Adorei o seu site. Gostei tanto de rever o amor
pela ilha que não pude deixar
de escrever-lhe este rascunho em anexo.
Um abraço
Eduardo White
Com a emoção de amores iguais aqui
publico o escrito
Fernando Gil
A ILHA
Ao site www.macua.com
Um pássaro revolve as asas por dentro do azul
esbatido do mar. Traça a casa líquida que às estrelas, certamente, o seu piar
vai dar. A história é-lhe longe, são formas entrecortadas sobre a espuma
amarelecida dos navios cargueiros, que beijam lentos o horizonte e movem
silenciosos outras cargas. A ilha suspende-se entre o vento e um negro
reluzente cruza a praia com os olhos lavrando as areias. Não sei se reza, mas
que pensa é mais que evidente. Testemunham os brancos cabelos e as mazelas no
caqui dos desbotados calções. Cheira a marisco a brisa que inalam as narinas
dentro desta paisagem e a cânfora, alguma, das memórias que ela desenha. As
redes que sobre o chão encontramos estendidas, são cartas oceânicas que escreve
o fundo do mar. Do texto salta a prata dos peixes, o verde amaciado das algas e
uma estrela imóvel que explode por dentro a terra toda a girar. Claro que a
areia as grava. Nossa forma de escrita mais milenar que a geringonça mágica de
Gutemberg, porque Deus descansa aqui ao cair da noite. Silenciosamente medita
por entre as lágrimas das tartarugas que junto a ele vêm desovar ou de um negro
macúa, estirado sobre o desgosto, a chorar um amor que por teimosia não quer
morrer. Vão longe a navegar os versos da miséria que do Luís de Camões a história
quis esconder. Os ducados que nunca teve, nem para voltar nem para morrer,
servem outros democráticos reinados e engordam a mesa dos que ainda julgam que
poeta bom só miserável pode escrever. Lêem e estudam o que os poemas não dizem,
sábios doutores esses universos etários, e nem com verdade podem, entretanto,
entender o que eles explodem e dóiem e fazem crescer no coração esquecido dos
seus autores. Por isso a Ilha é calma. Tonta de tanta quietude e talvez será o
que querem dizer as faces delicadas das suas negras, as mãos talhadas dos seus
ourives e os olhos aluadores e viajantes das suas crianças. Por isso o meu
velho Camões, macúa zarolho só por ter visto sempre demais, terá talvez aqui amado seu negro, seus humanos
adamastores e com eles provado essa fatalidade incontornável, de ser poeta sem
ilha na ilha extensa dos que aqui, até hoje, não sabem ler.
Eduardo
White
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