
provas em juízo. Foi conduzido para Sitatonga II a fim de ser fuzilado durante
os combates.
A nível externo, o grupo de Chissano traçou uma
estratégia que consistia em expulsar os agentes económicos e colonos que
poderiam garantir a estabilidade económica, desencadeando a famigerada operação
24/20 a fim de provocar fome e consequentemente descontentamento popular.
Em 1977, Samora já governava o país com a mão de
ferro. Não havia comida suficiente no mercado e tentava suavizar as longas
bichas como se fosse a «organização dum povo disciplinado». Por um lado, a
guerrilha da Renamo não escolhia seus alvos, queimava carros civis
confundindo-os com blindados das FPLM, queimava palhotas da população,
confundindo-as com casernas do exercito; mulheres, crianças, velhos, eram
emboscados e mortos, confundidos com a tropa da Frelimo.
Este tipo de guerra provocou muitos deslocados que
foram para as cidades e vilas à procura de abrigo. A estratégia em jogo era
provocar o descontentamento, despopularizar a figura de Samora Machel, e
sentenciá-lo como o maior culpado pela falta de produtos para o abastecimento
das populações e acelerar a sua queda do poder – a velha teoria de separar o
peixe da água.
Logo após a independência, assistiu-se a expulsão
massiva daqueles colonos que batiam com o pé no chão jurando que amais
abandonariam Moçambique, durante o governo de transição, queriam permanecer em
Moçambique tal como os portugueses o fizeram na história do Brasil. A expulsão
dos colonos visava reforçar o movimento da guerrilha anti-Samora Machel na
Rodésia do Sul e Portugal assim como no resto dos países que deram retaguarda à
Renamo.
Diziam a Samora que os ex-colonos eram perigosos para
a política da economia socialista e de revolução, assim, Samora imbuído de
espirito de confiança com os seus camaradas exarava despachos desastrosos
favoráveis as desígnio dos seus opositores internos.
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Candidato à
Presidência da República (Moçambique)